Thor colocou o copo de uísque com força sobre a mesa da sala, o som seco ressoando no ambiente silencioso da cobertura. Em seguida, fechou a garrafa com brusquidão, mas sua inquietação não cessou. Pegou novamente o copo, agora pela metade, e caminhou até a enorme janela de vidro que ocupava toda a parede. Do outro lado, o mar do Golfo se estendia tranquilo sob o céu da tarde, contrastando violentamente com o caos que se instalava dentro dele. Levou o copo aos lábios e tomou mais um gole, sentindo o líquido arder pela garganta. Ele não estava sabendo lidar com aquilo. Com ela. Com os sentimentos que Celina despertava. Era como se ela o desestruturasse por dentro, derrubando cada uma das muralhas que ele construiu com tanto empenho. E ele odiava isso. Odiava estar fora do controle. Pensava nela no quarto ao lado, e isso o deixava ainda mais furioso. Apertou o maxilar e fechou os olhos com força, como se pudesse apagar aquela imagem da mente. — Droga... — murmurou. O copo agora va
Angélica estava com coração na mão. Ela era uma pessoa que não suportava ver o sofrimento de ninguém, principalmente dos que amava. Isabela continuou com a encenação e respondeu sua sogra: — Mas eu o amo — fingiu um soluço. — Eu amo demais seu filho. E ele está me deixando de lado… nem marca a data do nosso casamento. Eu tô começando a achar que ele tá me enrolando. Angélica suspirou. — Não diga isso. Às vezes o Thor precisa de tempo. Ele sofreu tanto depois que ficou viúvo… Mas ele escolheu você, Isabela. Não duvide disso. — Mas eu tô ficando deprimida com tudo isso. Eu me sinto invisível… sem valor. — fingiu mais uma vez, agora com a voz mais embargada. — Me ajuda, dona Angélica. Fala com ele. Eu só quero ser feliz com o homem que eu amo. Do outro lado da linha, houve um silêncio compreensivo. — Eu vou falar com ele, sim. E você, querida, tenta manter a calma. Nada de precipitações. Eu gosto muito de você. — Obrigada… obrigada mesmo. — disse Isabela, antes de desligar,
O impulso de girar a maçaneta foi imediato. Queria ver se ela estava bem. Queria dizer… alguma coisa. Mas então lembrou da briga. Do olhar que ela lhe lançou. Das palavras duras. Sentiu o peito apertar, a vergonha do próprio comportamento ainda latente. Antes que decidisse abrir a porta, algo o distraiu: o toque do celular dela, vibrando sobre a cama. Ele olhou sem intenção de se aproximar, mas o nome que apareceu no visor o fisgou: "Gabriel." Seu sangue ferveu. Ele ficou paralisado por dois segundos. O celular tocou até parar, e por um momento tudo ficou em silêncio — exceto pelo som do chuveiro, ainda constante. Foi então que uma notificação apareceu na tela. “Linda, estou com saudades.” Thor pegou o celular sem pensar. Leu aquela frase e sentiu algo rasgar por dentro. Ficou parado por um momento, absorvendo o impacto. Seu peito se contraiu. Ele não tinha absolutamente nenhum direito de sentir nada, mas a sensação de desconforto foi inevitável. Celina fora aventura
A noite caía lentamente sobre Dubai, tingindo o céu de tons dourados e púrpura. A suíte de luxo parecia mais fria do que o ar-condicionado poderia justificar. Thor estava de pé na varanda, com uma nova garrafa de uísque em cima da mesa. Ele ainda sentia o gosto amargo da discussão com Celina, a conversa que ouviu dela com Gabriel e daquilo que se recusava a nomear: dor. Quando o celular vibrou em cima do aparador, ele respirou fundo. Estava pronto para ignorar de novo, mas ao ver o nome da mãe na tela, hesitou. "Mãe" Atendeu, limpando a garganta e tentando soar menos destruído do que estava. — Oi, mãe. — Oi, meu filho… você está bem? Thor fechou os olhos por um segundo. A voz dela era um afago, mas também um gatilho. Ela sempre soube quando ele não estava bem. — Estou... — mentiu. — Um pouco cansado. Muitas reuniões. — Você não parece cansado, parece abatido. — disse com leveza. — O que está acontecendo, Thor? Ele andou até a poltrona e sentou-se, apoiando o cotovelo
