POV CASPIAN.
A reunião com o alfa Magnos e a luna Amélia foi aceitável e até mais tranquila do que eu esperava. No final, houve um certo atrito com Magnos, mas nada que eu já não esperasse dele. Quando voltei para minha alcateia, coloquei Octávio e meus pais a par de tudo que foi tratado. Mas fui, infelizmente, recebido com a notícia de que dois dos cinco lobos infectados haviam morrido — e que mais dez lobos estavam infectados.
A situação estava piorando e, diante dessa péssima notícia, liguei para Adam lhe contando tudo que estava acontecendo e marcamos uma conversa. Eu iria até sua casa. Precisava preparar minha alcateia para a visita de um bruxo e para essa doença que se espalhava.
Quando amanheceu, saí da minha mansão e embarquei no meu helicóptero, que me levou até a cidade de Halifax, onde Adam morava. O vento de Halifax trouxe o cheiro da floresta misturado ao sal do Atlântico — limpo, frio, familiar. Meus olhos percorreram a propriedade sem pressa. A mansão era grande, moderna, com linhas retas e sólidas. Vidro, pedra, madeira. Construída para durar. Não precisava de enfeites; a imponência estava no silêncio, na estrutura, no espaço que ocupava.
O terreno era cercado por árvores altas — bordos, pinheiros. Fortes, enraizadas. Boas sentinelas. A entrada era ampla, discreta, mas firme. O som das folhas secas sendo arrastadas pelo vento preenchia o ar. Nenhum som humano. Nenhum movimento. Só natureza e construção, coexistindo como deveriam.
Não vi câmeras de vigilância. Não senti ameaça. Mas algo naquele lugar me observava de volta — como se a terra soubesse que cheguei. Respirei fundo. O lugar era estável. Isolado. Seguro. Ajustei o colarinho da camisa, mais por hábito do que por necessidade. Olhei mais uma vez para a porta. Madeira pesada. Boa para manter o que está dentro… ou para manter o resto fora. Subi os degraus sem hesitar.
A cada passo que eu dava até a porta, me sentia apreensivo. Pedir ajuda nunca foi meu ponto forte — principalmente a um bruxo. Bati à porta duas vezes. Antes mesmo de completar a terceira, ela se abriu sozinha com um rangido suave, revelando Adam, que estava lá, parado, me aguardando.
— Alfa Caspian — disse ele, ríspido e com frieza, e me deu passagem.
Adam era um senhor de uns sessenta anos. Mas meus pais me informaram que ele tem muito mais do que isso. De acordo com eles, Adam teria uns dois ou três séculos de idade. Mas isso não vinha ao caso agora.
Adam passou por mim em silêncio e começou a caminhar em direção a um corredor que levava até uma porta. Ele a abriu e se afastou para eu entrar.
Quando entrei, me deparei com uma biblioteca antiga e um laboratório alquímico. Ervas secas pendiam do teto, livros de capa de couro ocupavam cada espaço livre nas estantes, e o cheiro de incenso amadeirado impregnava o ar. Um caldeirão borbulhava em um canto, e símbolos arcanos estavam desenhados com giz no chão.
— Descobriu algo sobre essa doença? — perguntei direto, sem paciência para rodeios e não querendo permanecer muito tempo nesse lugar.
— Sim, eu já sei o que é essa doença. Mas antes de lhe falar, preciso ver algo — comentou. Virou-se e começou a pegar vários objetos, frascos e ervas.
— Ver o quê? Se sabe o que é, me fale logo — falei, impaciente.
— E facilitar para você? Não. Logo você saberá — comentou enquanto pegava suas coisas. Já notei que Adam não gosta de mim e que minha presença não é bem-vinda.
— O que esperava? Flores e uma grande recepção? Adam é bisavô de Gaia. Ele, como todos da família dela, te odeia. Eu nem teria te recebido — falou Odin em minha mente.
Não comentei, pois não era hora de me estressar com meu lobo. Mas ele não estava errado. Essa família me odiava e só estavam me ajudando porque essa situação os afetaria também. Adam terminou de pegar suas coisas, misturou algo num frasco e jogou no chão.
O cheiro de enxofre foi a primeira coisa que senti. Magia densa e desagradável. Meus instintos gritaram, cada fibra do meu corpo em alerta. Adam murmurou palavras em uma língua que não reconheci, e o ar ao nosso redor pareceu se dobrar, como se o próprio mundo prendesse a respiração. Uma pressão invisível se formou no meu peito, como o instante antes da tempestade e minha pele se arrepiou. E então, tudo desapareceu.
