Anthony Narrando
A água já começava a esfriar quando fechei o chuveiro. O corpo dela ainda trêmulo no meu abraço, mas não era mais medo. Era emoção, era alívio, era aquele sentimento de que, mesmo depois do inferno, a gente tinha conseguido sobreviver.
Peguei a toalha com uma das mãos e a enrolei nela devagar, com o maior cuidado do mundo. Cada hematoma no corpo dela me fazia querer voltar no tempo e arrancar o mal pela raiz. Me ajoelhei na frente dela, passei a toalha pelas pernas finas, pelos joelhos marcados. A dor dela agora era minha. Toda. Eu ia cuidar. Ia proteger. Ia fazer esquecer.
— Vem cá — falei baixinho, segurando ela com firmeza enquanto a ajudava a sair do box.
Ela sorriu de leve, com os olhos meio molhados, e se apoiou em mim. Peguei outra toalha e fui secando o cabelo dela com delicadeza, do jeito que minha mãe fazia comigo quando eu era moleque. Ana Kelly fechou os olhos, como se aquele carinho lavasse mais do que o próprio banho.
— Eu tô aqui — sussurrei.
— Eu sei