P.D.V de Terceira pessoa
— Kaiden, querido — disse Stella Sullivan, pousando uma das mãos no braço dele como se fosse algo rotineiro. Seus olhos então se voltaram para Kayla com um ar inquisidor. — Veio buscar mais uma admiradora? Kaiden suspirou, retirando delicadamente a mão dela do seu braço. — Stella, essa é a Kayla. Minha irmã. — Irmã? — Stella piscou, tentando disfarçar o choque. — Nunca mencionou nada disso... — Longa história — ele respondeu com naturalidade. Stella encarou Kayla, como quem avalia uma adversária. — Hm. Veio visitar ou vai mesmo estudar aqui? — Estou conhecendo o lugar — Kayla respondeu com calma, mantendo o olhar firme. — Pode ser que eu comece em breve. — Ah, espero que sim. — Stella disse com um sorriso que não alcançou os olhos. — Vai descobrir rápido que essa escola tem seus... padrões. Kayla sustentou o olhar, tranquila. — Não se preocupe. Me adapto fácil. Kaiden não conteve um sorriso e interrompeu antes que a conversa desandasse. — Stella, a gente precisa ir. Vou mostrar a escola, antes da minha primeira aula. Depois conversamos. — Claro — ela respondeu, dando um último olhar de cima a baixo em Kayla antes de se afastar com elegância ensaiada. Assim que ficaram sozinhos, Kayla olhou para o irmão, divertida. — É sempre assim? Kaiden assentiu. — Com algumas pessoas, sim. E pra constar, eu não gosto desse tipo. Stella é o tipo de garota que acha que pode tudo só porque é bonita e tem sobrenome. Mas ela já ficou com metade dos caras do colégio e ainda acha que isso impressiona alguém. Kayla deu uma risada curta. — Você parece bem decidido. — Eu sou. E se você entrar aqui, pode contar comigo. Não vou deixar ninguém te incomodar. Ela sorriu, sentindo-se acolhida. Pela primeira vez desde que saíra do orfanato, algo dentro dela começava a encontrar lugar. Depois de percorrer alguns dos corredores principais da St. Joseph High School, guiada por Kaiden, Kayla teve uma boa noção do ambiente. A arquitetura elegante, os laboratórios modernos e a biblioteca ampla chamaram sua atenção — especialmente as seções de ciências. Era tudo diferente do colégio interno, mais vibrante, mais conectado com o mundo fora dos muros. Enquanto observava os grupos de alunos conversando pelos corredores, Kayla tentava disfarçar a ansiedade com expressões neutras. Kaiden, por outro lado, parecia perfeitamente à vontade, cumprimentando colegas e professores com acenos casuais. — Pronta pra conhecer o velho carrancudo da direção? — ele brincou, abrindo a porta da ala administrativa. — Desde que ele não me faça uma prova surpresa — ela respondeu com um sorriso contido. Ao entrarem, encontraram Richard Prescott já aguardando na sala do diretor. Elegante como sempre, ele estava em pé ao lado da secretária, que organizava os documentos sobre a mesa de atendimento. O diretor, um homem de postura impecável, levantou-se assim que viu Kayla. — Ah, senhor Prescott. E esta deve ser sua filha? Richard assentiu com um leve sorriso. — Sim. Esta é Kayla. — Seja muito bem-vinda à St. Joseph High School, senhorita Prescott, eu sou o diretor John Myers — disse o diretor com voz calorosa, estendendo a mão para ela. — Obrigada e prazer Sr. Myers — respondeu Kayla, apertando a mão dele com firmeza, tentando disfarçar o nervosismo. O diretor indicou que se sentassem e pegou os documentos que Richard havia trazido. — Já dei uma olhada nos registros enviados pelo colégio interno. Sua filha demonstrou um desempenho absolutamente notável, especialmente em ciências biológicas. É raro vermos um histórico tão consistente. Richard assentiu, com um toque de admiração no olhar. — Ainda estamos nos conhecendo, mas tudo que vi até agora me faz acreditar que ela tem um potencial