Lorenzo Ferraz Eu não consigo acreditar. A desgraçada teve coragem de fugir com outro e levar um filho meu na barriga. Uma criança que é minha. Meu sangue. Meu herdeiro. E ela me privou disso… por anos. — Maldita! — cuspi as palavras, a raiva latejando nas têmporas. — Você vai pagar por isso, Celina… ah, se vai. Estou com tanto ódio que mal consigo pensar direito. Uma mistura tóxica de dor e raiva pulsa em cada célula do meu corpo. Fui traído, enganado, roubado. Ela mentiu. Inventou uma namorada que nunca existiu. Jogou na minha cara uma história absurda, tentando me provocar, tentando desviar minha atenção. Como se isso fosse me impedir de enxergar a verdade escancarada no rosto daquele menino. Meu filho. Não sei o que doeu mais: descobrir que ela teve um filho escondido ou perceber que passou os últimos anos transando com outro, grávida de mim. Ela acha que vai continuar fugindo? Não vai. Eu vou tomar o que é meu. Vou tirar dela. O filho é meu, e ela vai ficar sem ele. A
Lorenzo Ferraz A dor de cabeça latejava, como se alguém estivesse martelando dentro da minha cabeça. Tentei ignorar, mas era impossível. Assim que saí da cama, decidi que passaria na farmácia antes de ir para o apartamento. Depois de escovar os dentes e tomar um banho gelado para acordar o corpo, vesti uma roupa básica e saí. Do lado de fora do hotel, chamei um táxi e pedi que parasse primeiro na farmácia da esquina. — Só um minutinho, amigo. Vai ser rápido. Entrei, comprei um analgésico forte, e voltei para o carro. O motorista seguiu em frente e, minutos depois, eu já estava na portaria do prédio da Celina. Toquei o interfone com um leve desconforto no peito, mas determinado. A voz do porteiro atendeu com frieza: — Pois não? — É o Lorenzo. Quero subir para ver Celina e meu filho. Silêncio. Um clique. E então ele respondeu: — Me desculpe, senhor, mas a senhora Celina deixou ordens expressas para não permitir sua entrada no prédio. Senti o sangue ferver. — Como é que é? —
Celina Como assim esse homem nunca foi casado e nunca teve filhos? Meu Deus… Eu não sei mais o que pensar. Ele me chama de traidora como se eu tivesse feito algo horrível, como se o tivesse enganado… Mas eu nunca o traí. Nem em sonho! Vou acabar enlouquecendo, e para piorar, perdi o número das minhas duas melhores amigas. Hoje tenho muitas conhecidas, mas minhas verdadeiras amigas sempre foram a Tamara e as gêmeas… e tenho certeza de que elas vão me matar por ter sumido sem dar notícia. Fiquei tão cega de raiva do Lorenzo que agi por impulso, tomei decisões precipitadas, sem pensar nas consequências. Eu devia ter ido até ele, perguntado o que estava acontecendo, exigido explicações… Mas não. Eu fugi. Fugi com a dor, com a raiva, com o coração despedaçado. E quando descobri a gravidez, até cogitei contar… Mas os meses passaram, Luan nasceu, e eu me calei. A raiva falou mais alto. Ele já tinha uma mulher, um filho. E eu? Uma qualquer sem teto, sozinha, com um bebê nos braços. Que
Celina Alves Lorenzo é tão ciumento… e a raiva que ele sente é tão intensa… que nem percebeu que ainda uso a aliança que ele me deu. Como ele pode pensar que sofreu mais do que eu? Como pode me odiar sem ao menos escutar a verdade? Aquele homem encostou em mim por segundos, e Lorenzo viu aquilo com os olhos do ciúme. Foi o suficiente para acionar seu gatilho. Agora, seu ódio mortal está direcionado a mim. Estou ferrada. Era para eu o odiar também, não era? Mas eu não consigo. Por mais que eu tente, nunca consegui esquecer o que vivi ao lado dele. Porque, com Lorenzo, eu fui verdadeiramente feliz. Com os dedos trêmulos, disquei o número da minha melhor amiga. Nem pensei na hora. O medo apertava meu peito, e minha mente só gritava: liga agora. Eu estava apavorada. E como não estar? A gente vê isso todo dia no noticiário: homens enlouquecendo de ciúmes, matando as mulheres, os filhos, e às vezes até a si mesmos. A raiva cega. O amor doentio também. Mas… Meu Deus, meu amor…
