Lucca Ferraro
Acordei antes do amanhecer.
A luz que entrava pelas frestas era apenas um sopro pálido, o céu ainda estava preso aos últimos restos da tempestade que passou a noite inteira arranhando as janelas. O quarto estava morno e silencioso, tomado pelo perfume suave de lavanda e pela respiração tranquila de Clara, que dormia encolhida, como se buscasse abrigo em si mesma.
Virei o rosto devagar, com medo de quebrar o encanto, e a observei. O lençol subia até o peito, a seda da camisola acompanhava a curva do ombro e sumia sob o tecido. Uma mecha de cabelo caía sobre os lábios, os mesmos lábios que, horas antes, se abriram sob os meus, quentes, famintos, entregues. Meu coração acelerou com a lembrança, não de forma violenta, mas profunda, inevitável.
O beijo voltou inteiro: o gosto doce, o som do gemido dela contra a minha boca, a mão pequena na minha nuca, a doçura que, de repente, virou urgência. Fechei os olhos, tentando guardar tudo aquilo num canto da memória, mas não adiant