Priscila Narrando O sábado estava sendo mais tranquilo do que eu imaginava. Após a correria da semana, eu realmente precisava de um momento só meu, mas a ideia de fazer um almoço diferente me animou. Então, mandei mensagem para a Lívia, minha amiga de longa data, convidando-a para almoçar aqui em casa. A gente sempre se diverte quando se encontra, e eu estava precisando de algo leve, sem a pressão do trabalho ou dos problemas. Só um bom papo e comida gostosa.Ela chegou mais tarde, um pouco atrasada como sempre, mas com aquele sorriso grande e contagiante, que já me fazia rir só de olhar. Preparei uma mesa simples, mas acolhedora, com um cardápio que eu sabia que ela adoraria: risoto de camarão e uma salada fresquinha para acompanhar. A gente se sentou à mesa e começou a conversar sobre tudo. Falamos sobre o trabalho, a vida, e até sobre a minha recente separação, algo que, apesar de ser um tópico difícil, parecia mais leve com ela ali.Lívia sabia o que eu passei, o quanto eu lutei
Everton Narrando Quando ela abriu a porta, meu coração deu um pulo no peito.Priscila. Linda, com aquele olhar desconfiado e firme. Sempre tão forte, mesmo quando eu sabia que ela estava tentando esconder o quanto eu ainda a afetava. Ela não disse nada de imediato, só me encarou como se estivesse tentando decifrar se eu era real ou só mais um problema batendo à porta.E, sinceramente? Eu não a culpo. Eu ferrei tudo. De novo.— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, com aquele tom que misturava surpresa, raiva contida e... algo mais. Algo que me deu esperança.Por um segundo, eu congelei. Queria falar tudo, dizer que não parei de pensar nela desde o dia em que a vi de novo. Que aquele lenço antigo que mandei era só a primeira desculpa pra bagunçar tudo nela de novo. Mas eu fiquei em silêncio. Eu não sou bom com sentimentos. Eu ajo, corro atrás, tomo decisões rápidas... mas com ela? Eu travo.— Eu... precisava falar com você, Pri — foi tudo que consegui dizer, e até isso saiu c
Sophie Narrando Eu não vou descansar.Enquanto a Priscilazinha estiver no caminho, eu não vou ter paz. Everton é meu, sempre foi, e ele pode até tentar negar agora… mas eu sei que, no fundo, ainda sente alguma coisa. Sempre sente. Ele só tá confuso, enfeitiçado por essa mulherzinha com cara de santa e ar de coitada.Ela acha que pode aparecer com esse papel de mãe solteira batalhadora e conquistar o homem que eu moldei pra ser o que é hoje? Por favor. Everton cresceu ao meu lado. Quem conhece os fantasmas dele, as ambições, os limites e as fraquezas sou eu. Não essa qualquer aí.Eu vi o jeito que ele me olhou naquela última vez… tentando disfarçar, mas os olhos não mentem. E não importa se ele tá bravo agora. Vai passar. Sempre passa. A raiva dele nunca dura, principalmente quando eu me aproximo do jeito certo.E se eu tiver que sujar minhas mãos pra tirá-la do caminho… que seja.Já descobri o ponto fraco da Priscila. Já vi onde ela mora. Conheço os horários dela. Sei que ela tem um
Priscila Narrando O dia estava se arrastando. Eu ainda podia sentir a tensão da Sophie na minha pele, como se ela tivesse deixado uma marca invisível por onde passou. O sorriso falso, a provocação disfarçada… tudo aquilo me irritava profundamente, mas de alguma forma, também mexia comigo. Eu não queria admitir, mas Sophie tinha o poder de me desequilibrar.E então, logo depois dela sair da loja, eu me peguei pensando no que ela tinha dito. Ela não estava apenas ali para comprar algo — ela estava ali para me observar, para me provocar. E eu… Eu caí na armadilha. Mesmo sabendo que ela estava jogando sujo, a frase dela ficou ecoando na minha cabeça.“Eu e o Everton temos uma história intensa, sabe? Às vezes o passado grita alto demais pra ser ignorado.”Eu olhei para o relógio. Era hora de fechar a loja. O dia havia sido longo, cansativo, e ainda assim, parecia que tudo ao meu redor estava girando mais rápido do que eu conseguia acompanhar. Eu queria estar em casa, longe de tudo isso, l
