A FUGA

Beatriz correu até a porta.

Olhou pelo olho mágico: o corredor estava vazio.

Avançou até o fim do corredor com passos rápidos e silenciosos.

Lá, avistou um carrinho de camareira com toalhas e produtos de limpeza.

Oportunidade perfeita.

Com o coração na garganta, esgueirou-se até o carrinho, levantou discretamente as toalhas e enfiou-se ali, junto com a bolsa e a pasta.

Poucos minutos depois, a camareira surgiu, empurrando o carrinho pelo corredor.

Beatriz permaneceu imóvel, mal respirando.

"Calma... Fique calma..."

O carrinho seguiu até o último andar, parando diante de uma porta sinalizada como Suíte Presidencial.

A camareira abriu a porta com o cartão magnético e empurrou o carrinho para dentro.

Assim que ela se virou para organizar as toalhas, Beatriz deslizou para fora, escondendo-se atrás da cortina pesada da sala da suíte.

Seu coração batia como um tambor.

"Agora estou dentro da suíte. Preciso pensar no próximo passo. Não posso ser vista."

Com a pasta apertada contra o peito e a adrenalina a mil, Beatriz sabia que estava no meio de uma corrida contra o tempo.

O relógio na parede da Suíte Presidencial marcava pouco depois das 21h30.

Escondida atrás da pesada cortina da sala, Beatriz mantinha o corpo encolhido, o coração disparado.

"Preciso pensar. Preciso agir."

Segurava a pasta com força, como se aquilo fosse seu último fio de esperança.

A respiração vinha em arfadas curtas e o suor gelava suas mãos.

"Preciso ligar para os meus pais. Preciso avisar a mamãe. Preciso sair daqui com segurança."

Com cuidado, abriu a bolsa de mão.

"Cadê o celular?"

Revirou a bolsa com movimentos tensos, o pânico crescendo a cada segundo.

"Não... não, não, não!"

O celular não estava ali.

"Meu Deus! Deixei em cima da cama! Como eu pude esquecer?"

A cabeça rodou.

Sem o celular, não tinha como avisar ninguém.

Não tinha como pedir ajuda.

Estava sozinha, escondida num quarto que não era seu, com documentos que poderiam denunciar uma rede de criminosos perigosos.

"Se eles me pegarem, estou perdida."

Mordeu os lábios para não chorar alto.

Precisava manter a calma.

Mas o tempo parecia arrastar-se, cada minuto um martírio.

As luzes da cidade refletiam nos vidros da suíte, criando sombras que dançavam pelas paredes.

"Não posso sair daqui. Não agora. Não sem um plano."

As horas se arrastaram.

Beatriz permanecia em silêncio, abraçada à pasta, sem forças nem coragem para se mover.

O relógio marcava 22h03 quando o som da porta se destrancando fez seu corpo inteiro estremecer.

"Meu Deus... é um deles? Não, por favor..."

Por entre a fresta da cortina, viu a porta se abrir.

Um homem alto, de postura imponente, entrou carregando uma maleta de couro.

Vestia um terno impecável e tinha um olhar exausto.

Derick Langford.

Ele parou no centro da sala, largou a maleta sobre a poltrona e começou a afrouxar a gravata.

Foi nesse momento que Beatriz, vencida pelo desespero, decidiu que não poderia mais se esconder.

"É agora. Se eu não falar, ele vai me encontrar e vai chamar a segurança."

Engoliu em seco e, com passos trêmulos, saiu de trás da cortina.

O homem se virou bruscamente ao ouvir o leve ruído.

Seus olhos se arregalaram ao ver a jovem ali, pálida, com o rosto marcado pelo medo, sentada agora numa das poltronas da sala.

— Quem é você? — a voz grave e autoritária quebrou o silêncio. — O que está fazendo no meu quarto?

Beatriz ergueu as mãos, suplicante.

— Por favor... não grite. Não chame ninguém. Pelo amor de Deus, não me entregue.

Derick franziu o cenho, perplexo.

— Está me pedindo para não chamar a segurança? Você está no meu quarto sem permissão. Diga quem é você, agora.

Lágrimas deslizaram pelo rosto de Beatriz.

— Eu... eu não sou ladra, não vim aqui para roubar nada. Pelo amor de Deus, me escute.

Eu sou Beatriz Andrade, brasileira. Eu vim para Los Angeles enganada. Estou fugindo de uma rede de tráfico humano.

Eles tentaram me atrair para cá com uma falsa proposta de intercâmbio. Descobri documentos que comprovam isso. Eu tenho provas. — levantou a pasta, tremendo.

Derick estreitou os olhos.

— Você tem provas?

— Sim... — soluçou. — Mas eu cometi um erro... meu celular ficou no quarto delas. Não tenho como falar com meus pais.

Eu não posso voltar. Se eu voltar... eles vão me destruir. Eu sei demais.

Por favor... eu só preciso de ajuda. Não tenho para onde ir.

O homem passou a mão pelos cabelos, claramente abalado.

Estava cansado, emocionalmente, exaurido desde a morte de sua esposa.

Mas aquele olhar desesperado, genuíno, diante dele, não podia ser ignorado.

