AlpemburgEnquanto Odette e Max discutiam fervorosamente, trocando acusações, fechei meus olhos e deixei-me sentir todas as dores que sabia por antecedência que meu feito causaria. Tentava prestar atenção ao que diziam, mas minha mente só trazia o momento em que vi Donatello jogado no chão, com o sangue escorrendo pelo rosto e as pernas assustadoramente parecendo não pertencerem a ele, como se fossem de elástico, perdendo completamente a rigidez que as deixavam retas.Balancei a cabeça, tentando me livrar daquilo, mas não conseguia. O carro ia em alta velocidade e os dois ainda discutiam.— Por enquanto não há nada na internet. — Odette virou-se na minha direção, avisando.Deitei no banco traseiro, me encolhendo feito um bebê, as lágrimas ainda tomando posse de mim, como se não fosse possível parar nunca mais.— Faz dez minutos — Max gritou. — Queria que já estivesse tudo na mídia? Esqueceu que ela matou o homem que registrava tudo?— Eu... O matei? — perguntei, soluçando.Max não res
Ouvi o som da porta do box abrindo e Odette ajustou a temperatura, deixando a água um pouco mais morna. Não deixou que eu pusesse shampoo nos cabelos, fechando o registro e me puxando para fora, enquanto enxugava meus cabelos com uma toalha.Assim que ela enrolou a toalha nos meus cabelos úmidos, peguei outra e sequei o corpo, colocando em seguida o roupão de tecido macio e confortável que me foi entregue, pondo por último a calcinha.Percebi que mesmo tendo saído do banho, ainda chorava, sem me dar em conta.Cheguei no quarto e havia uma xícara de café puro fumegante ao lado da cama.— Beba tudo. Não tem açúcar, mas é proposital. Vai deixá-la sóbria.Não contestei. Sentei na cama e bebi o café forte, fazendo careta. Olhei-a:— Eu... Tenho consciência da porra que fiz... — admiti.Odette pegou o celular e deslizou os dedos, me olhando em seguida:— Por enquanto não há nada na mídia. É melhor que descanse, Aimê. Amanhã terá um longo dia pela frente.— Eu... Não fiz por querer. E por qu
— Como? — perguntei, incrédula. — Só fazem algumas horas...— A câmera de Donatello deve ter sido pega por alguém durante o resgate — avisou Satini.— Como... Ele está? — questionei, amedrontada com a resposta que ela me daria.— Internado no melhor hospital do país, sob proteção da guarda real. Ou seja, as imagens vazaram, mas ninguém sabe de fato o que aconteceu. — Estevan tentou acalmar-me.— Internado? Então... Ele não morreu?— Não — minha mãe confirmou, sentando-se numa cadeira e me puxando para fazer o mesmo.Sentei-me, deixando finalmente o corpo relaxar, me sentindo um pouco mais tranquila. Donatello não estava morto!— Eu... Vi as pernas dele... — lembrei da cena, aturdida.— Ele quebrou o fêmur... E as duas pernas. E um corte leve na cabeça... E quando deixamos o hospital, estava fazendo uma cirurgia de emergência.Levantei, sentindo o corpo tremer:— Meu Deus... Que porra eu fiz! — Pus as mãos na cabeça.— O médico garantiu que ele não corre risco de vida. — Minha mãe tent
— Mas... Você atropelou Donatello. — Odette arqueou a sobrancelha. — E... Ele não é uma mosca.— Só não quero que me joguem na fogueira, porra!Ela sorriu e balançou a cabeça, aturdida:— Já não queimam mais na fogueira mulheres que mexem com ervas e plantas e combinam aromas e sabores.— Ainda assim, escondo meu segredinho! — Pisquei, pegando a bolsa e saindo, puxando-a pelo braço.— Sabe que estamos no século XXI, não é mesmo?— Ainda assim estranhariam uma princesa que gosta de fazer chás, sucos detox e bebidas naturais.— Se sente melhor?— Saber que ele está vivo me transformou em outra pessoa, acredite! Agora é só pedir desculpas, recuperar minha popularidade e...— Acalme-se, Aimê. Vamos com calma. A primeira coisa a fazer por enquanto é pedir desculpas por tê-lo atropelado.— Não foi por querer...— Ainda assim o atropelou.— Meu maior erro foi não ter prestado socorro.— Você-o-atropelou, Aimê! — ela repetiu, vagarosamente.— Teoricamente foi sem intenção.Odette parou e segu
