À meia-noite, Victor ainda não havia voltado.

Não consegui pregar o olho a noite inteira. Foi então que ouvi barulhos vindos da cozinha no andar de baixo.

Victor estava de volta. As mangas de sua camisa estavam dobradas até os cotovelos, exibindo seus antebraços fortes. Ele estava colocando o bife que preparei para ele na noite passada, já frio, de volta na frigideira.

Ele disse: — Vou compensar o Dia dos Namorados com você hoje.

Em seguida, ele cortou um pequeno pedaço do bife e comeu, sem parecer o mínimo incomodado com aquilo.

Meus olhos se arregalaram.

Victor era extremamente exigente com comida. Ele nunca tocava em sobras, muito menos em um bife da noite anterior.

Dei dois passos em direção a ele antes de encontrar seu olhar presunçoso.

A ficha caiu, e a esperança desapareceu dos meus olhos.

Finalmente entendi.

Para ele, abrir uma exceção por mim era o suficiente para me convencer, e eu não tinha mais o direito de ficar chateada.

No passado, esse truque sempre havia funcionado. Agora, eu apenas balancei a cabeça e respondi: — Não há necessidade.

O dano já estava feito. Não importa o que ele fizesse, jamais consertaria a ferida em meu coração.

Victor franziu a testa levemente. Em seguida, ele empurrou uma caixa de veludo em minha direção e disse: — Este é o seu presente de Dia dos Namorados. O assunto da noite passada termina aqui.

Olhei para a caixa, mas não a toquei.

Victor a abriu ele mesmo, e dentro havia um par de brincos de diamante cintilantes.

Ele me deu inúmeras peças de joias caras nos últimos sete anos, mas nunca entendeu o que eu realmente valorizava.

Eu apenas encarei os brincos em silêncio e não disse nada.

Pude ver a impaciência crescer em seus olhos, mas ele suavizou o tom, como se estivesse me acalmando de uma birra.

— Já chega, gatinha.

Ele enfiou a caixa na minha mão e disse: — Pegue e pare de parecer que foi tão injustiçada. O preço disso é suficiente para fazer qualquer mulher sorrir.

— Queenie me disse para comprar isso para te animar, mas você ainda está com ciúmes dela sem motivo. Então, não diga mais esse tipo de coisa, ok?

Então era isso.

Até mesmo essa tentativa tardia dele de fazer as pazes só tinha acontecido porque Queenie mandou.

— Victor, estou falando sério! — Eu disse lentamente. — Nós...

Eu queria dizer: — Devíamos apenas terminar. Deixe-me ir.

Mas o resto das minhas palavras foi cortado pelo toque de seu celular.

— Queenie? — Seu tom ficou gentil imediatamente, e ele desviou a atenção de mim. — Tudo bem, estou a caminho.

Ele desligou o telefone e hesitou por um momento, me observando.

Então, ele disse: — Comporte-se e pare de ficar chateada. Há um assunto urgente na casa de Queenie. Eu volto logo.

Como tantas vezes antes, ele me deixou com promessas vazias e saiu.

Desta vez, eu não assisti suas costas enquanto ele partia.

Peguei outro telefone e disquei um número. A ligação conectou rapidamente, e uma voz que eu não ouvia há anos atendeu.

— Você se decidiu? — A pessoa perguntou.

— Sim. — Eu disse suavemente enquanto olhava pela janela. — Venha me buscar.

Depois de desligar, troquei de roupa. À noite, fui sozinha ao clube particular mais escondido da cidade.

As pessoas enviadas já estavam lá me esperando. Elas me ajudariam a organizar tudo para que eu pudesse me desvencilhar da família Blackwood limpamente.

Mas assim que pisei na passagem reservada para VIPs nos fundos, vi Victor e Queenie através de uma porta semiaberta.

Eles estavam sentados muito próximos um do outro em um sofá de veludo.

A mesa estava repleta dos pratos favoritos de Queenie. Sorrindo, ela levou uma colherada de sopa aos lábios de Victor.

— Está bom, Vic. Experimente um pouco. — Ela disse.

Victor não recusou, como de costume.

Ver aquilo pessoalmente doeu mais do que qualquer foto. Eu tropecei na porta ao meu lado, sentindo como se toda a minha força tivesse sido drenada.

Ouvindo o barulho, Queenie levantou o olhar e me viu parada ali. Ela deu uma cutucada em Victor com um sorriso.