Capítulo 2
Justo quando Alana se acomodava novamente em sua cadeira, o celular vibrou discretamente sobre a mesa. Ela o pegou e, ao ver o nome no visor, franziu levemente a testa. Atendeu com a mesma compostura de sempre. — Pai? Do outro lado da linha, a voz grave e firme do presidente da corporação soou, com uma urgência que não combinava com seu habitual tom controlado. — Alana, preciso que venha à minha sala. Agora. Ela endireitou o corpo imediatamente, captando a tensão nas palavras dele. — Está tudo bem? — Venha. Não pelo telefone — respondeu ele, encerrando a ligação sem se despedir. Alana ficou alguns segundos olhando para o aparelho, pensativa. Seu pai, Armand Dumont, não era homem de dramatizações. Se havia algo que exigia sua presença imediata, era sério. Ela se levantou, pegou o blazer que estava sobre a poltrona e caminhou com passos firmes até a porta, deixando momentaneamente de lado o leve sorriso que Leonardo havia lhe arrancado momentos antes. Ao sair, acenou brevemente para Margareth, que prontamente se levantou, como se já soubesse que algo estava prestes a acontecer. O corredor parecia mais longo que o normal enquanto Alana passava pelas salas que a separavam do pai. O local da presidência era reservado, silencioso. Ao chegar, não bateu, entrou. Seu pai já a esperava de pé, de costas para a janela imensa que revelava a cidade lá embaixo. Ele se virou lentamente, os olhos sérios, como há muito ela não via. — O que está acontecendo? — perguntou Alana, mantendo a calma, apesar do frio que começava a surgir em sua espinha. Armand inspirou fundo antes de falar, como se ponderasse cada palavra com cuidado. — Recebi uma ligação anônima. Disseram que estão planejando te sequestrar. Por um momento, tudo ao redor pareceu silenciar. Alana sentiu o coração dar um salto, mas manteve o rosto firme. — Isso é algum tipo de piada? — Não. E não estou disposto a correr riscos. Já acionei a segurança, mas quero alguém ao seu lado o tempo todo. Um guarda-costas. Alguém de confiança. Ela cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha, desconfiada. — Um guarda-costas? Pai, você sabe que eu sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma. — Eu sei. Mas essa não é uma questão de capacidade. É de prevenção. Se algo acontecer com você… — ele pausou, a voz um pouco mais baixa — ...eu não suportaria. Diante daquela confissão sincera, vinda de um homem tão orgulhoso e contido, Alana não discutiu mais. Apenas assentiu com a cabeça. — Certo. Mas eu escolho quem vai me acompanhar. E tenho alguém em mente. Os olhos de Armand se estreitaram, curioso. — Quem? Ela abriu um leve sorriso enigmático. — Leonardo Vicente — disse Alana, com um leve sorriso, cruzando os braços. — O novo contratado. Quero ele ao meu lado. O semblante de Armand mudou na hora. Ele franziu a testa, deu um passo à frente e apoiou as mãos na mesa com firmeza. — O quê? O seu assistente pessoal? — Sim. — Alana manteve o tom calmo, desafiador. — Ele é inteligente, atento, e... Armand levantou uma das mãos, interrompendo-a com um suspiro impaciente. — Alana, por favor. Se esse rapaz vir um capanga armado, é capaz de se mijar todo de medo! Eu vi o currículo dele. Vi a foto. É um rapaz simpático, sim, mas... não estamos falando de anotar recados ou buscar café. Estamos falando da sua vida. Ela estreitou os olhos, o sorriso sumindo dos lábios. — E eu entendi isso perfeitamente. Mas ele me inspira confiança, pai. Eu não sei explicar... é instintivo. Ele precisa estar por perto. — Você precisa de um segurança. Profissional. Treinado. — A voz de Armand era firme, inegociável. — Está bem, papai — disse Alana, com um suspiro resignado. Caminhou lentamente até a janela, olhando a cidade lá embaixo. — Faça o que o senhor achar melhor. Contrate seu segurança, duplique a proteção, se quiser... Ela virou-se e o encarou com serenidade. — Mas Leonardo vai continuar ao meu lado. Seja como assistente, ou como o que for. Armand a olhou por um momento em silêncio. Seus olhos revelavam frustração e preocupação. Por fim, bufou, passou a mão pelos cabelos e se afastou da mesa. — Eu só quero o seu bem, Alana. É só isso. — Eu sei — respondeu ela suavemente. — E eu também quero o meu. A tensão pairou no ar por mais alguns segundos, até que Armand assentiu com a cabeça, mesmo contrariado. — Certo. Mas ele vai ter que se adaptar a um novo papel. E vai ser treinado, nem que eu pessoalmente o obrigue a aprender a se defender. — Então estamos combinados. Ela sorriu de leve, antes de virar-se para sair da sala, com a elegância que a tornava tão admirada. Ao fechar a porta atrás de si, respirou fundo. A guerra silenciosa entre sua vontade e a superproteção do pai ainda não tinha terminado… mas ela havia vencido a primeira batalha. *** Armand se dirigiu imediatamente à sua gaveta trancada, de onde retirou um antigo cartão de visitas. O nome impresso em letras douradas ainda brilhava, apesar dos anos: THÉO MARCHAND — Segurança Executiva & Operações Especiais Sem perder tempo, Armand pegou o telefone e discou diretamente para o número pessoal. — Marchand — atendeu a voz rouca e direta do outro lado da linha. — Théo, aqui é Armand Dumont. Houve uma breve pausa antes de uma resposta respeitosa: — Senhor Dumont... quanto tempo. Está precisando de mim? — Sim. Preciso de você imediatamente. — Algo aconteceu? — Recebi uma ameaça envolvendo minha filha. Quero você aqui, no meu escritório, o mais rápido possível. E se possível, venha preparado para tudo. Ela não sabe ainda, mas você será responsável por protegê-la. Théo ficou em silêncio por alguns segundos. A última vez que havia trabalhado para Armand foi durante um assalto armado em uma das sedes da empresa. Na época, ele evitara uma tragédia. Agora, o tom da voz do presidente dizia tudo: era coisa séria. — Estarei aí em trinta minutos. — Estarei esperando. — Armand desligou e permaneceu alguns segundos olhando fixamente para o telefone. Ele confiava em Théo como confiava em pouquíssimos homens. Se havia alguém capaz de proteger sua filha, era ele. Suspirando, ele foi até o bar discreto no canto da sala, serviu-se de um copo de uísque e encarou a cidade lá fora. Uma tempestade parecia se aproximar. E ele faria o que fosse necessário para manter Alana a salvo.