O Rolls-Royce disponibilizado pelo próprio hotel parou em frente à entrada imponente do Jumeirah Burj Al Arab, um dos mais luxuosos hotéis do mundo, com sua arquitetura icônica em forma de vela reluzindo sob as luzes noturnas de Dubai. Celina saiu do carro com postura impecável, profissional, mesmo com os nervos latejando sob a pele. Estava decidida a manter o máximo de profissionalismo possível — ainda que estivesse prestes a passar alguns dias sob o mesmo teto que Thor Miller. Thor caminhava ao lado dela com a elegância e o silêncio que o tornavam ainda mais intimidador. Seu olhar permanecia fixo à frente, com uma expressão impenetrável, como se ignorasse por completo a presença da mulher que dividia com ele a viagem. Ao adentrar o saguão, os dois foram recebidos por uma recepcionista com um sorriso contido e olhos atentos. Sem demora, ela encaminhou-se a um terminal para verificar os dados da reserva. — Bom dia. Sejam bem-vindos ao Burj Al Arab. Poderiam me passar o nome da
A porta da suíte se abriu com um leve clique e, imediatamente, o concierge entrou com as malas. O ambiente era amplo, moderno, e as janelas de vidro do chão ao teto ofereciam uma vista hipnotizante para o Golfo Pérsico, onde o sol da manhã cintilava sobre as águas calmas como uma miragem dourada. “Malas entregues, senhor,” disse o concierge, com um leve sorriso profissional, já se dirigindo para a saída. Thor tirou uma nota generosa da carteira e a entregou ao rapaz, que agradeceu discretamente com um leve aceno de cabeça antes de desaparecer pelo corredor silencioso. Celina entrou logo atrás e parou no centro do quarto. Seus olhos foram imediatamente atraídos pela paisagem além do vidro — uma imensidão azul, serena e silenciosa que parecia não ter fim. Por um momento, ela se perdeu ali. Uma sensação estranha a invadiu, como se aquela vista simbolizasse o abismo que agora existia entre ela e tudo que acreditava sobre sua vida. E, ao mesmo tempo, uma pergunta martelava sua mente:
Atravessando o imponente saguão do restaurante reservado no Jumeirah Burj Al Arab, Celina caminhava ao lado de Thor com a elegância de quem sabia que todos os olhares estavam sobre ela. E estavam. Cada passo, cada movimento suave, cada balanço sutil dos cabelos castanhos perfeitamente escovados deixava um rastro de silêncio admirado e pescoços se virando discretamente. Thor Miller, à frente, percebia os olhares masculinos que se voltavam para ela. A percepção era incômoda, como uma irritação constante debaixo da pele. Aquilo o contrariava, embora ele mesmo não compreendesse por quê. Sua expressão mantinha-se fria, os olhos como gelo, e o maxilar contraído denunciava a tensão. Ao entrarem no espaço reservado, uma mesa com quatro acionistas estrangeiros e uma mulher os aguardava. Homens poderosos, acostumados com ambientes de luxo e negociações bilionárias. Levantaram-se para cumprimentar Thor, que retribuiu com um aceno seco e firme. Em seguida, apresentou Celina com poucas palavras
Celina se virou com um susto, os olhos encontrando os dele, que estavam tão próximos, tão intensos, tão perigosamente contidos. — Você acha que pode me provocar daquele jeito e simplesmente me ignorar? — Thor sussurrou, a voz grave e baixa, mas repleta de algo que ela não soube identificar de imediato. Raiva? Desejo? Um misto enlouquecedor dos dois? Celina tentou soltar o braço, o coração disparado, mas estava paralisada. Pelo toque. Pelo olhar. Pela tensão que se acumulava feito tempestade prestes a romper. E foi ali, naquele exato momento, que ela percebeu: algo entre eles estava prestes a explodir. A porta da suíte ainda balançava suavemente atrás deles quando o silêncio pesado voltou a tomar conta do ambiente. A tensão, antes contida no olhar trocado na reunião, agora tomava forma na distância entre os dois, como uma tempestade prestes a desabar. Thor ainda segurava o braço de Celina com firmeza, como se quisesse extrair alguma resposta daquela pele quente sob seus dedos.
