Anthony Narrando
A manhã amanheceu com aquele ar de calmaria estranha, como se o mundo tivesse respirado fundo antes de jogar outra bomba no colo da gente. Eu tava deitado no sofá da área externa, camisa aberta, um copo de café forte na mão, e a cabeça girando nos últimos acontecimentos.
Tudo em São Paulo ainda me parecia recente demais. Os dois que encostaram com a vó da Ana Kelly, a fuga, o tiroteio... Eu não consegui sair de lá sem antes ver o sangue deles no chão. Era questão de honra. Ninguém mexe com idoso, com mulher, com criança, e sai andando.
Ana Kelly apareceu, pé descalço, shortinho de pijama e aquela expressão de quem ainda tava digerindo o que tinha vivido nas últimas horas. Sentou do meu lado, calada, olhando pro nada.
— Tava pensando — comecei, voz baixa. — Aqueles dois que invadiram a casa da tua vó… não foram sozinhos nessa. A ordem veio de cima.
Ela virou o rosto na minha direção, os olhos arregalando devagar.
— Você acha que foi… a Brenda?
— Eu não acho. Eu sei. —