O perfume de Thor naquela manhã — forte, amadeirado, intenso como ele — começou a embrulhar seu estômago. A náusea subia pela garganta e se misturava ao nervosismo de estar ao lado dele, à lembrança do olhar fulminante que ele lançara a Roberto e à pressão que ela mesma colocava sobre si por parecer estar no lugar errado, na hora errada, com a pessoa errada. Tentou respirar fundo. Uma, duas vezes. Em vão. A tensão no carro era quase palpável. E Thor, alheio — ou fingindo estar —, mantinha o olhar fixo na estrada, os punhos apertados no volante, a mandíbula travada. O silêncio era uma tortura. Um campo minado de palavras não ditas e sentimentos reprimidos. Celina fechou os olhos por um instante e levou a mão ao abdômen. O enjoo ganhou força. — Thor... — ela murmurou, com a voz fraca. Ele não respondeu. — Thor, para o carro... por favor... agora. Ele olhou rapidamente para ela pelo retrovisor interno e viu seu rosto pálido, suando frio. Sem pensar duas vezes, puxou o carro
Celina pegou os talheres com mais força do que deveria. Começou a comer, mas mal conseguia engolir a comida. O cheiro do molho parecia enjoativo, o gosto nem se destacava. Thor, por outro lado, comia tranquilamente, distraído com algum documentário passando na tela à sua frente. Celina respirou fundo. Será que estou exagerando? — pensou. Ou será que ele está mesmo fingindo que não percebeu? Tentou forçar a barra e comer mais um pouco. Cada garfada parecia pesar uma tonelada. Definitivamente tudo estava sem gosto. A presença incômoda da aeromoça e a maneira como ela flertava descaradamente com Thor, tirou completamente sua concentração, perdendo seu apetite. A dúvida que tinha sobre a postura dele mediante aquela constrangedora cena, a corroía por dentro. Com o seu suposto "incômodo", não estava conseguindo discernir se ele realmente estava alheio ou fingindo não notar. Parecia tranquilo, entretido com um documentário qualquer. Exausta, Celina pegou a taça e bebeu um pouco de água
Celina continuava sentada na poltrona, estática, os olhos arregalados ainda tentando processar a cena que presenciara minutos antes. O coração batia acelerado, como se quisesse sair pela boca. O quarto do jatinho... Thor... e a aeromoça. Ela levou a mão à cabeça, tentando conter a confusão. Por que aquilo a abalava tanto? Eles não tinham nada. Thor era apenas seu chefe. Um homem livre, capaz de fazer o que quisesse da própria vida. E ela? Ela foi apenas uma noite. Uma maldita noite de entrega que, para ele, provavelmente não significou nada. As lágrimas começaram a cair antes que pudesse contê-las. Escorreram silenciosamente, quentes, carregando um misto de raiva, frustração e, acima de tudo, dor. Por que doía tanto? O celular tocou em seu colo. A tela acendeu com o nome: César. Uma chamada de vídeo no W******p. Celina olhou para o aparelho como se fosse um inimigo e, sem hesitar, apertou para recusar. A última coisa que queria era ouvir a voz do homem que destruiu sua vida uma vez.
