Capítulo 7
Armand apoiou as mãos firmes na mesa da filha e inclinou-se levemente, com aquele jeito de pai que conhecia bem demais a filha que tinha criado. - Alana... não me venha com esses joguinhos. Você sabe o que estou perguntando. Aquele garoto ontem parecia um estagiário perdido. Hoje... parece outro homem. Ela ergueu o olhar, desta vez encarando o pai com firmeza, mas com um brilho divertido nos olhos. - Ele só dormiu melhor. Talvez tenha deixado o gel de lado. O senhor devia experimentar, dizem que alivia a tensão da testa. Armand bufou, mas teve que conter uma risada. Passou a mão pela própria testa como se percebesse ali uma ruga nova. - Não estou brincando, filha. Quero saber o quanto você está envolvida. - Com o meu assistente? - ela cruzou os braços, recostando-se na cadeira. - Estou envolvida como qualquer CEO que precisa que o trabalho flua perfeitamente. E Leonardo... está surpreendendo. Armand a observou por mais alguns segundos. Sua filha não costumava elogiar ninguém com facilidade. Muito menos homens jovens. E havia algo no tom de voz dela... uma sutileza que o instigava. - Se ele for uma distração, Alana... você sabe o quanto estamos vulneráveis agora. - Ele não é uma distração. É uma proteção. Mesmo que não perceba. Armand estreitou os olhos. - Está falando sério? Ela sorriu de lado. - Eu confio no meu instinto. E o meu instinto diz que ele vai ser útil... de mais maneiras do que o senhor imagina ou eu mesma. Armand se endireitou lentamente e caminhou até a janela atrás dela. Ficou ali por alguns instantes, olhando a vista da cidade. - Espero que não esteja colocando o coração nessa equação. Porque o coração... costuma ser o ponto mais fraco. Alana não respondeu de imediato. Apenas deslizou os dedos pela tela do tablet, pensativa. - Eu sei muito bem onde meu ponto fraco está, pai. E não é no coração. - Então está tudo bem - ele disse, finalmente virando-se para sair. - Mas mantenha os olhos abertos. E o controle... também. Assim que a porta se fechou, Alana deixou o sorriso escapar, quase imperceptível, enquanto murmurava: - Controle... é exatamente o que eu estou tentando não perder. Minutos depois, Margareth bateu suavemente à porta antes de entrar no escritório de Alana. - Com licença, senhorita Alana. - Ela sorriu. - Vim lembrar do evento desta noite. O aniversário do senhor Bradley, nosso cliente de longa data. A festa será no salão principal do Hotel Grand Park. Alana apoiou a caneta sobre a mesa e respirou fundo. - Ah, sim, eu tinha quase esquecido. - Ela então se levantou, ajeitando a saia do vestido. - Obrigada por lembrar, Margareth. Seus olhos então se voltaram para Leonardo, que terminava de organizar alguns papéis na mesa de apoio dentro do escritório. Sem hesitar, ela o chamou: - Leonardo? Ele se endireitou imediatamente, atento. - Sim, senhora? - Você vai comigo hoje. Leonardo piscou, surpreso. - Eu? - apontou para si, como se não tivesse certeza de ter ouvido direito. Alana segurou um sorriso diante da reação dele. - Sim, você. Preciso de alguém de confiança comigo. E você é... meu assistente pessoal, afinal. Ele assentiu, ainda processando a informação. - Claro, senhora... digo, Alana. - E então, com um pouco de nervosismo, perguntou: - Como... como devo me vestir para esse evento? Ela sorriu, divertida. - Social. Um terno preto ou cinza, camisa clara, gravata discreta. Nada de extravagâncias. Leonardo anotou mentalmente cada palavra, sentindo o coração acelerar. Já conseguia se imaginar tropeçando no próprio pé de nervoso. - Entendido. Estarei pronto, senhora. - Confio nisso. - Alana disse, com um brilho no olhar antes de voltar a se sentar e se concentrar nos documentos à sua frente. Assim que terminou o expediente, ele saiu da sala com a cabeça cheia de pensamentos. Voltou para casa apressado, seu coração batendo rápido enquanto subia as escadas do prédio. Desta vez, nem se importou com o esforço, estava mais preocupado em escolher a roupa certa. Assim que entrou no apartamento, jogou a mochila no sofá e correu para o guarda-roupa. Separou seu melhor terno: um preto elegante, ainda praticamente novo, usado apenas uma ou duas vezes em ocasiões especiais. Escolheu uma camisa branca impecável e uma gravata cinza discreta, como Alana havia orientado. Antes de se vestir, tomou um banho rápido, esfregando o rosto como se quisesse lavar o nervosismo junto com a água. De frente para o espelho, encarou o próprio reflexo. - Vamos lá, Leonardo... é só uma festa de aniversário. - Disse para si mesmo, tentando se acalmar, enquanto ajeitava o cabelo com as mãos, desta vez sem gel, deixando o topete natural dominar. Vestiu-se com cuidado. A camisa ajustava-se perfeitamente ao tronco definido, revelando um pouco mais do físico que normalmente escondia sob as roupas largas do dia a dia. O terno assentou como uma luva, e, dessa vez, Leonardo se sentiu... bem. Confiante. Terminou o nó da gravata, calçou os sapatos lustrados e pegou o celular para avisar Margareth que já estava a caminho. Desceu as escadas com passos firmes e rápidos, o carro da empresa que já o esperava. Dentro do veículo, a ansiedade voltou a crescer. Afinal, em poucos minutos estaria ao lado de Alana, em um ambiente social, elegante... diferente de tudo que estava acostumado. "Controle, Leonardo. Controle..." repetiu mentalmente, respirando fundo. O carro deslizou suavemente até a entrada do hotel de luxo, iluminado por luzes douradas que refletiam na fachada de vidro. Leonardo desceu ajeitando o paletó, tentando disfarçar o nervosismo que explodia em seu peito. Assim que entrou no saguão, seus olhos foram imediatamente atraídos para a escada principal. Lá estava ela. Alana descia os degraus com a elegância de uma rainha. Vestia um longo vestido azul-marinho, de tecido fluido que parecia acompanhar cada movimento do seu corpo. Os cabelos, presos em um coque sofisticado, deixavam o pescoço delicado à mostra, e um par de brincos discretos completava o visual. Leonardo sentiu a boca secar. Era como se o tempo tivesse parado. Ela sorriu ao vê-lo, um sorriso leve, quase tímido, e acelerou os passos até alcançá-lo. - Uau... - escapou involuntariamente dos lábios dele. Alana arqueou uma sobrancelha, divertida. - Você também está... impecável, Leonardo. - disse, passando os olhos apreciativamente pelo terno bem ajustado. Ele corou, riu sem graça e coçou a nuca. - Obrigado, senhora Alana. Ela segurou no braço dele de maneira natural e começou a conduzi-lo em direção ao salão de festas. - Hoje você não é meu assistente. - murmurou, enquanto caminhavam juntos. - É apenas meu acompanhante. Leonardo engoliu em seco. "Acompanhante?", pensou nervoso.