Thor colocou o copo de uísque com força sobre a mesa da sala, o som seco ressoando no ambiente silencioso da cobertura. Em seguida, fechou a garrafa com brusquidão, mas sua inquietação não cessou. Pegou novamente o copo, agora pela metade, e caminhou até a enorme janela de vidro que ocupava toda a parede. Do outro lado, o mar do Golfo se estendia tranquilo sob o céu da tarde, contrastando violentamente com o caos que se instalava dentro dele. Levou o copo aos lábios e tomou mais um gole, sentindo o líquido arder pela garganta. Ele não estava sabendo lidar com aquilo. Com ela. Com os sentimentos que Celina despertava. Era como se ela o desestruturasse por dentro, derrubando cada uma das muralhas que ele construiu com tanto empenho. E ele odiava isso. Odiava estar fora do controle. Pensava nela no quarto ao lado, e isso o deixava ainda mais furioso. Apertou o maxilar e fechou os olhos com força, como se pudesse apagar aquela imagem da mente. — Droga... — murmurou. O copo agora va
Angélica estava com coração na mão. Ela era uma pessoa que não suportava ver o sofrimento de ninguém, principalmente dos que amava. Isabela continuou com a encenação e respondeu sua sogra: — Mas eu o amo — fingiu um soluço. — Eu amo demais seu filho. E ele está me deixando de lado… nem marca a data do nosso casamento. Eu tô começando a achar que ele tá me enrolando. Angélica suspirou. — Não diga isso. Às vezes o Thor precisa de tempo. Ele sofreu tanto depois que ficou viúvo… Mas ele escolheu você, Isabela. Não duvide disso. — Mas eu tô ficando deprimida com tudo isso. Eu me sinto invisível… sem valor. — fingiu mais uma vez, agora com a voz mais embargada. — Me ajuda, dona Angélica. Fala com ele. Eu só quero ser feliz com o homem que eu amo. Do outro lado da linha, houve um silêncio compreensivo. — Eu vou falar com ele, sim. E você, querida, tenta manter a calma. Nada de precipitações. Eu gosto muito de você. — Obrigada… obrigada mesmo. — disse Isabela, antes de desligar,
O impulso de girar a maçaneta foi imediato. Queria ver se ela estava bem. Queria dizer… alguma coisa. Mas então lembrou da briga. Do olhar que ela lhe lançou. Das palavras duras. Sentiu o peito apertar, a vergonha do próprio comportamento ainda latente. Antes que decidisse abrir a porta, algo o distraiu: o toque do celular dela, vibrando sobre a cama. Ele olhou sem intenção de se aproximar, mas o nome que apareceu no visor o fisgou: "Gabriel." Seu sangue ferveu. Ele ficou paralisado por dois segundos. O celular tocou até parar, e por um momento tudo ficou em silêncio — exceto pelo som do chuveiro, ainda constante. Foi então que uma notificação apareceu na tela. “Linda, estou com saudades.” Thor pegou o celular sem pensar. Leu aquela frase e sentiu algo rasgar por dentro. Ficou parado por um momento, absorvendo o impacto. Seu peito se contraiu. Ele não tinha absolutamente nenhum direito de sentir nada, mas a sensação de desconforto foi inevitável. Celina fora aventura
A noite caía lentamente sobre Dubai, tingindo o céu de tons dourados e púrpura. A suíte de luxo parecia mais fria do que o ar-condicionado poderia justificar. Thor estava de pé na varanda, com uma nova garrafa de uísque em cima da mesa. Ele ainda sentia o gosto amargo da discussão com Celina, a conversa que ouviu dela com Gabriel e daquilo que se recusava a nomear: dor. Quando o celular vibrou em cima do aparador, ele respirou fundo. Estava pronto para ignorar de novo, mas ao ver o nome da mãe na tela, hesitou. "Mãe" Atendeu, limpando a garganta e tentando soar menos destruído do que estava. — Oi, mãe. — Oi, meu filho… você está bem? Thor fechou os olhos por um segundo. A voz dela era um afago, mas também um gatilho. Ela sempre soube quando ele não estava bem. — Estou... — mentiu. — Um pouco cansado. Muitas reuniões. — Você não parece cansado, parece abatido. — disse com leveza. — O que está acontecendo, Thor? Ele andou até a poltrona e sentou-se, apoiando o cotovelo