O Amante da Lua
O Amante da Lua
Por: NanaBOliver
Prólogo

Aldeia Florswood (Inglaterra)

Eu não deveria estar aqui! 

Ela repetia essa frase em sua mente o tempo inteiro, porém a emoção do momento era maior que o seu medo fazendo com que toda adrenalina em seu corpo reagisse. Continuou seguindo, seus pés pequenos e delicados afundavam na neve deixando os rastros de pegadas pelo caminho. Ouviu as risadas baixas atrás dela e virou os olhos, ignorando completamente. Fora aquilo, estava tudo muito silencioso. 

Pelo menos estava perto do seu destino, entre os galhos e troncos das árvores, ela podia ver um grande muro de pedras e uma parte das janelas. 

Apressou os passos quase correndo pela neve, segurando com as duas mãos o capuz vermelho para continuar cobrindo a sua cabeça. Assim que chegou na última árvore ela parou, observando a pequena neblina que se formou de repente sobre o lugar. O som de  passos atrás de si também pararam.

— Está com medo Aime? — a voz ao fundo sussurrou divertida. 

Em um ato furioso de coragem, virou-se e reparou no rosto de cada um dos seus novos amigos. 

— Eu não tenho medo de nada — disse convicta e acrescentou; — irei fazer, estou apenas admirando o local, vocês não falaram que é tão bonito.

As outras crianças a encararam como se ela fosse louca, bem, de fato, talvez estivesse mesmo completamente alucinada. 

— Essa mansão velha? Bonita? Está louca Aime? — zombou Brice, uma de suas melhores amigas. — Ande logo com isso, estamos com arrepios. 

— Está bem, eu já disse para me chamar de Mia. — rebateu entredentes. 

— Faremos o seguinte: se você conseguir provar que consegue entrar totalmente para o nosso bando, chamaremos você de Mia. — disse Zyner com um sorriso diabólico. — Combinado? 

— Certo. Agora se me derem licença, medrosos. — Virou-se novamente em direção à mansão.

Sempre ouviram dizer que aquele lugar era assombrado, sabia o quão errado era estar ali, era extremamente proibido. Caso alguém os pegasse, sem dúvidas alguma, todos do grupo estariam em uma bela enrascada; especialmente ela. Talvez nunca mais pudessem sair de casa. Contudo, nenhum deles se importava com isso nesse momento, desde que chegou naquela aldeia, Aime Smith — ou como preferia Mia Smith —, tinha uma certa curiosidade sobre o mistério que ronda a floresta da aldeia, e agora, sendo desafiada pelos amigos não tinha outra escolha a não ser mostrar sua bravura ou tolice e tocar a campainha de sino de bronze presa entre muro e os grandes portões que separava a mansão mal-assombrada da trilha que levava a floresta. 

Ela sentiu seu coração saltar do peito e ficou uns segundos, parada, apenas observando. 

A brincadeira seria ela tocar o sino e correr bem rápido de volta à aldeia. Brice disse que não havia perigo, já que a mansão se encontrava totalmente vazia, nunca ninguém viu uma alma andando pelos arredores. 

Mia respirou fundo e começou a andar pela trilha, conforme se aproximava do local, sentiu um leve tremor sobre o corpo. Não que ela estivesse com medo, longe disso, aquela era uma baboseira total para afastar crianças da floresta. Virou para trás e olhou para os amigos escondidos atrás de arbustos que estavam insistindo com as mãos para ela ser rápida. Apertando os passos, finalmente chegou ao seu destino. 

Observou os portões de ferro que pareciam mais altos e góticos de perto, na divisão havia um cadeado grande e em volta das grades, correntes grossas, e bem no meio deste havia um símbolo de um animal que se referia a um lobo. Seu olhar vagou para dentro dos portões, estava tudo quieto demais, a mansão mantinha as portas totalmente fechadas, o cenário era incrivelmente gótico e a neblina do lugar deixava tudo mais sombrio. Com toda certeza do mundo, ela nunca vira nada tão perfeito e sinistro. 

