Ela abriu os olhos devagar, sentindo o corpo pesado, os olhos um pouco inchados. A primeira coisa que viu foi o espaço vazio na cama. Depois, ouviu o som da água correndo no banheiro. Por instinto, pensou em levantar, ir até lá e entrar no banho com ele. Sentir a água quente sobre os dois, os corpos se encontrando de novo. Mas a lembrança da madrugada... da dor, da fragilidade que expôs sem querer... aquilo ainda estava nela. Não conseguia fingir que nada havia acontecido. Não dava para simplesmente ignorar o que sentiu. O medo ainda estava ali. Então desistiu. Continuou deitada por alguns minutos, até ouvir o som da água cessando. Thor saiu do banheiro envolto em uma toalha, os cabelos ainda pingando. Ao vê-la acordada, parou por um instante na porta. Os olhares se encontraram. Celina puxou o lençol até o peito, meio sem jeito, mas tentou sorrir. — Bom dia... — Bom dia — ele respondeu, com um tom calmo, mas um olhar mergulhado em pensamentos que ela não conseguia decifra
Thor olhou a tela e bufou, impaciente. Atendeu. — Oi. A voz do outro lado era doce, mas carregada de um tom forçado de carinho. — Amor... você não me liga mais. Não quer saber como estou? Thor franziu o cenho, revirou os olhos e respondeu, seco: — Isabela, agora? — Poxa, amor... — insistiu ela. — Sinto sua falta. Estou com saudade... Thor fechou os olhos com força, tentando manter a calma. — Estou muito ocupado. Conversamos depois. — Precisamos conversar. — ela insistiu, a voz mais baixa, quase melosa. — Assim que eu voltar, te procuro. — E sem dar espaço para mais nada, desligou. Assim que Thor desligou a ligação abruptamente, Isabela ficou olhando para o celular em sua mão, os olhos brilhando de raiva. — Maldito... — sussurrou entre dentes, apertando o aparelho com força. Ela jogou o telefone em cima da cama com violência e começou a andar de um lado para o outro, furiosa. — Tem alguma coisa errada... — murmurou para si mesma. — Ele nunca foi de me tratar
A manhã passou com Thor mergulhado em papéis e assinaturas, enquanto Celina organizava os documentos com uma eficiência quase fria. Por dentro, ainda processava o que sentira ao ver Verônica. Eles saíram da empresa um pouco depois do horário de almoço e pararam em um restaurante próximo ao hotel. O almoço foi tranquilo, mas Celina manteve-se calada, introspectiva. No caminho de volta, Thor percebeu o silêncio. — Amor, está tudo bem? — Está sim — respondeu ela com um sorriso leve, olhando pela janela. Ele pegou uma de suas mãos e a beijou, tentando trazer de volta o calor de antes. Quando chegaram ao hotel, ele encostou o carro em frente à entrada. — Pode subir. Eu preciso resolver umas coisas rápidas, e já volto — disse, inclinando-se para lhe dar um beijo. Celina saiu do carro, observando-o se afastar. Algo dentro dela estava despertando. E não era mais apenas tristeza. Era desconfiança. Celina entrou na suíte do hotel, sentindo o peso do mundo em seus ombros. Ela
Na suíte, Celina, ainda adormecida pelo choro, foi despertada pelo toque insistente do celular. Meio tonta, olhou para o visor: Thor. Atendeu rapidamente. — Amor, estou em uma reunião que acabou se estendendo um pouco. Vou chegar quase na hora de sairmos para o jantar — explicou ele apressado. Ao fundo, uma voz feminina chamava por ele. — Thor, venha aqui, querido! Antes que Celina pudesse dizer qualquer coisa, Thor disse: — Preciso desligar, amor. A linha ficou muda. Celina ficou ali, olhando para a tela do celular, ouvindo em sua memória, o tom íntimo com que aquela mulher o chamava. O estômago revirou, a cabeça girou. A angústia tomou conta. Sem pensar, ela correu para o banheiro do quarto e vomitou violentamente. O corpo todo tremia, o suor frio escorria por todo seu corpo. Sentada no chão, abraçando as próprias pernas, Celina tentava, em vão, recuperar o controle sobre si mesma. Mas o coração parecia ter sido arrancado do peito. Depois de um longo tempo, ela levantou
Thor chamou por Celina, mas não a encontrou na sala de jantar, nem na cozinha.— Celina? — chamou outra vez, estranhando o silêncio.Quando estava prestes a subir as escadas para procurá-la, ela apareceu no topo da escada.Thor parou. O fôlego, literalmente, lhe faltou.Celina descia os degraus com uma graciosidade hipnotizante.O vestido verde esmeralda realçava suas curvas de maneira elegante e sutil, o tecido fluindo como água a cada movimento.O coque solto deixava fios dourados emoldurando seu rosto, e a maquiagem suave destacava ainda mais os seus olhos verdes, intensos como um campo iluminado pelo sol.Ela era a visão mais linda que Thor já tinha visto.Sem conseguir se conter, ele estendeu a mão para ela.— Você está... maravilhosa — disse, a voz rouca de admiração.Celina, com uma expressão serena e controlada, aceitou a mão dele e respondeu com um simples:— Obrigada.Sem emoção. Sem brilho.Thor sentiu a frieza, mas ignorou, determinado a fazer daquela noite algo especial.
