-- Como assim nos reencontramos? – Mikoto deu um passo para trás. Akumi voltou-se para a porta de onde viera.
-- Há quinze anos, eu perdi minha criação mais importante. Ela tinha a missão de devolver o mundo para nós.
A menina precisou suprimir e silenciar o turbilhão de emoções de dor e desgosto por confirmar seu maior receio para continuar a seguir a mulher. As duas passaram para outra sala, muito maior, ocupada por um estranho maquinário, tecnológico, mas ainda assim antigo, como máquinas a vapor. Aquilo era claramente uma instalação de pesquisa.
-- O que significa essa missão? Por que você quer destruir o mundo humano? – Mikoto não conteve a pergunta. Akumi virou-se para ela.
-- Destruir? Não desejo destruir nada, não faria sentido, afinal era minha casa, e é para onde pretendo voltar. Foi para isso que
-- Levem-na para o laboratório. Começarei o processo de reformulação de memória ainda hoje – Akumi assumiu sua forma original, uma raposa de pelos alaranjados do tamanho de um porco e com oito caudas, ondulando atrás dela como as penas de um pavão.Depois que a nogitsune desapareceu escada abaixo, um tengu subiu e se dirigiu para Mikoto, mas seu peito foi transpassado por uma lâmina a meio caminho, e ele caiu morto diante de Yasha.-- Um youkai de nível tão baixo não deve tocar na minha irmã – ela disse com desprezo.Depois de limpar a tanto na roupa do tengu, Yasha a guardou no quimono e falou para a menina, apesar de saber que ela não podia ouvir.-- Aquilo foi muito interessante de se escutar. Não esperava aquela reação de você, mas até que gostei, maninha – com todo o cuidado ela segurou Mikoto no colo.
Mikoto parecia não estar em lugar nenhum, Haku começava a se desesperar. Seu irmão também estava preocupado, mas repetia o tempo inteiro como um mantra para se acalmar:-- Ela estava com Akumi-sama, então deve estar bem.A intuição de Haku dizia o contrário. Tudo naquele lugar exalava perigo, como fora idiota em ignorar seus instintos para satisfazer a própria curiosidade, e agora Mikoto desaparecera, e não podia culpar ninguém além de si mesmo.Haku afastou esses pensamentos, haveria tempo para se culpar depois, o mais importante agora era encontrar Mikoto para saírem dali. Ele olhou para seu gêmeo.-- Você conhece esse lugar melhor do que eu. Já olhamos várias salas, onde mais ela poderia estar?-- Ainda tem a ala leste, mas sou proibido de ir lá. Ikari-sama não admite que ninguém entre no laboratório de
-- Mikoto? – Takako e Sayuri também se paralisaram com a visão dela ameaçando Haku. Yukio sussurrou apavorado:-- O que ela está fazendo?-- Ei, Mikoto, calma – Haku ergueu as mãos, mas ela não abaixou a naginata.Havia algo errado com ela. Seu rosto estava congelado numa expressão neutra, e seu corpo mantinha uma postura tão rígida que se não fosse pelos cabelos que caíam sobre seus ombros, seria fácil pensar que Mikoto era uma estátua. O mais estranho eram seus olhos, vazios como se a mente dela não estivesse ali.E apesar disso, sua pérola ainda brilhava fracamente.-- Haku, se afaste, ela não está normal – Takako apertou o suzu com mais força. Sentia alguma energia sobre a amiga, algo maligno.Haku recuou para longe do alcance da naginata, e Mikoto assumiu uma posição defensiva. Say
Yasha não entendia o que dera errado, tivera certeza de mergulhar bem fundo no inconsciente de Mikoto e o remodelar para que não houvesse nada além do comando de obedecê-la. Como ela poderia ainda ter consciência para chorar e resistir a uma ordem sua?E por que a pérola ainda brilhava? Não fazia sentido, Mikoto não estava usando nenhum poder sagrado. Sequer podia tirar o colar dela porque a pedra e brilhava esquentava insuportavelmente à mera aproximação de seus dedos.De qualquer forma, a pérola não tem influência nenhuma no que me interessa agora.Novamente Yasha segurou a cabeça de Mikoto e fechou os olhos.Logo estava afundando dentro da parte mais oculta e íntima da psique da menina, e imediatamente percebeu que algo não estava certo.Ali dentro estava completamente vazio, como ela deixara há meia hora, mas havia
