POV: Nicholas
— Olha lá como fala comigo, menina! Eu devia... — rosnei ameaçador, fechando a cara. Ela me olhou assustada como se eu fosse um bicho papão. — O que foi? — perguntei arqueando a sobrancelha.
— Não me machuque, por favor. — ela pediu baixinho e só então percebi que ela tinha algumas marcas nos braços, como se tivesse sido agredida por alguém.
— Ei... — com meu dedo indicador, ergui o queixo dela para que me olhasse nos olhos e só então, vi o rosto dela com mais clareza. Realmente, é uma garota bonita. — Não sou covarde e não irei te bater, menina. — deixei claro para ela.
— É que o senhor falou comigo de uma forma tão agressiva. — ela tirou minha mão do rosto dela rapidamente.
— E você com bastante deboche. — retruquei cruzando os braços.
— Claro, não vou deixar ninguém me pisar não! — ela olhou para frente. — Aliás, o senhor não devia nem estar dirigindo, sabia? Está quase caindo de tão bêbado que está. — chamou minha atenção. Só me faltava essa agora. Uma menina que mal saiu das fraldas querendo me dar lição de moral.
— Não pense que tem o direito de dizer o que eu devo ou não fazer! Eu dirijo a hora que eu quiser e no estado que eu quiser. — falei olhando para ela.
— Não sei como não sofreu um acidente ainda, o senhor deve ser um homem de muita sorte mesmo.
Essa garota acabou com a minha noite no momento em que disse a palavra "acidente", pois todas as lembranças do dia em que Sophie morreu, surgiram na minha mente de uma maneira bagunçada, acho que pela bebida. Aquele caminhão vindo em nossa direção... Os gritos dela suplicando para não morrer. Fechei meus olhos com força, pensando novamente naquele maldito dia. Lembro que tomei uma ou outra taça de vinho, mas não estava bêbado como estou agora. Por que aquilo tinha que acontecer comigo? Por que?
— Moço? — ela me chamou e eu a olhei. — O que deu no senhor?
— Nada. — respondi levando minha mão ao bolso do meu casaco e de lá, peguei minha carteira. — Olha menina, não vou mais fazer programa com você.
— Não? — perguntou confusa e eu apenas fiz sinal de negativo com a cabeça, enquanto abri minha carteira.
— Toma. — entreguei uma certa quantia de dinheiro nas mãos dela.
— Por que está me dando esse dinheiro se nós não fizemos nada? — ela contou as notas para descobrir o quanto lhe dei.
— Para você me deixar em paz e sair do meu carro. Anda! — falei bastante sério. — Sai daqui!
Ela não pensou duas vezes, abriu a porta do carro e saiu. Estava muito escuro, então, nem vi para onde ela foi. E para ser franco, isso não me importa nem um pouco. Respirei fundo e voltei a dirigir. Preciso beber. É exatamente disso que eu preciso. Fui então, até o bar mais próximo e fiquei ali bebendo até o amanhecer.
(...)
Já são oito da manhã. Pelo menos é o que meu relógio está dizendo. Minha cabeça está girando e estou aqui sentado na mesa de um bar com uma garrafa de vodca na mão. Preciso ir a empresa, hoje tenho uma reunião muito importante. Mas estou fedendo a bebida e desse jeito, não vai dar para ir. Paguei o garçom e saí do bar. Entrei no meu carro e esfreguei meus olhos. Não sei se estou apto a dirigir, na verdade acho que nunca estive. Mas não tenho tempo para parar e esperar por um táxi. Liguei o carro e comecei a dirigir de volta para casa. Dirigi o mais devagar que pude, pois não posso sofrer nenhum acidente, não por mim que sou um nada, mas pela minha filha que sei que ainda precisa de mim.
Quando estacionei na garagem de casa, notei que já são quase nove horas da manhã. Sai do carro e quando fiquei de pé, sinto um peso nas minhas pernas que quase me fizeram cair no chão. Estou verdadeiramente exausto e a ressaca está dando o ar da graça. Dando alguns tropeços, consegui chegar na porta de casa, a empurrei e entrei na mansão dos Prestons.
Passei pela sala e comecei a escutar vozes. Acho que o pessoal está tomando café da manhã na sala de jantar. Só de sentir o cheirinho da comida, senti meu estômago roncar. Então, fui até lá e me deparo com meu pai e minha mãe que me olharam com uma cara de poucos amigos.
— Não acredito que você bebeu de novo, Nicholas! — Ellie falou fazendo sinal de negativo com a cabeça.
— Bebi sim, mas foi só um pouquinho. — acabei dando risada sei lá por quê.
— Que irresponsabilidade, Nicholas. Até quando vai continuar assim? — Christopher se levantou e ficou de frente para mim, que me apoiei na parede para não cair.
— Até quando? Para ser sincero eu não sei. — Olhei para o teto e senti tudo girar. — Já sei! Até o dia que a Sophie voltar... Para me buscar. Eu quero ir embora com ela, pai. — murmurei mais para mim do que para eles.
— Ouça bem, Nicholas! — Voltei a olhar para meu pai. — Se você não parar de beber por bem, vai ter que parar por mal. — ele me segurou pelo braço e me arrastou pela casa.
— Ah é? E quem vai me obrigar? — me desvencilhei dele e o encarei.
— Eu mesmo. — Christopher respondeu me olhando nos olhos. Acho que vai me bater.
— Parem com isso, por favor. — Minha mãe pediu assustada.
— Quem começou foi ele! — retruquei. — Quer mandar na minha vida, me tratar como se eu fosse criança!
— Você está agindo exatamente como uma criança, Nicholas. — ele disse e eu senti meu sangue subir. — Um moleque!
— Me deixa em paz, Christopher! Nem meu pai você é. — falei dando de ombros e ele me deu um soco na cara com tanta força que caí no chão, enquanto ouvi minha mãe gritar. Quem ele pensa que é para me bater assim? Como se eu fosse um moleque? Fechei meus punhos de raiva, enquanto tentei arrumar forças para me levantar.
— Papai. — ouvi a voz de Melissa e olhei para o lado. Ela estava descendo as escadas ao lado de Allison. Ela está me olhando assustada. Minhas mãos se abrem e eu começo a sentir meus olhos lacrimejarem. A última coisa que queria na vida era que ela me visse assim, nesse estado.