Celina Alves Pensar em tantas coisas fez com que ficasse com uma baita dor de cabeça. Lorenzo acha que vou fugir a qualquer momento e, com isso, ele não sai de perto de Luan. Meu filho, inclusive, estava chamando Lorenzo de papai, e afirmo que é a única hora que vejo Lorenzo sorrir de verdade. Agora, quando ele se dirige a mim, vejo somente ódio em seu olhar. Meu filho também está feliz com o pai: brinca, pula e faz todos os tipos de coisas para chamar a atenção de Lorenzo somente para ele. É a coisa mais linda de se ver. Estou muito triste. Queria que Lorenzo ficasse feliz assim comigo, mas ele me odeia tanto que mal consegue falar comigo e, quando fala, é sempre na base da grosseria. Só falta me bater. Estou arrumando tudo para ir embora com o Lorenzo. Hoje tenho bastante roupa, diferente de quando cheguei aqui com apenas algumas peças. Terminei de arrumar tudo e avisei que estava pronta. Luan já estava de banho tomado, pois o próprio Lorenzo deu banho e o arrumou. Ele me olh
Celina Alves Ana estava na cozinha, arrumando os armários quando entrei, já faminta. O cheiro de comida no ar só reforçava a minha vontade de beliscar algo. Me aproximei devagar e perguntei: — Onde tem alguma coisa que eu possa comer? Ela se virou rapidamente, um pouco surpresa. — Pode deixar que logo servirei a senhora! — Não precisa, não. Pode deixar que eu mesma me sirvo, é só dizer onde estão as coisas — respondi com um meio sorriso. — O que a senhora quer comer? Tem tudo aqui na geladeira — disse ela, apontando com a cabeça. Fui até a geladeira, abri e peguei o básico: pão de forma, presunto e queijo. Preparei o sanduíche exatamente como gostava. Encontrei um suco e me servi, sentando ali mesmo, sem frescura. Enquanto comia, percebi o olhar estranho de Ana sobre mim. Franzi a testa. Provavelmente aquele homem já deve ter feito a minha caveira por aqui. Lorenzo é tão bom nisso quanto em esconder os próprios sentimentos. Ridículo. Terminei meu lanche, lavei o que sujei e me
Lorenzo Ferraz Estamos vivendo em uma casa maravilhosa, longe de tudo e de todos. Se Celina queria riqueza, aqui tem muita. Eu não dou atenção nenhuma a ela, pois, se der, não vou conseguir ficar longe. Minha vontade de abraçá-la é tão grande que chega a doer no meu peito. Está sendo uma droga ficar perto dela e não a tocar, por isso fico bem longe e assim não caio em tentação. Mantive o ódio por ela por tanto tempo... e é melhor assim: ficar bem longe e não ceder ao meu desejo de tomá-la em meus braços e fazer amor até nós dois não aguentarmos mais. Eu sei que estou pegando pesado com Celina, mas ela me traiu, e não consigo esquecer isso! Heitor sempre me fala para esquecer toda essa história e ser feliz com minha mulher... Só que Celina não é mais minha. Há muito tempo. Meu amor por ela virou ódio quando soube que ficou com outro — ou melhor, quando vi com meus próprios olhos o vídeo. Se ela não estivesse tão fodidamente linda, seria totalmente mais fácil, mas ela está mil
Lorenzo Ferraz O dia da festa do meu lindo garoto chegou. Não vi Celina hoje e, pra ser honesto, nem quero ver. Me tranquei no escritório, tentando ocupar a mente com relatórios, e-mails, planilhas... qualquer coisa que não fosse ela. Mas não adiantou. A imagem dela me invadia mesmo quando eu não queria. Cada silêncio no ambiente parecia ecoar o som do choro dela da noite passada. Me afoguei em trabalho até perceber que estava na hora de me arrumar. Subi para o quarto com o coração pesado. Sentei na beira da cama, encostei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto nas mãos. — Que merda eu tô fazendo? Minha voz saiu baixa, rouca, como se nem tivesse mais forças. Sinto um aperto no peito, uma dor que não passa. A verdade é que não está sendo bom pra mim... e muito menos pra ela. Queria arrancar esse ódio do meu peito. Queria poder olhar pra Celina e só sentir amor, como antes. Queria esquecer tudo, perdoar, voltar atrás... mas não consigo. O que vi, o que ouvi... não me deixa em