Capítulo 2
Minha obediência inesperada pegou todos na sala de surpresa. Meu pai ficou em silêncio por alguns instantes antes de finalmente falar:

— Assim é que se fala. Somos uma família, não é? O que não pode ser resolvido com uma boa conversa? Tudo o que eu faço é para o seu bem.

— Sim, eu sei. — Respondi, acenando com a cabeça de forma obediente, enquanto um sorriso apático se formava em meu rosto.

Ao perceberem que eu realmente parecia não ter levado nada a sério, eles ficaram aliviados e voltaram para a sala, puxando Luciana para se juntar a eles no sofá.

Eu parei por um instante, respirei fundo e continuei caminhando em direção ao meu quarto, no segundo andar. Mas, assim que pisei no primeiro degrau, senti meu pulso ser agarrado com firmeza.

Hélio havia se aproximado sem que eu percebesse. Ele inclinou-se para perto de mim e perguntou em um tom baixo e preocupante:

— Você realmente não está chateada?

Aquela demonstração de preocupação foi a gota d’água. Minhas lágrimas, que eu havia segurado até então, começaram a escorrer sem controle. Todo o peso das mágoas que eu carregava parecia querer se libertar, mas, mesmo assim, eu apenas balancei a cabeça de forma silenciosa, sem conseguir dizer uma palavra.

Para minha surpresa, Hélio sorriu, como se estivesse aliviado, e disse:

— Eu sabia que você era a mais sensata. Você não ficaria brava por uma coisa tão pequena. Na verdade, eu queria te pedir um favor...

Ele desviou o olhar, evitando encarar meus olhos diretamente, e continuou:

— Vamos adiar nosso casamento. Eu prometi para sua irmã que, quando ela fizesse 18 anos, eu a levaria para a Islândia para ver a aurora boreal. Agora que o baile de debutante dela já aconteceu, ela está insistindo para que eu cumpra a minha promessa. Então, pensei em levar toda a família para uma viagem à Islândia nos próximos dias. O que você acha?

Hélio sorriu levemente, com um olhar que parecia carregar um toque de ternura:

— Afinal, os convites ainda não foram enviados. É só um casamento, adiar por alguns dias não vai fazer diferença, certo?

Senti que o meu coração errou uma batida naquele momento. As lágrimas que antes eram prova de meus sentimentos agora pareciam ridículas.

Quantas vezes eu já não havia sido deixada de lado? Por que ainda esperava algo deles?

Vendo que eu permanecia em silêncio, Hélio ficou visivelmente desconfortável e coçou a cabeça com certa impaciência:

— Luciana nunca viajou para fora do país antes. Vai ser a primeira vez dela em um lugar tão distante. Como família, devemos apoiá-la. E, além disso, você também nunca viu a aurora boreal, não é? Podemos considerar isso como uma lua de mel antecipada.

— Tudo bem. — Respondi, com um tom neutro.

Hélio, que estava prestes a continuar tentando me convencer, parou de repente, surpreso com minha resposta:

— O que você disse?

Eu soltei um suspiro profundo e repeti com calma:

— Eu disse que concordo em cancelar o casamento.

Ele franziu as sobrancelhas, claramente insatisfeito, e corrigiu-me:

— Não é cancelar, Sofia. É adiar. Como você pode falar em cancelar o casamento? Isso é um absurdo.

Baixei a cabeça, e um sorriso irônico se formou em meus lábios. Qual era a diferença? Enquanto Luciana estivesse por perto, ela sempre encontraria uma forma de impedir que nosso casamento acontecesse.

Ela não suportava me ver bem. Ela sempre quis tudo o que era meu. Eu sabia disso desde que éramos pequenas.

Não importava o quanto eu tentasse, nunca conseguia competir com ela. O favoritismo da minha família era o alicerce que a permitia me pisar sempre que queria.

Agora, até o meu próprio noivo estava do lado dela. Meus olhos arderam, e uma coceira começou a se espalhar pelo meu corpo. Aquele copo de suco de manga, afinal, havia desencadeado minha alergia.

Sem dizer mais nada, apenas acenei levemente com a cabeça e me virei para continuar subindo as escadas. No meu quarto, eu sempre mantinha um remédio para alergia. Precisava tomá-lo antes que a reação piorasse.

Antes que eu chegasse ao topo da escada, ouvi a voz de Luciana ecoar atrás de mim, carregada de falsa inocência:

— Irmã, você está chateada porque eu pedi para o meu cunhado me levar para ver a aurora boreal?

Havia um tom de queixa em suas palavras, mas eu sabia que ela só queria chamar atenção. Ignorei-a completamente e acelerei os passos em direção ao quarto.

Luciana sempre fazia isso. Mesmo quando eu não fazia nada, bastava ela chorar ou reclamar na frente da família que todos corriam para defendê-la.

Como sempre, o Enzo foi o primeiro a reagir quando gritou da sala:

— Chega, Sofia! Você não ouviu a Luciana falando com você? Uma hora você diz que não está brava, e, na outra, fica com essa cara amarrada, sem responder a ninguém. É assim que você trata sua própria família?

Eu continuei ignorando. Esse tipo de acusação já fazia parte da minha vida desde a infância. Aprendi a permanecer impassível diante disso.

No entanto, quando estava prestes a alcançar o segundo andar, senti uma dor aguda no couro cabeludo. Alguém havia puxado meu cabelo com força.
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