Um silêncio sepulcral dominava todo o ambiente, nem mesmo o habitual chirriar dos grilos aquele horário se fazia presente. Uma brisa fria entrava por onde ficava a porta da cozinha, fazendo balançar, vez ou outra, a cortina floral da janela acima da pia. Silas estava bem, dormia no sofá na sala, apesar do chute não aparentou nenhuma fratura. Pela manhã eu o levaria ao veterinário.
A mão esquerda de Gerard segurava meu queixo afim de manter minha cabeça erguida enquanto a direita limpava com algodão e soro fisiológico o sangue já seco do meu nariz, seu toque gélido me servia como anestésico para a dor que ameaçava chegar. Me permiti admirá-lo: seus olhos de onix, tão tentadoramente obscuros como um precipício onde eu facilmente me deixaria cair. Seu maxilar bem definido, seus lábios carnudos tingidos de um rosa pálido, me demorei tempo demais neles, imaginando ser tomada pelos mesmos lábios que pouco antes haviam tirado a vida do homem que estava estirado no chã