Mia voltou a si, ouvindo os sussurros dos amigos.  Deu mais alguns passos e chegou debaixo da corda pendurada no sino, e por ser pequena, teve que ficar na pontinha dos pés. Sua mão ergueu na direção da corda, e o seu coração se acelerou ainda mais, a garganta secou, um vento gelado soprou pelo seu rosto. Olhou para trás novamente e viu as crianças já irritadas.

Agora era hora para demonstrar que não era covarde, muito pelo contrário. 

Ficando na ponta dos pés novamente ela puxou a corda de uma vez, fazendo com que o sino tocasse e um barulho ecoou por toda a mansão e a floresta. Em seguida, se virou e observou seus amigos correrem de volta para a trilha da aldeia. 

Bando de traidores e medrosos! 

Bom, agora que havia finalmente provado que não tinha nada naquela mansão e era corajosa o suficiente, era só simplesmente se m****r do local, mas, antes que fizesse isso, movida por curiosidade, retornou o olhar para a mansão uma última vez e algo aconteceu. O cadeado se soltou, e os portões se abriram, rangendo levemente. O seu sangue gelou em puro pânico, seus olhos verdes se arregalaram, um arrepio estranho percorreu sobre o corpo inteiro e olhou para dentro.

— O-olá? — sussurrou. 

Nada se ouvira, o portão continuava aberto e só o barulho do vento ecoava agora pelo lugar. 

Tudo bem Mia, você se colocou nessa enrascada, nada de se apavorar, com certeza é alguém querendo provocar. Sai dessa, agora!

— Peço desculpas. Foi uma brincadeira de criança. — explicou ela, assim que conseguiu encontrar sua voz novamente, mas o silêncio continuava, então ela se aproximou mais, chegando a colocar um pé do lado de dentro e tirando rapidamente em seguida — Isso é esquisitice demais, vou embora! — concluiu sussurrando. 

Antes que ela pudesse se virar algo forte a atacou fazendo-a cair no chão. Seu capuz caiu para trás descobrindo os seus cabelos ruivos, olhou assustada para a mansão e um vulto estranho começou dar voltas ao redor dela. 

— Ahhhhh!!!! — berrou, estremecendo de medo.

Sem nem ao menos raciocinar, saiu correndo se distanciando do lugar e quando chegou uma árvore, olhou para trás e viu um homem alto usando uma máscara fechando os portões da mansão. 

— Fique longe da mansão e da floresta! — a voz dele soou estridente e pareceu ecoar por todo lugar. 

Mia recuperou o fôlego e correu o mais depressa possível, parou na entrada e respirou fundo. Não podia deixar que os seus amigos percebessem que ela tremia de medo. 

Quando chegou na sua aldeia e olhou a floresta, fez o sinal da cruz, e agradeceu a Deus, se seus pais soubessem que ela estava ali, estaria ferrada e nunca mais sairia de casa, seu grupo de amigos estavam todos sentados no chão olhando para a floresta atentos a qualquer movimento. 

— Você conseguiu! Por que demorou tanto? — perguntou Brice visivelmente preocupada. 

Mia coçou a cabeça enquanto pensava em uma boa resposta. Contaria ou não? 

O fantasma era real, mas e a criatura sangrenta? Não vira. 

— Bem — começou com um suspense divertido, e eles esperaram totalmente ansiosos até que por fim, ela deu risada —, tinham que ver as expressões de vocês! Eu ganhei! Duas moedas de ouro de cada um, agora! — zombou entre risos. 

— Filha da mãe, estávamos preocupados Aime! — disse Zyner balançando a cabeça, entregando o dinheiro com a cara emburrada. 

— Você pelo menos chegou a ver algo? — Arthur a questionou duvidando. 

— Não. — respondeu dando de ombros. — Eu não vi nada, eu disse para vocês que tudo não passa de história para assustar bebês chorões. 

— Isso não se faz Aime, nós corrermos isso tudo, podia ter nos avisado que estava tudo bem. — Kurts disse aborrecido. 

— Me desculpem, não resisti. — Pegou o restante das moedas e guardou no saco pendurado no cinto de seu vestido. — Foi um prazer fazer negócios com vocês. 

Todos eles deram a língua para ela. 

