Clara Vasconcelos
Fiquei longos minutos imóvel, encarando o vestido apoiado sobre a cama. O vermelho parecia pulsar por conta própria, como se tivesse vida, como se respirasse e zombasse de mim. A cada segundo, a certeza de que estava sendo empurrada para um abismo crescia em meu peito.
As horas da tarde se arrastaram entre silêncios e ordens secas. Minha mãe chamou duas criadas de confiança para ajudá-la a me preparar. O quarto encheu-se de perfumes, tecidos, caixas de jóias e maquiagens espalhadas sobre a penteadeira.
Fui colocada na poltrona diante do espelho, e as criadas começaram a trabalhar em meus cabelos, enrolando os fios negros em ondas suaves que caíam sobre os ombros como cascatas. Amanda observava cada detalhe de braços cruzados, exigindo perfeição.