Thor a encarou, sério, o maxilar tenso. — Exatamente. A gente mal se conhece. E mesmo assim, você mexe comigo de um jeito que me tira do eixo — disse, quase num desabafo impulsivo, mas em seguida se calou, como se tivesse falado demais. Celina ficou imóvel por alguns segundos, surpresa com a sinceridade inesperada. Thor voltou a falar: — Você sempre parece estar escondendo alguma coisa — disse enfim, a voz mais baixa, carregada de algo que se parecia com frustração. — E você sempre parece querendo controlar o que não tem direito — retrucou, com firmeza. Houve um silêncio tenso entre os dois. Thor bebeu um gole do uísque. Celina voltou a comer, ainda que o apetite tivesse diminuído drasticamente. Thor inclinou o corpo para frente, a voz baixa, mas cheia de veneno. — O que eu não entendo, Celina, é essa sua pose de mulher ferida, quando claramente... já seguiu em frente. Ou será que foi só uma noite também com ele? Ela pousou os talheres sobre o prato com cuidado. — Eu
Num impulso quase inconsciente, Thor puxou Celina para si, encaixando o corpo dela contra o seu, como se só assim conseguisse respirar em paz. Celina despertou assustada. Olhou para ele, confusa, com os olhos ainda pesados de sono. Os rostos estavam próximos demais. O silêncio entre eles, intenso demais. Ela abriu a boca para perguntar algo. — Thor? — A voz de Celina saiu baixa, rouca pelo sono e pela surpresa. Os olhos dela, ainda meio perdidos, o encontraram no escuro. O quarto estava quieto, mas a presença dele era tudo, menos silenciosa. O corpo quente contra o dela, o braço ao redor da cintura, o cheiro familiar de perfume e algo a mais… algo que a fazia se sentir protegida e confusa ao mesmo tempo. Thor não respondeu de imediato. Apenas fechou os olhos e respirou fundo, como se aquele momento fosse a única paz que conhecia desde que chegara a Dubai. — O que está fazendo? — ela perguntou, com um tom mais firme agora, ainda que baixo. — Tentando dormir — ele disse, po
Celina desbloqueou a tela e leu a mensagem: "Bom dia, Celina. Durante o dia, as reuniões serão exclusivas para os acionistas homens, então você terá a manhã e tarde livres. Às 19h, um carro estará esperando na porta do hotel para levá-la ao jantar de negócios. Estarei te esperando lá. Ah, deixei café esperando por você na mesa da sala. PS.: Dormir ao seu lado pode se tornar um vício perigoso." Celina não conteve o sorriso. Era um sorriso radiante, bobo, daquele tipo que foge do controle antes mesmo da razão se manifestar. Ela sentiu o friozinho na barriga, o coração acelerar. — O que é isso, Celina? — sussurrou, fechando os olhos. — Você precisa se acalmar. Thor é inconstante. Um dia quente, no outro, um iceberg. Tentou se levantar, afastar as lembranças da noite anterior, a forma como ele a tocou, como a abraçou… como sussurrou palavras sem dizer nenhuma em voz alta. Mas era inútil. A lembrança dele, o cheiro dele no travesseiro, a mensagem… tudo nela gritava o nome dele. E
Depois do café da manhã que Thor havia mandado preparar, Celina voltou para o quarto sentindo-se leve, mas também tomada por um turbilhão de pensamentos. Abriu o closet e ficou parada ali, encarando os dois vestidos que tinha separado para o jantar daquela noite: o preto clássico de tecido leve, justo na medida certa, ou o verde esmeralda que destacava ainda mais seus olhos. Ela passou os dedos pelo cabide do vestido verde, mas logo seus olhos voltaram ao preto. — Hoje vai ser o preto — murmurou para si mesma, decidida. Era elegante, sóbrio, intenso… como a noite que ela pressentia que teria. O som do celular interrompeu seus devaneios. Ela olhou a tela e sorriu ao ver o nome de Gabriel piscando ali. — Gabriel? — atendeu com a voz suave. — Oi, moça bonita — disse ele com aquele tom sempre encantador. — Só queria saber como você está… acabei de chegar em casa agora, saí pra cantar num bar aqui perto. Foi incrível, mas confesso que fiquei pensando em você a noite toda. — Ah,