— Bom, trato é trato, você é corajosa, Mia. Bem-vinda a aldeia! — Zyner sorriu tirando a franja do rosto com a mão e apertou as mãos dela. — Vamos jogar o que agora? 

— Que tal pique esconde? — sugeriu Arthur.

— Sem ser na floresta desta vez.

— Totalmente de acordo. — Arthur sorriu. — Vamos lá, eu começo, se escondam bobocas.

E então se iniciou uma correria pela aldeia, paravam em qualquer lugar para se esconder, deixando todos da aldeia exaltados com as brincadeiras de criança, quando anoiteceu, era hora de se recolher e enquanto iam descendo para as suas casas, ela sentiu as mãos de Brice pegar em seu braço. 

— Me conte! Você viu algo, não foi?

— Vi sim. — Deu um sorriso amarelo, quando viu os olhos da sua amiga quase saltaram de surpresa, ela se animou esperando que a ruiva continuasse. — Foi realmente estranho, não vamos voltar lá. 

— O que você viu? — Brice a olhou intrigada. 

— Acredito que talvez seja um fantasma. — Fez uma careta engraçada. — Não sei, foi bem rápido. 

Ela explicou os vultos e o homem mascarado, em seguida uma voz gritando para ficar longe da floresta. 

— De todo jeito, é melhor não voltarmos lá. Pelo visto fantasmas existem. — Brice franziu a sobrancelha estranha.  

Ouviram um uivo ao longe, os pelos dos seus corpos se arrepiaram instantaneamente. Mia se virou e observou as pessoas entrarem correndo para suas casas. 

— Crianças, entrem agora! — Ouviram o padeiro dizer, enquanto fechava tudo às pressas. 

— Mia! — a voz de sua mãe a chamou. 

As duas se despediram.

Mia correu em direção a mãe que a esperava para entrar em casa. Ela nunca ouvira esse uivo antes, falaram pela aldeia que acontecia sempre  na lua cheia, mas ela nunca acreditou.

Será que a lenda era verdadeira? 

Existiam mesmo monstros sangrentos na floresta? 

Depois do jantar, tudo estava em silêncio, subiu para o quarto, encarou a lua cheia e fechou a janela. Devia ser só um lobo comum, só isso. Ela se deitou na cama de madeira e adormeceu, pensando no que acontecera. 

Será que aquilo era um fantasma de verdade? 

                                     ✧✦🌒✧✦

No alto da colina não muito distante da aldeia, Kenneth estava encostado de braços cruzados em uma das árvores, observava a aldeia inteira fechar as portas de suas casas, as luzes sendo apagadas gradualmente. 

— Belo susto! A garota ruiva é bem Destemida — anunciou a voz de seu pupilo fiel e único amigo. Tristan parou ao seu lado e observou a aldeia — uma criança difícil de assustar. — Deu um sorriso sarcástico. — Só suponho que poderia ser um pouco mais teatral. 

A expressão de Kenneth era séria e transbordava arrogância, quando olhou para o outro homem.

— Tsc! — Estalou a língua. — Porque essas crianças não ficam longe daqui? Parece que o perigo as atrai. — Advertiu um pouco irritado. — Não gosto de ninguém ao redor da minha mansão e isso é o seu trabalho, Tristan — Ele olhou novamente para a mansão —, mas por hora, deixe assim, terão assuntos demais por Florswood a partir de hoje. 

— Com certeza, Kenneth! — Tristan se curvou na direção dele, se divertindo com a expressão irritada. — Vamos? Estão esperando.

Enquanto desencostou da parede ele observou novamente a aldeia. 

Kenneth balançou a cabeça. Tinha que admitir que a menina ruiva era bastante valente, foi a única até agora que teve a audácia de chegar realmente mais perto da sua mansão. Mas foi bem engraçado assustá-la. Bom, pelo menos depois daquilo esperava que ela não aparecesse mais por lá, no entanto, algo lhe dizia que aquela ruiva era uma grande perturbação. 

Rapidamente deixou aquilo para lá, assumiu sua postura de seriedade e seguiu seu caminho, sumindo entre a neblina da floresta.

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