— Está dizendo a verdade? — perguntou, com um olhar penetrante.

Beatriz respirou fundo, encarando-o com os olhos marejados.

— Estou. Eu juro por tudo o que tenho de mais sagrado.

Por favor, me ajude. Só preciso de um lugar seguro para pensar no que fazer.

Derick ficou em silêncio por um longo instante.

Podia enxergar nos olhos daquela jovem que ela não estava mentindo.

"Maldição... justo eu, no meu último dia aqui. Mas se for verdade... não posso ignorar."

Respirou fundo e apontou para o sofá.

— Sente-se. Não faça nenhum movimento brusco. Eu vou ouvir o que você tem a dizer.

Mas se isso for um golpe, saiba que não tolero mentiras.

Beatriz desabou no sofá, chorando de alívio.

— Obrigada... obrigada... o senhor é a minha única esperança.

E ali, naquela sala de luxo, sob o olhar desconfiado de um homem que já conhecia a dor, nascia a primeira centelha de confiança entre dois desconhecidos marcados por perdas e medos.

O silêncio pesava na sala da suíte.

Derick permanecia de pé, com os braços cruzados, os olhos estreitos observando a jovem que tremia no sofá.

A história que ela contara parecia absurda — mas o desespero nos olhos dela não deixava dúvidas.

Beatriz respirou fundo, enxugou as lágrimas e abriu a bolsa.

— Eu vou mostrar quem eu sou... — disse com a voz embargada. — Não tenho nada a esconder.

Retirou o passaporte verdadeiro, a identidade brasileira e, com mãos trêmulas, estendeu para ele.

— Meu nome é Beatriz Andrade. Minha mãe é promotora de justiça. Meu pai é juiz. Não sou criminosa. Fui enganada.

Derick pegou os documentos e os examinou com atenção.

— São autênticos. — murmurou. — Você tem família poderosa... então por que não pediu ajuda assim que chegou?

Beatriz mordeu os lábios.

— Porque eu só descobri a verdade há pouco. Esqueci meu celular no quarto delas... não tenho como avisar meus pais.

E... — abriu a pasta e mostrou os documentos —achei isso.

Derick se aproximou, o cenho franzido.

Folheou a pasta lentamente.

A cada nova página, sua expressão se fechava mais.

— Contratos de transporte... documentos falsos... nomes. — murmurou.

Beatriz apontou para uma das páginas.

— Veja aqui... nomes de pessoas importantes. Nomes que podem estar comprando meninas.

Eu não sei até onde isso vai. Não sei em quem posso confiar.

Derick fechou os olhos por um instante.

Seu senso de justiça gritava para que ele chamasse a polícia imediatamente.

Pegou o celular e começou a digitar.

— Vou chamar um inspetor da polícia para vir aqui. Vamos resolver isso da maneira certa.

— Não! — exclamou Beatriz, quase em pânico. — Por favor... me ouça.

E se a polícia estiver envolvida? E se esses nomes poderosos fizerem parte disso?

Eu não sei quem é confiável... e tem mais.

Tem mais duas jovens que vieram comigo. Duas meninas humildes. São babás.

Elas desceram para jantar com a Dani. E eu tenho certeza que vão ser traficadas. Elas não têm ninguém.

Se ela foi capaz de trair a amiga de infância, minha mãe, o que ela não fará com elas?

Derick parou, encarando-a.

Podia sentir o peso das palavras dela. O brilho de medo genuíno nos olhos da jovem.

Respirou fundo, o celular ainda na mão.

— Tem razão. — disse, com um tom mais baixo. — Isso aqui é grande.

Se esses nomes forem mesmo reais... envolver a polícia agora pode colocar tudo a perder.

Cancelou a chamada que estava prestes a fazer.

Beatriz apertou os olhos, exausta.

— Eu só quero ajudar as meninas. Eu... pelo menos tenho meus pais. Elas não.

Se algo acontecer com elas, eu nunca vou me perdoar.

Derick passou a mão pelos cabelos, sentindo um peso enorme sobre os ombros.

"No que fui me meter? E justo agora, quando só queria voltar para minha vida no rancho."

Mas não tinha como ignorar.

Encarou Beatriz com um olhar mais suave.

— Escute... primeiro, você está segura aqui.

Eu não vou deixar que ninguém toque em você.

Mas precisamos pensar com cuidado. Se essas meninas ainda estão no jantar, talvez ainda possamos agir.

Beatriz assentiu, as lágrimas voltando.

— Por favor, me ajude. Não por mim. Por elas.

Derick suspirou.

— Está bem. Vamos agir com inteligência.

Primeiro, você fica aqui. Não sai por nada. Eu vou descer discretamente e ver o que está acontecendo com essas garotas.

E vou ver se consigo alguém de confiança para nos ajudar sem levantar suspeitas.

Beatriz segurou a mão dele com força.

— Obrigada... obrigada por acreditar em mim.

Ele apertou levemente a mão dela.

— Não é questão de acreditar ou não. É questão de fazer o que é certo.

Agora... fique aqui. Prometa.

— Eu prometo.

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