Não houve som. Nem luz. Nem tempo. Era como cair em um vazio sem fundo, mas sem movimento. Como se meu corpo ainda estivesse inteiro, mas não existisse lugar para ele ocupar. Minha mente, junto a Odin, por um instante, rosnou contra o nada.
Quando voltei a sentir o chão sob os pés, meus joelhos se flexionaram por instinto, prontos para a luta. O cheiro mudou. O vento mudou. Mas eu ainda era eu. Estávamos em outro lugar — quilômetros longe de onde estávamos segundos atrás. O bruxo parecia calmo, como se aquilo fosse banal.
— Se fizer isso comigo de novo sem aviso, arranco sua garganta — rosnei, ainda com o pulso acelerado. Adam sorriu, cruel, com a minha ameaça, e senti um calafrio nada bom na espinha. Pela primeira vez, pude ver a escuridão em seu olhar. O temível Adam estava ali, oculto por trás da fachada de um simples senhor de idade. Farejei o ar, desviando meu olhar do seu. Senti cheiro de morte.
— Onde estamos? — perguntei, não conseguindo identificar devido ao forte cheiro no ar. Odin não estava gostando.
— Na alcateia Lobos Selvagens — comentou.
— Por que estamos aqui? — questionei.
— Como havia mencionado, preciso ver algo. — falou e começou a andar, sem me dar muita explicações. Isso, já estava me irritando.
Olhei em volta e um calafrio surgiu em minha espinha, podia sentir a presença dos espíritos dos lobos mortos. Não havia corpos espalhados, pois o conselho os havia enterrado. Adam entrou no cemitério e eu o segui. Eu ainda não sabia o que ele estava querendo aqui.
Ele parou de frente a um túmulo. Recitou um feitiço, os olhos brilhando com uma luz azul-violeta. Símbolos mágicos se acenderam no ar, girando ao redor dele. O feitiço durou alguns minutos. Então, o brilho cessou. Adam permaneceu parado.
— Adam? — chamei. — O que aconteceu, o que descobriu? — perguntei, um pouco tenso. Ele me encarou.
— O que eu já sabia. É magia negra. Poderosa. Antiga. E foi ligada a uma doença e lançada para atingir os lycans — disse, sério. Meu corpo inteiro enrijeceu.
— Magia negra? — repeti, incrédulo. — Isso é... proibido até entre os bruxos — comentei, nervoso.
— Exato — falou, me observando. — E está além das minhas habilidades para desfazer. Isso é feitiçaria de sangue e uma magia negra pesada. Algo que só um tolo ousa praticar… e que praticamente ninguém consegue quebrar — comentou.
— Então… o que fazemos? — perguntei, sentindo a impotência me corroer por dentro. — Espera, se já sabia, por que me trazer aqui? — perguntei, sem entender. Adam sorriu de lado, o que foi estranho diante da gravidade da situação.
— Ora, Caspian, para ver sua face de medo quando te teletransportei. E precisava de mais informações de quem infectou essa alcateia — disse. Eu rosnei, irritado. — E também esse é um ótimo local para ver sua reação quando ouvir o que tenho a contar — comentou.
— Já se divertiu. Então fale logo o que eu quero saber — falei, rude. Adam sorriu com crueldade e um frio percorreu meu corpo.
— Então, é agora que fica interessante. Existe somente um ser poderoso o bastante para lidar com essa magia negra e feitiço de sangue. Há uma bruxa. Mas você não vai gostar — comentou, sério.
— Eu não dou a mínima se ela for uma aberração de três olhos! Se puder salvar minha alcateia, eu aceito — falei, impaciente.
— Tem certeza? — perguntou. — Porque essa bruxa… é minha bisneta Gaia. A loba que você rejeitou — disse, com raiva.
Por um momento, o mundo parou. O nome dela caiu sobre mim como uma rocha pesada. Meu sangue ferveu. Meus punhos se cerraram com tanta força que minhas unhas quase rasgaram a pele. Era como se o universo estivesse debochando da minha escolha do passado. O nome dela ainda queimava como um veneno antigo, mal cicatrizado.
— Isso é uma piada? — rosnei, perguntando.
— Não, Caspian. É carma — disse Adam, com frieza. — Gaia agora é sua única salvação.