Passei três dias internada no hospital.
Durante todo esse tempo, meu celular permaneceu em completo silêncio. Não recebi uma única ligação. Mas, eu também não liguei para ninguém, nem fiz como antes, quando ficava compulsivamente checando o feed do Instagram deles para saber tudo o que estavam fazendo.
Fiquei em silêncio, descansando no leito, sozinha. Mesmo com o corpo fraco, arrastei-me para fazer exames e pagar as contas. No dia da alta, também não avisei ninguém. Cuidei de tudo sozinha, arrumei minhas coisas devagar, suportando a dor no abdômen, e voltei para casa.
Quando empurrei a porta da casa, a alegria no interior da sala cessou abruptamente.
Foi então que percebi que toda a família estava reunida no sofá da sala. Até mesmo meu noivo, Hélio, estava lá, sentado ao lado de Luciana, com uma das mãos descansando de forma íntima sobre o ombro dela. Assim que me viu entrar, ele rapidamente retirou a mão, e uma expressão de constrangimento passou por seu rosto:
— Sofia, você voltou? Onde esteve esses dias?
Meu irmão, Enzo Baptista, deixou escapar um riso sarcástico antes de falar com um tom carregado de desprezo:
— Onde mais ela poderia estar? Só queria evitar o baile de debutante da Luciana. Fez isso de propósito para estragar tudo. Ela simplesmente não suporta ver a Luciana bem!
Eu ignorei as palavras dele e continuei caminhando em direção ao meu quarto, sem sequer tentar me justificar.
Enzo ficou surpreso com a minha reação. Ele não esperava isso. Em outras ocasiões, sempre que me acusava de ser imatura, eu chorava e me defendia como se tivesse sofrido a maior das injustiças. Mas agora, eu estava estranhamente silenciosa.
Minha mãe, Helga Baptista, levantou-se apressada, pegou um copo de suco que estava na mesa e veio em minha direção:
— Sofia, esses dias foram uma loucura com tudo o que tivemos que organizar para a Luciana. Não consegui atender suas ligações, mas não fica chateada comigo, tá?
Helga empurrou o copo de suco de manga para as minhas mãos. Mesmo já sem expectativas, senti uma dor discreta no peito.
Eu era alérgica a manga, mas essa era a fruta favorita de Luciana. Por causa disso, a casa sempre estava abastecida de alimentos e bebidas com sabor de manga. Não importava quantas vezes eu tivesse mencionado minha alergia, ninguém parecia se lembrar.
Devolvi o copo para Helga, dei um passo para trás e disse calmamente:
— Não estou chateada. Vou subir para o meu quarto.
Assim que me virei, ouvi um estrondo vindo da sala. Meu pai, Roberto Baptista, levantou-se com força, bateu com a mão na mesa e gritou:
— Desde que você entrou por essa porta, está com essa cara fechada. Está tentando provocar quem? Sua mãe já pediu desculpas e ainda trouxe a sua bebida favorita, e é assim que você retribui? Parece que mimamos você demais!
Meu coração se apertou de forma cruel, e a dor tornou até difícil respirar.
As lágrimas nublaram minha visão, mas ainda assim consegui pegar o copo de suco das mãos de Helga e beber tudo de uma vez só. Coloquei o copo vazio de volta na mesa, limpei as lágrimas e encarei meu pai com tranquilidade:
— Quem gosta de manga é a minha irmã. Eu sou alérgica. Mas não importa, já bebi. Agora posso subir para o meu quarto?
Helga, alarmada, começou a dar leves tapas nas minhas costas:
— Menina teimosa! Se você é alérgica, por que não avisou antes? Quem mandou você beber? Por que é tão cabeça dura?
Meu pai, visivelmente desconfortável, tentou manter a compostura e retrucou de forma ríspida:
— Você não tem boca para explicar? Era só dizer! Esse seu jeito de ser nunca agradou ninguém. Não é como a Luciana, que sabe falar com as pessoas.
Do sofá, a voz doce de Luciana surgiu, cheia de falsa preocupação:
— Ai, pai, não fale assim da minha irmã. Ela pode ficar magoada.
Embora as palavras dela soassem como uma tentativa de apaziguar a situação, os olhos brilhavam com um orgulho mal disfarçado.
Luciana sempre gostou de usar minha personalidade reservada para destacar o quanto ela era incrível. Tudo o que ela fazia era uma competição, e ela só ficava realmente feliz quando me reduzia para se sentir superior.
Eu achava que deveria me sentir triste, mas minha alma parecia anestesiada. Mesmo enfrentando mais uma cena humilhante como essa, meu coração permaneceu totalmente indiferente:
— Desculpem. Foi erro meu. Isso não vai se repetir.
Assim que as palavras de desculpa saíram da minha boca, todos na sala me olharam com surpresa.