Everton Narrando A porta se fechou atrás de mim com um som seco, e por um instante, fiquei ali parado, sem saber o que fazer. A conversa com a Pri me deixou com uma sensação de vazio que parecia não ter fim. Ela estava decidida, eu sabia disso. E eu… eu sabia que não tinha mais como voltar atrás. Não depois de tudo o que fiz.Eu tentei, Deus sabe o quanto eu tentei. Fui até ela, disse o que achava que era certo, tentei mostrar que as coisas podiam ser diferentes entre nós. Mas, no fundo, eu sabia que as palavras nunca seriam suficientes. Não depois de tudo o que ela passou, não depois de como eu a tratei.Ainda podia sentir o peso do olhar dela sobre mim, o jeito firme com que falou, sem hesitar. Eu podia ver a dor, o medo de se entregar de novo, e, por mais que eu quisesse fazer tudo certo dessa vez, algo dentro de mim me dizia que talvez fosse tarde demais.— Eu não sou um plano de segunda opção, Everton. Essas palavras ecoavam na minha mente como um soco no estômago. Eu sabia que
Priscila Narrando Eu estava tão perdida naquela situação. Ver o Everton ali, sentado ao meu lado, foi como se uma onda de emoções viesse à tona de uma vez só. Ele havia prometido que estaria ao meu lado, mas eu não sabia se podia confiar nele novamente. Depois de tudo, como eu poderia simplesmente abrir meu coração e acreditar nas palavras dele?O meu filho, o meu pequeno Luís, estava ali na sala, imerso em seu jogo, mas sua inocência contrastava com a tempestade dentro de mim. Eu não sabia o que fazer, como agir. Como explicar para o meu filho que o pai dele, o homem com quem eu passei anos, tinha sumido sem deixar rastros?Everton me disse que ia me ajudar, e eu queria acreditar nele. Eu queria tanto, mas o medo de me machucar novamente me consumia. Como confiar em alguém que, por mais que eu ainda o amasse de alguma forma, me havia deixado no passado?— Eu não quero mais perder tempo, Pri — Ele disse, quebrando o silêncio que eu nem sabia como interromper. —Eu sei que te machuquei
Luis Fernando Eu não conseguia tirar a imagem da Priscila da cabeça desde que a encontrei no mercado. Ela estava ainda mais linda do que eu lembrava... e agora parecia ainda mais forte, mais madura. E o pior: parecia completamente distante de mim.Era como se eu tivesse levado um soco no estômago quando ela me olhou como se eu fosse apenas... um passado apagado.Depois daquele encontro, fiquei remoendo tudo. A saudade do Luís me consumia também. Eu sentia falta do meu filho todos os dias, mas sabia que não tinha o direito de cobrar nada, não depois das merdas que eu fiz.Mas eu não conseguia ficar parado. Eu precisava tentar me reaproximar deles de algum jeito. Talvez eu ainda tivesse alguma chance... alguma fagulha de esperança que me permitisse, ao menos, ser parte da vida do meu filho — e, quem sabe, reconquistar a Priscila.Peguei o celular, pensei em mandar uma mensagem, mas acabei só encarando a tela, sem coragem.No fundo, eu sabia: antes de qualquer coisa, eu precisava mudar.
Everton Narrando Assim que saí do prédio onde tinha resolvido umas pendências, meu celular vibrou no bolso da calça. Tirei o aparelho com uma mão só, enquanto a outra segurava a chave do carro.Era uma mensagem da Priscila.Meu peito deu um aperto estranho. Toda vez que o nome dela aparecia na tela, parecia que o mundo desacelerava por uns segundos.Abri a mensagem rápido.Ela dizia que o Luiz Fernando, aquele idiota que nunca valorizou a mulher incrível que tinha, havia procurado ela para falar do filho dos dois. E, mesmo tentando agir com maturidade, dava pra sentir pela forma como ela escreveu que isso mexeu com ela. Com eles.Fechei a mão em punho, respirando fundo. Eu queria resolver tudo por ela, queria arrancar qualquer dor ou preocupação que ela carregasse. Mas Priscila era orgulhosa, forte. Ela queria — e merecia — resolver as coisas do jeito dela.Eu precisava dar espaço, mas ao mesmo tempo... não conseguiria simplesmente ficar parado.Dirigi até a frente da casa dela sem n