extraordinário. O diretor sorriu, visivelmente impressionado. — Bom, senhorita Prescott, sua matrícula está aprovada. Você começará amanhã. Faremos uma breve adaptação nos primeiros dias, mas tenho certeza de que se sairá muito bem. Kayla assentiu, surpresa com a facilidade do processo, mas ao mesmo tempo satisfeita. Era tudo tão novo, mas havia algo empolgante naquele novo início. Enquanto saíam da sala, Richard voltou-se para ela. — A St. Joseph exige excelência. Mas se tem alguém preparada pra isso, é você. Kayla apenas sorriu, ainda digerindo tudo. Amanhã, uma nova etapa de sua vida começaria. E algo dentro dela dizia que o que estava por vir mudaria tudo. O sol mal havia surgido no céu quando Kayla despertou. A ansiedade e o entusiasmo se misturavam em seu peito como um turbilhão. Ela se levantou cedo, escolheu uma roupa discreta, mas que ainda assim realçava sua beleza natural — uma saia plissada azul-marinho e camisa branca com blazer do uniforme da St. Joseph High School. Richard a esperava na sala de estar, tomando café enquanto lia algo no tablet. Quando a viu, sorriu, fez o gesto para que ela tomasse café, após o café da manhã, se levantou para acompanhá-la até o carro. Kaiden já estava à espera, encostado no veículo, ajeitando a mochila nos ombros com o ar despreocupado de sempre. — Pronta pra enfrentar os leões? — ele provocou, abrindo a porta do carro para ela. Kayla apenas revirou os olhos, mas sorriu. A chegada à escola foi tranquila. O motorista parou no mesmo local de sempre. Kaiden indicou o caminho até a entrada principal e desejou boa sorte antes de seguir para o prédio dos veteranos. Kayla respirou fundo e atravessou os portões da St. Joseph. Assim que entrou, os olhares começaram a se voltar em sua direção. Ela andava com postura ereta, olhar firme, mas o coração acelerado. Poucos minutos depois, enquanto procurava o painel com as salas, uma garota se aproximou. Tinha cabelos ruivos intensos e encaracolados, olhos verdes puxados e cheios de brilho, e uma energia vibrante que contrastava com o ambiente um tanto contido da escola. — Você deve ser a aluna nova — disse ela, sorrindo com naturalidade. — St. Joseph inteira só fala disso desde ontem. Sou Ivy Rowen. — Kayla Prescott — respondeu, um pouco surpresa pela abordagem direta. — Prescott, hein? Nome de gente importante. Mas você não parece arrogante, isso é um alívio — brincou Ivy, dando uma piscadela. Kayla soltou uma risada sincera. Algo em Ivy era diferente. Uma espontaneidade que quebrava o gelo, uma presença que parecia impossível ignorar. — Você já sabe sua sala? — perguntou Ivy. — Ainda não, estou tentando entender esse quadro. — Vem, eu te ajudo. A gente vê isso rápido e depois eu te apresento a alguns sobreviventes do nosso grupinho. Pode confiar. Kayla a seguiu, aliviada por encontrar alguém tão amigável e sincera, Ivy transmitia confiabilidade. O que Kayla valorizava muito. Em breve, sua vida e a vida de Ivy seriam ligadas por algo forte e muito especial. Foi anunciado um evento, a lua cheia de sangue, algo que ocorre a cada cem anos. E ocorreria em apenas duas semanas a contar dali. E em breve muitas coisas mudariam.P.D.V de Kayla Prescott Nunca pensei que aquele frio na barriga que senti ao acordar pudesse durar tanto tempo. Desde o momento em que abri os olhos, ainda antes do sol nascer, eu sabia que esse dia seria diferente. Me olhei no espelho com calma — e confesso que nem reconheci completamente o reflexo. Era estranho pensar que aquela garota, arrumada no uniforme impecável da St. Joseph High School, agora carregava o sobrenome Prescott. Um nome que, até poucos dias atrás, eu nunca tinha ouvido na vida.Desci as escadas da mansão ainda tentando colocar ordem nos meus pensamentos. Richard me aguardava com uma xícara de café e um “bom dia” gentil. Kaiden, claro, já me esperava no carro com seu jeito meio sarcástico e descomplicado. Ele me tranquilizou mais com um olhar cúmplice do que com palavras.Assim que atravessei os portões da St. Joseph, senti os olhos sobre mim. O sussurro de vozes, os olhares curiosos e julgadores — era impossível ignorar. Fingi costume. Mantive a postura ereta, pa