Thor passou a mão pelo pescoço, nervoso tentando aliviar a tensão. Como se a tensão o estivesse sufocando, mas ela só aumentava. As lembranças vinham em ondas: o corpo de Celina se afastando, o olhar dela cravado no dele, a dor estampada no rosto dela, a forma como ela ficou ao vê-lo ali, no quarto, com a aeromoça. A reação dela… aquilo o atingiu em cheio. Aquilo mexia com ele mais do que estava disposto a admitir. Voltou a fitar o espelho, agora com um semblante endurecido, forjando a armadura que conhecia tão bem. Concluiu o que já tentava repetir como um mantra. — Foi melhor assim… — disse o olhar mais sombrio agora, em voz baixa, como se precisasse acreditar na própria mentira. — Agora ela não vai nutrir nenhum sentimento por mim. Vai me odiar. E é isso que eu quero… é isso que eu preciso. Ele fechou os olhos, engolindo em seco. — Nunca mais vou me prender a mulher nenhuma. Nunca mais vou dar a alguém o poder de me destruir. A frase ecoou no banheiro silencioso como uma
Do lado de fora do banheiro, Thor continuava sentado na poltrona, tentando focar no notebook. Mas não conseguia. As palavras de Celina ecoavam em sua mente. A firmeza com que ela o enfrentara. O olhar machucado. E agora, o silêncio... um silêncio pesado, preenchido apenas pelo leve som abafado de choro que escapava pelas frestas da porta. Ele apertou os punhos sobre os braços da poltrona, lutando consigo mesmo. Não queria sentir. Não queria se importar. Mas algo dentro dele o corroía por dentro, como uma lâmina fria arranhando a consciência. Thor se levantou e caminhou até a porta do banheiro. Encostou-se à madeira, fechando os olhos, respirando fundo. Ele ouvia os soluços abafados de Celina. Por um momento, sua mão subiu, como se fosse bater na porta… mas ele recuou. — Não se envolva. Não de novo — sussurrou para si mesmo, voltando lentamente para a poltrona. Celina, lá dentro, permanecia sentada no chão, os braços cruzados sobre os joelhos e o rosto enterrado neles. Sua m
O Rolls-Royce disponibilizado pelo próprio hotel parou em frente à entrada imponente do Jumeirah Burj Al Arab, um dos mais luxuosos hotéis do mundo, com sua arquitetura icônica em forma de vela reluzindo sob as luzes noturnas de Dubai. Celina saiu do carro com postura impecável, profissional, mesmo com os nervos latejando sob a pele. Estava decidida a manter o máximo de profissionalismo possível — ainda que estivesse prestes a passar alguns dias sob o mesmo teto que Thor Miller. Thor caminhava ao lado dela com a elegância e o silêncio que o tornavam ainda mais intimidador. Seu olhar permanecia fixo à frente, com uma expressão impenetrável, como se ignorasse por completo a presença da mulher que dividia com ele a viagem. Ao adentrar o saguão, os dois foram recebidos por uma recepcionista com um sorriso contido e olhos atentos. Sem demora, ela encaminhou-se a um terminal para verificar os dados da reserva. — Bom dia. Sejam bem-vindos ao Burj Al Arab. Poderiam me passar o nome da
A porta da suíte se abriu com um leve clique e, imediatamente, o concierge entrou com as malas. O ambiente era amplo, moderno, e as janelas de vidro do chão ao teto ofereciam uma vista hipnotizante para o Golfo Pérsico, onde o sol da manhã cintilava sobre as águas calmas como uma miragem dourada. “Malas entregues, senhor,” disse o concierge, com um leve sorriso profissional, já se dirigindo para a saída. Thor tirou uma nota generosa da carteira e a entregou ao rapaz, que agradeceu discretamente com um leve aceno de cabeça antes de desaparecer pelo corredor silencioso. Celina entrou logo atrás e parou no centro do quarto. Seus olhos foram imediatamente atraídos pela paisagem além do vidro — uma imensidão azul, serena e silenciosa que parecia não ter fim. Por um momento, ela se perdeu ali. Uma sensação estranha a invadiu, como se aquela vista simbolizasse o abismo que agora existia entre ela e tudo que acreditava sobre sua vida. E, ao mesmo tempo, uma pergunta martelava sua mente:
Atravessando o imponente saguão do restaurante reservado no Jumeirah Burj Al Arab, Celina caminhava ao lado de Thor com a elegância de quem sabia que todos os olhares estavam sobre ela. E estavam. Cada passo, cada movimento suave, cada balanço sutil dos cabelos castanhos perfeitamente escovados deixava um rastro de silêncio admirado e pescoços se virando discretamente. Thor Miller, à frente, percebia os olhares masculinos que se voltavam para ela. A percepção era incômoda, como uma irritação constante debaixo da pele. Aquilo o contrariava, embora ele mesmo não compreendesse por quê. Sua expressão mantinha-se fria, os olhos como gelo, e o maxilar contraído denunciava a tensão. Ao entrarem no espaço reservado, uma mesa com quatro acionistas estrangeiros e uma mulher os aguardava. Homens poderosos, acostumados com ambientes de luxo e negociações bilionárias. Levantaram-se para cumprimentar Thor, que retribuiu com um aceno seco e firme. Em seguida, apresentou Celina com poucas palavras