-- Por que tem que ser uma delas? – Yukio questionou.-- Além de nós, youkai, elas são as únicas aqui detentoras de alguma magia, e a delas é mais compatível por virem de pérolas celestiais. A pérola de Mikoto pode aceitar as suas sem vê-las como invasoras ou ameaças, como faria se Yasha ou algum youkai tentasse.As duas primas se entreolharam, divididas entre o desejo de ajudar Mikoto a qualquer custo e a desconfiança que o nekomata despertava. Ikari percebeu o conflito das duas e argumentou:-- Acatar minha última orientação ou não é escolha de vocês, mas sugiro que tomem uma decisão rápido. Deixei Yasha presa num poço, mas ela não vai demorar a voltar.-- Vamos fazer isso. Pelo menos tentar – Sayuri falou baixinho. Takako assentiu.-- Está bem, mas como?-- Eu tenho uma ideia.<
O brilho da hitodama se refletia nas paredes de água da fenda, dando ao ambiente uma luminosidade azulada que seria bonita se não fosse tão sobrenatural. E num momento o céu desapareceu, criando a sensação claustrofóbica de uma caverna subaquática.-- Você não é Mikoto, não é? Quem é você? – Takako falou para se distrair. Naturalmente, a hitodama não disse nada, mas a jovem ouviu vozes aparentemente vindas de cima, sussurros tão baixos que precisava se esforçar para captar algumas palavras soltas:-- Decepção.-- Armas vivas.-- Reprogramados e melhorados.A hitodama parou atrás da jovem miko, como que esperando à distância para não se envolver. Agora logo acima da cabeça de Takako, só iluminava um pequeno trecho adiante, depois havia só um breu impen
A ideia de Ikari de montar uma barricada com os móveis do laboratório era boa, mas se provou eficiente apenas nos primeiros minutos. Depois que a primeira leva de youkai só conseguiu escalá-la para ser alvejada de surpresa por Yukio, um mujina do tamanho de um tanque de guerra e a partiu ao meio com um só golpe.-- Haku? – Yukio olhou nervoso por cima do ombro, e o menino balançou negativamente a cabeça. As três garotas ainda não tinham acordado.Com o caminho aberto pelo mujina, os outros youkai avençaram contra Yukio, Ame e Ikari. O gato lançou bolas de fogo contra os primeiros tanukis a atacar e depois passou a usar as garras para retalhá-los. Yukio descarregou suas pistolas e lançou mão do cassetete, enquanto Ame golpeava o que estivesse ao alcance de seus punhos.Os guaxinins, gatos e doninhas não demoraram a cair, o maior problema foi quando o texu
Só o olhar selvagem de Akumi era o bastante para fazer qualquer um recuar, mas sua expressão dizia claramente que ela faria muito mais do que isso.Antes que ela se movesse, no entanto, Yasha a atacou por trás, armada com um punhal. Akumi se transformou em raposa e pulou para longe antes que a mulher a esfaqueasse. Com o movimento de uma cauda, Akumi derrubou Yasha e voltou-se zangada para ela, os dentes afiados à mostra.-- Você sempre foi um estorvo para nós – ela sibilou – Logo que percebi o que você era, soube que só nos traria problemas. Devia ter me livrado de você no começo, e quando Mikoto nascesse, tudo teria corrido como planejado.Ainda no chão, Yasha sacou uma pistola e atirou. Akumi ganiu de dor, pega de raspão no ombro, o ferimento já sangrando e tingindo seu pelo alaranjado de vermelho. Yasha sorriu triunfante.-- O que achou disso, Akumi? Te