P.D.V de Kaiden.O refeitório fervilhava com vozes, risadas e o tilintar de bandejas. Eu estava com meu grupo habitual — os populares, como todos os outros insistiam em chamar — mas minha mente estava em outro lugar. Ou melhor... em uma só pessoa.Ela entrou como um raio de luz em meio à rotina monótona do meu dia. Kayla.Por um instante, o mundo ao redor se calou. Ela caminhava com aquele jeito quase inocente, olhando ao redor com curiosidade genuína. Seu cabelo brilhava sob a luz do teto, com aquele tom loiro acobreado tão raro, tão dela. Os olhos azuis límpidos varriam o ambiente, atentos, mas discretos. Tinha uma aura diferente. Única.Meu coração bateu mais rápido, e não pela primeira vez desde que a vi naquele dia no jardim, na foto enviada por engano. E agora, ali, em carne e osso, Kayla era ainda mais hipnotizante.Senti algo se retorcer dentro de mim. Um desejo bruto, primitivo, misturado com um instinto feroz de protegê-la. Cada olhar que outro garoto lançava em sua direção
Richard observava o céu nublado de sua propriedade em New Haven, a mente inquieta com os últimos acontecimentos. Sua filha, Kayla Prescott, finalmente havia sido encontrada. Durante dezesseis anos, ela crescera longe dos olhos da família, perdida após um episódio trágico que até hoje ele não compreendia completamente, apesar de sempre continuar investigando.Criada em um orfanato católico, Kayla jamais soubera da verdade sobre suas origens. E agora, aos dezesseis anos, retornava para o lar dos Prescott, sem imaginar a extensão do legado que carregava.Richard observava os filhos com atenção. Ainda que Kayla fosse uma recém-chegada à mansão Prescott, ele já sentia o peso de sua presença como se sempre tivesse feito parte daquele lar. Mas a verdade era mais dura: ele só soube do paradeiro da filha quando ela completou quinze anos. Durante todo esse tempo, ela vivera em um orfanato católico, sem saber nada sobre sua verdadeira origem. Apenas após uma investigação meticulosa e discreta fo
"Era escuridão. Mas eu sentia."O mundo era quente e frio ao mesmo tempo. Cheiros fortes — terra, sangue, fumaça. Sons cortavam o ar como lâminas: gritos, rosnados, trovões. Tudo era barulho demais. Tudo era muito.Meus olhos mal enxergavam, mas a luz piscava e doía. Algo brilhava no alto, uma esfera vermelha no céu. Era assustadora, mas também hipnotizante. Eu chorava. Meus pulmões pequenos tremiam de tanto esforço, e ainda assim, algo em mim resistia.Havia braços em volta de mim. Um toque trêmulo, apertado, mas reconfortante. Pele quente, o coração batendo rápido demais. Um cheiro doce, familiar, como se aquela pessoa me pertencesse mesmo que eu não soubesse por quê. Um sentimento profundo — segurança. Amor puro. Dor também.Essa pessoa falava. A voz era suave, mas cheia de lágrimas. Cada palavra parecia embalada com uma promessa. Eu não entendia, mas minha alma ouvia.Luzes dançavam ao nosso redor. Elas vibravam em meu corpo. Eu sentia meu peito quente, como se algo antigo estives
