O escritório de Lucca sempre pareceu um território à parte dentro da casa. Menos casa, mais comando.
As paredes em tom escuro, a estante enorme tomada de livros e pastas, o cheiro de couro misturado a café e uísque criavam um ambiente que dizia, em silêncio: é aqui que as guerras começam e acabam.
Rafael entrou primeiro, afrouxando a gravata enquanto caminhava até o bar de canto.
— Vai querer? — perguntou, já pegando a garrafa de uísque.
Lucca deu de ombros, em pé diante da janela, observando a noite cair sobre a cidade. As luzes ao longe piscavam como um tabuleiro de xadrez infinito.
— Manda — respondeu, sem realmente tirar os olhos lá fora.
Rafael serviu dois dedos para cada um, caminhou até a mesa e apoiou o copo ao lado do irmão.
— Só pela sua cara eu já sei — disse, se recostando na borda da mesa. — Não é só sobre a viagem para Rússia, que quer conversar, né?
Lucca respirou fundo.
A mandíbula travava num movimento já conhecido. Ele pegou o copo, girou o líquido âmbar por um segund