— Olá, Donatello! — Apertei a mão dele. — Sente alguma dor?— Uma leve tontura... — Ele pôs a mão na cabeça, enrugando a testa.— É normal depois de uma anestesia geral — a enfermeira lhe explicou.— O que... Faz aqui? — O olhar dele foi questionador.— Creio que... Imagine o que faço aqui... Se lembrar do que houve ontem à noite. — Fiquei sem jeito.— Eu lembro... De tudo — confirmou.Olhei para a enfermeira e Odette e pedi:— Será que poderiam se retirar um pouco? Eu gostaria de falar a sós com o senhor Durand.— Posso ficar no máximo uns cinco minutos longe, Alteza. — Assentiu a enfermeira. — Me foi solicitado pela equipe médica acompanhar o senhor Durand em tempo integral.— Cinco minutos é suficiente para mim. — Não contestei.Odette saiu com a enfeira e a porta foi fechada. Respirei fundo e observei o quarto amplo e bem equipado.— Eu... Sinto muito — falei.— Filmei e fotografei tudo que aconteceu — ele disse em alto e bom som.— Desde quando estava filmando?— Praticamente des
— É meu trabalho.— Seu trabalho idiota de me perseguir é chato e desagradável.— Alteza, eu só quero o meu lugar ao sol.Olhei no relógio e depois para Donatello, respirando fundo:— Bem, vim até aqui para me desculpar pelo acontecido. E já o fiz. Desejo-lhe melhoras, senhor Durand. — Fui o mais formal possível. — A família real continuará custeando todo seu tratamento. E torço para uma recuperação plena das suas pernas.— O fato de eu falar o que penso sobre vossa Alteza não a exime da culpa.— O fato de eu tê-lo atropelado sem querer não lhe dá o direito de ofender-me do modo com o fez, senhor Durand.— Alteza, quero fazer meu trabalho de conclusão da faculdade sobre a princesa Aimê D’Auvergne Bretonne, filha caçula do rei Estevan D’Auvergne Bretonne, monarca justo e preocupado com o povo, e irmã de Alexia D’Auvergne Bretonne, a rainha que mudou a vida de tantas mulheres de Alpemburg com sua luta por justiça e igualdade.— Eu ainda não assumi como rainha. Meu pai e minha irmã fizer
Antes que eu saísse para o pronunciamento, que seria feito em frente ao castelo de Alpemburg, na frente de todos os repórteres e população em geral, vi meus pais na sala de estar principal. Satini desenhava um vestido enquanto Estevan mexia no celular, concentrado.— Vamos? — falei, esperando que se levantassem, acompanhando a mim e Odette ao pronunciamento.— Onde? — Meu pai arqueou a sobrancelha, curioso.— É agora o meu pronunciamento, papai — expliquei.Ele e minha mãe se entreolharam e foi ela quem disse:— Assistiremos daqui.— Como assim? Vocês precisam ir comigo!— Não, não precisamos! Já fiz a minha parte: retirei suas imagens praticamente nua da internet e convenci a Corte de que você amadurecerá logo e que futuramente se orgulharão de tê-la como rainha. Garanti também que o senhor Durand será muito bem atendido e nada lhe faltará. E que assumirá toda sua responsabilidade pelo que houve, já que pelo visto me enganei redondamente quando pensei que o jovem Max estava ao volan
— É hora de provar à população do seu país e a todos nós que está preparada para ser a rainha, minha filha! — Satini alisou meu rosto. — Assuma compromissos, conheça o seu país além das paredes do castelo ou da Corte. Faça alianças políticas com outros países, em que Alpemburg seja beneficiada de alguma forma. Eu já comecei fazendo algo por você. Escolhi uma estilista local para fazer o seu vestido da coroação.— Mas... A diretora executiva da Versace já havia entrado em contato comigo... Não só ela, mas outras marcas também. Inclusive estávamos pensando numa parceria... E eu já havia me decidido pela Versace.— Liah Archambault Chalamet é uma jovem promissora e que decidiu firmar seu nome e sua marca em Alpemburg. Ela é uma designer independente e seu estilo para criar é atemporal e diferente. Logo ela ganhará popularidade entre as celebridades. Mas precisa de uma ajuda e você pode fazer isso. Com os negócios dela expandindo, teremos olhos para nossos país também.— Como outras pesso