Depois de um dia surpreendentemente tranquilo na escola, eu estava de volta à mansão. As vozes da minha nova rotina ecoavam baixas pelos corredores, e por um breve instante me permiti acreditar que as coisas talvez estivessem se encaixando. Talvez, por fim, alguma estabilidade estivesse começando a surgir.Mas aquele pensamento durou pouco.A governanta Lucille me avisou que Richard queria falar comigo no escritório. Um arrepio atravessou minha espinha. A formalidade daquilo, o jeito como foi dito, como se fosse algo sério. Me tirou da calmaria.O escritório dele era sóbrio, cheio de livros antigos, móveis de madeira escura e cheiro de couro envelhecido. Richard estava encostado na escrivaninha, olhando pela janela quando entrei. Só se virou quando fechei a porta atrás de mim.— Kayla — disse com a voz baixa, quase hesitante. — Sente-se, por favor.Obedeci. Esperei em silêncio, sentindo meu coração acelerar devagar.— Queria conversar com você sobre a sua origem — ele começou, cruzand
P.D.V de KaidenA casa estava mais silenciosa do que o normal quando cheguei. Um silêncio espesso carregado. Como se algo no ar estivesse esperando para acontecer.Mal fechei a porta atrás de mim, Gustav, nosso mordomo, apareceu no corredor com o semblante tenso.— Seu pai pediu pra você ir até o escritório assim que chegasse.Assenti, engolindo o nó que começava a se formar no estômago. O corredor até o escritório parecia mais longo do que nunca. Cada passo ressoava pesado, como se meu corpo já soubesse que algo importante estava prestes a acontecer — mesmo que minha mente tentasse negar.Bati na porta uma vez.— Entre — disse a voz grave do meu pai.Abri. Kayla já estava lá dentro.Meu peito apertou só de vê-la. Sentada na poltrona ao lado da mesa, os olhos arregalados, como se lutasse para entender algo grande demais. Richard estava de pé, braços cruzados, rosto mais sério do que o habitual. Quase sombrio.— Senta, filho — ele disse, apontando para a cadeira vazia à minha frente.F
P.D.V de KaidenMeu lobo foi desperto há três anos atrás, eu tava completando dezessete anos, foi incrível quando o descobri a primeira vez, mas meu pai e minha mãe acharam ele diferente. Meu pai sorriu, minha mãe ficou mais cautelosa e cuidadora e tudo mudou. As garotas também ficaram ao meu redor como mariposas em volta de um lampião. FLASHBACK A lua cheia pairava alta, pesada, derramando sua luz prateada sobre a clareira ancestral. Eu já sabia o que esperar. Desde que me entendo por gente, fui preparado para aquele momento. Meu pai dizia que lobos como eu não esperavam pelo chamado — nós o sentíamos desde o ventre. E ele estava certo.Naquela noite, o chamado era ensurdecedor dentro de mim.Minha mãe me envolveu num abraço silencioso antes de se afastar apenas o necessário, posicionando-se ao lado do meu pai. Os dois estavam ali, firmes, como pilares ancestrais. Meus pais não me protegiam daquela dor — eles me honravam por enfrentá-la.Eu respirei fundo.A pulsação se acelerou, e
P.D.V de KaidenE então ela chegou. E tudo dentro de mim mudou. Tudo em Perses mudou também.O cheiro dela era inacreditável. Não era apenas agradável — era viciante, primordial, como o perfume de uma floresta viva depois da tempestade. Um chamado ancestral. O calor que emanava de seu corpo me aquecia por dentro, derretendo as paredes que eu havia construído ao redor do meu instinto. Mas o que me quebrava por completo era a voz dela.A voz de Kayla tinha o poder de acalmar a fúria de Perses com um sussurro. Ela pacificava minha alma quando eu estava à beira do colapso. E mesmo que sua loba ainda dormisse em silêncio dentro dela, eu sentia que ela me reconhecia. Que me queria.Eu a queria com cada fibra do meu ser. E Perses?Perses a desejava com um fervor que jamais tivera antes. Ele a escolheu no primeiro instante.Faltava apenas uma semana para o despertar da loba dela, ela completaria dezessete anos e haveria a lua de sangue. E nesse tempo, Stella ainda rondava. Tentava manter sua