O mar se estendia no horizonte escuro, salpicado de luzes distantes.E pela primeira vez em muito tempo, Celina se sentiu como o próprio mar:imenso por fora, mas em tempestade silenciosa por dentro.O carro, agora, se aproximava do luxuoso hotel onde seria o jantar.As luzes douradas refletiam na lataria, as pessoas elegantes já chegavam em trajes de gala.Celina respirou fundo e soltou a pedra da gargantilha.Forçou-se a lembrar: Ela era forte.Independente.Não seria mais derrubada sem lutar.Quando Thor estacionou e se virou para ela sorrindo, Celina colocou o sorriso mais perfeito que tinha.Era hora de vestir a máscara.Era hora de encenar, mais uma vez, a mulher perfeita ao lado do homem perfeito.Mas, lá dentro...lá dentro, sua alma já começava a sangrar.Thor desceu do carro primeiro. Ajustou o paletó impecavelmente alinhado ao corpo atlético e contornou o veículo para abrir a porta para Celina.Ela deslizou para fora do carro como uma deusa caída do céu — o vestido verde es
Louis Davenport.— Senhoritas — disse ele com um sorriso polido, curvando a cabeça num cumprimento —, se me permitem, gostaria de roubar alguns minutos da companhia da bela dama de verde.Todas riram, achando graça, empurrando gentilmente Celina para frente.O coração dela pulou dentro do peito.Ela não queria.Tudo nela dizia para permanecer ali, onde Thor podia vê-la.Onde Thor podia protegê-la.Mas recusá-lo seria causar uma cena.E naquele salão... cenas eram mortais.Celina se levantou, o sorriso perfeito nos lábios, e aceitou o braço que Louis ofereceu.Thor viu tudo.De onde estava, viu Louis se aproximar.Viu Celina se levantar.Viu a mão de Louis tocando, mesmo que de leve, seu braço.O sangue ferveu em suas veias.Disfarçando com maestria, Thor terminou sua frase para o magnata ao lado e, de maneira natural, reposicionou-se, colocando-se de frente para onde Celina e Louis agora conversavam.Não tirava os olhos dela.Celina sentia o peso do olhar de Thor como uma corrente inv
Foi então que Verônica surgiu deslumbrante.— Thor, querido! — ela exclamou, envolvendo-o em um abraço exagerado.Thor correspondeu com um toque mecânico, frio.Verônica virou-se então para Celina com sorriso nos lábios.— Celina, você está linda! Celina apenas inclinou a cabeça, sem esconder o desprezo que sentia.Verônica ajeitou a bolsa no ombro e disse com uma voz doce:— Ah, está na hora da entrevista, vim te buscar!Antes de sair, como se tivesse se lembrado de algo muito importante, Verônica riu e estendeu a mão para Thor, segurando algo entre os dedos.— Já ia esquecendo, Thor... — disse, entregando-lhe uma caneta elegante. — Você esqueceu isso comigo hoje à tarde.O sangue fugiu do rosto de Celina.Seu estômago se revirou.Era como se um punhal tivesse perfurado seu peito.A lembrança do batom vermelho na camisa de Thor invadiu sua mente com uma força brutal.Verônica.Era Verônica.O mundo pareceu girar ao redor dela.Thor pegou a caneta automaticamente, mas percebeu a muda