POV CALEB
Ver Enrica desabar diante de mim foi como ouvir o som de um espelho se partindo por dentro.
A dor dela era minha. Os traumas, as fugas, os gritos calados. Tudo me atingia como se fosse meu, e talvez… sempre tivesse sido. Eu queria tocá-la, enxugar suas lágrimas, envolvê-la com meu corpo inteiro até que o mundo esquecesse de doer para ela. Mas hesitei. Minhas mãos pairaram no ar, vazias. Como se eu não tivesse o direito.
Sentei à frente dela. Minhas pernas dobradas, os cotovelos apoiados nos joelhos. A distância entre nós parecia um abismo.
— Eu também tenho fantasmas, Enrica — murmurei, a voz rouca. — E eles ainda me caçam, todas as noites.
Ela ergueu os olhos inchados para mim. O brilho molhado do verde me desmontou. Eu continuei:
— Não sou o príncipe perfeito. Nem o lobo que todos acham que posso controlar. — Fechei os olhos por um segundo. — Quando eu tinha dez anos, tive minha primeira transformação. Não foi como acontece com os outros. Minha pele queimava. Meus ossos es