A imagem de minha sogra Vera, sempre tão sensível, invadiu meus pensamentos. Uma simples gota de água quente já a fazia procurar alguém para soprar o ferimento. Agora, não conseguia sequer imaginar a intensidade da dor que estava suportando.
Tentava recuperar o fôlego quando o telefone tocou. Era o tio Kael.
Antes que pudesse perguntar sobre o dinheiro, ele soltou um suspiro cansado.
— Lyra, como pode se aproveitar do carinho que Victor e Vera têm por você para enganar a todos com essa farsa? Se não tivesse verificado com Leo, estaria agora sendo atendido por um cardiologista!
Minha respiração falhou como motor em pane.
— O que ele te contou? Ele afirmou que planejei tudo com meus sogros?
— Ah, Lyra... Sei que está magoada porque Leo não passou o Dia dos Namorados ao seu lado. Mas vocês estão unidos para toda a vida. Foi apenas um dia, precisa mesmo criar todo esse drama? Às vezes, uma esposa precisa fingir que não vê e seguir em frente.
Engoli em seco, o desespero crescendo como maré alta.
— Tio, isso não tem relação alguma com o Dia dos Namorados. Victor e Vera foram sequestrados!
— Lyra, mentir não combina com você. Sabe tão bem quanto eu que, exceto seus sogros, ninguém naquela casa nutre simpatia por você. Eu até sentia compaixão e tentava ajudar... Mas quem sente pena acaba sendo feito de bobo. Você só queria colocar as mãos na minha poupança, não é mesmo?
O pânico tomou conta de mim ao perceber que não conseguiria reunir os trinta milhões.
— Os agentes do Escritório de Aplicação da Lei estão aqui presentes. Se não confia em mim, posso passar o telefone para eles.
— Lyra, não precisa pedir a alguém que finja ser agente. Sei que ama Leo, mas ele também tem quem ame. E essa pessoa retornou... Se o casamento de vocês está naufragando, talvez seja hora de romper o vínculo.
Encerrei a chamada sem proferir mais uma palavra. Ao desligar, me deparei com David parado à entrada.
Seu semblante estava lívido. Pelo visto, já havia confirmado com os colegas a veracidade do sequestro.
Ele pegou o celular e ligou para Leo.
— Alfa Leo, retorne imediatamente. Seus pais foram mesmo sequestrados pelos Lobos fora da lei.
Mas não foi Leo quem atendeu. Foi Cheryl.
— Ainda insistem nessa história? Já arruinaram meu Dia dos Namorados o suficiente.
David manteve a firmeza e insistiu:
— Cheryl, o sequestro é real. A situação é grave.
Ela riu com desprezo e retrucou com uma voz cheia de veneno:
— Lyra é tão obcecada por Leo que vigia ele como um carcereiro. Mas até prisioneiros merecem um pouco de liberdade, não acha?
— Cheryl, passe o telefone para ele. Agora!
— David, até você embarcou nessa farsa? Seu primo está assando frango. Vou ver se ele deseja atender.
Através da linha, captei a voz de Leo.
— Desligue isso. Essa louca da Lyra não consegue passar um dia sem causar um drama.
A chamada caiu. David franziu o cenho e me encarou com expressão grave.
Soltei um suspiro profundo antes de revelar:
— Os sequestradores ordenaram que o dinheiro seja entregue na destilaria Moonshines. Só consegui metade da quantia. Vou levar assim mesmo. Posicionem-se e fiquem atentos.
Uma das agentes se adiantou:
— Luna Lyra, posso entregar por você.
Balancei a cabeça em negativa.
— Se os sequestradores me reconhecerem? Se você for, pode comprometer toda a operação. Eu mesma vou fazer a entrega.