Capítulo 6

Amanda


A irmã de Derek, Sabrina, me arrasta até seu quarto. Fico sentada em sua cama enquanto ela joga peças e mais peças de roupa ao meu lado. Me parece que, quanto mais roupas ela tira do closet, mais ela parece ter.

— A maioria delas são novas. Quase não as usei. Você tem o corpo bem semelhante ao meu, vão ficar ótimas em você.

— Não precisa se incomodar. — sussurro, constrangida. Ela ri. Aparentemente de mim.

— Não é incômodo algum. Estão aí, jogadas, em desuso. Esta é a oportunidade perfeita.

Sabrina finalmente para de procurar por roupas e me encara.

— Sapatos. — ela diz olhando para os meus pés. — São pequenos. Quanto calça?

— trinta e cinco.

Ela parece maravilhada. Abre um sorriso de orelha à orelha.

Ela me puxa pela mão e me arrasta até uma outra parte de seu closet. Ela abre um porta de vidro e deixa visível aos meus olhos centenas de sapatos de todos os tipos e cores. Fico até meio desconcertada. Ela ri e ergue os olhos.

— Tenho um par reserva para cada sapato.

— Você...

— Nunca se sabe quando vai perder um par, não é? Por isso tenho reservas.

Meus olhos permanecem arregalados. Sabrina abre um sorriso largo.

— Sei o que está pensando, talvez seja mesmo um exagero, mas gosto disso.

— Não estava pensando nisso. Estava pensando que, talvez, esse seja o sonho de toda e qualquer mulher.

— Você acha? — seus olhos brilham. — Deus, eu sou apaixonada por sapatos. Se pudesse compraria todos os sapatos de todas as lojas da cidade.

Sabrina diz e eu tenho de admitir que ela é engraçada e gentil. Acho... Não, tenho certeza de que nos daremos bem.

— Um mais lindo que o outro. — digo meio abobalhada.

— Certo, pode escolher os sapatos que quiser.

Coço a nuca.

— Eu não... é que...

— Está com vergonha?

Assinto, não há muito o que dizer. Além disse, a menina me parece compreensível demais.

— Por favor, não se acanhe. Fique a vontade. Prometi ao Derek que ajudaria você, é o que estou fazendo.

Sabrina abre um sorriso encorajador. Me sinto bem com sua presença. Ela é adoravelmente acolhedora. E paciente, vale ressaltar.

Escolho alguns sapatos com sua ajuda e tenho a oportunidade de conhecê-la um pouco mais através das conversas paralelas que trocamos no momento.

— Então vai casar?

Sabrina assente, parece contente.

— Em alguns meses. — parece ansiosa. — Aspen é o homem da minha vida, sabe? Estou feliz que seremos marido e mulher em breve.

— Desejo que seja feliz.

Sabrina sorri e seus olhos se estreitam.

— Mas... e você?

Ela senta-se no poof, no chão, de frente para mim.

— Eu...?

— É. — ela morde os lábios. — Em relação a tudo isso, quero dizer.

— Se refere ao bebê?

Ela assente.

— Seu irmão quer muito essa criança. Fico feliz em poder ajudá-lo de alguma maneira. Gosto de me sentir útil para algo bom.

Sabrina cerra os olhos em mim, parece duvidosa.

— Não sou a favor disso. Quero dizer, havia outros metódos mais convencionais. Sinto que isso... foi uma atitude um pouco egoísta de Derek. Ele só pensou em si mesmo.

— Acho que ele só estava desesperado.

— Não é justificável. — ela ri, sem humor. — Não é justo também.

— Justo...

— Não é justo com você. Vai carregar uma criança em seu ventre, sabe o quanto isso é grande e significativo?

— Está com medo de que eu possa me apegar a criança?

Sabrina fica calada.

— Tenho medo de que se torne mãe. Não quero que se machuque, porque posso ver que é uma boa pessoa. Pelo menos nisso o Derek acertou. — Sabrina me sorri. — escolheu a pessoa ideal para carregar seu filho na barriga.

— Acha?

— Tenho certeza.

— Obrigada, Sabrina.

— De nada. — ela molha os lábios rapidamente e sorri de lado, parece emocionada. — Vamos descer? O jantar já deve ter sido servido. E, convenhamos, precisa se alimentar bem. Por você e pelo bebê.

Assinto e saio seguida de Sabrina.

De um jeito inédito, Sabrina entrelaça nossas mãos e agora eu quem fico emocionada. Porque sinto que nos conhecemos há anos. A conexão que surgiu entre nós parece ter vindo de outras vidas.

Tenho certeza que estes nove meses não serão faceis, mas não serão impossíveis, tendo em vista que agora eu tenho uma amiga ao meu lado.

Porque é isso que sinto em relação a Sabrina. Ela já é uma amiga.

Derek

— Amanda, esta cópia do contrato ficará com você. Qualquer dúvida, não hesite em vir até mim. — Damen diz gentilmente a Amanda, que assente, acenando com a cabeça.

Meus olhos correm até Amanda. Sinto uma certa tensão invadir seu ser e, no momento em que ela toma o contrato em suas mãos, a tensão se mostra ainda mais visível.

— Então... vamos falar sobre os pontos mais relevantes, certo? — meu irmão inicia. — Suponho que já esteja ciente, Amanda, mas é meu dever alertá-la de que a criança não terá laço algum com você, entendido?

Amanda confirma com a cabeça.

— Depois que você fizer os exames necessários e recebermos a confirmação de sua gestação, você deverá satisfações a Derek em tudo que, de um jeito ou de outro, possa envolver a criança. Desta forma, Derek deverá zelar pela sua vida, da mesma forma que vai zelar pela da criança. — Amanda morde os lábios, assentindo em seguida. — Devo lembrá-la que sempre que precisar se ausentar, terá de pedir o consentimento de Derek. Não é por nada, é só por ele exigir, sempre, estar perto da criança. Ele quer acompanhar todos os momentos da gestação.

Damen rola os olhos e respira fundo, retomando a sua postura.

— Antes que haja alguma pergunta sobre o tema que segue, devo avisá-los: este contrato não poderá ser anulado.  Ou pode... — Damen estala a boca. — Tendo em vista todos os benefícios que você terá, Amanda, caso deseje recorrer a anulação do contrato, deverá arcar com as responsabilidades e devolver tudo que lhe foi dado, com juros. Mas não estou dizendo isso para assustá-la, não me leve a mal...

Damen coça a nuca e eu suspiro alto, ele me olha, percebe que estou repreendendo sua atitude, ele pigarreia e eu rolo os olhos.

— Alguma dúvida até aqui? — ele retoma a sua imparcialidade.

Numa sincronia inédota, Amanda e eu nos entreolhamos, negando com a cabeça.

— Você realizará, em breve, alguns exames de rotina. Precisamos ver se está apta a inseminação artifícial e como está sua saúde... Se você é portadora de alguma doença que possa afetar o bebê.  Mas não será nada tão invasivo. Tudo bem?

— Certo. — Ela assente, atenta.

— Faremos os exames amanhã, pode ser? — eu digo, incapaz de conter minha ansiedade.

— Por mim, tudo bem. — a garota sopra.

É minha vez de assentir.

—  Só para reforçar: É importante que você não crie laços afetivos com a criança. Como já disse, ela não será sua.

Não consigo decifrar a expressão facial de Amanda. É difícil de interpretar, mas sei que ela não está morrendo de felicidade.

— Isso não é problema. — ela certifica.

— Por ora, isso é só. Caso haja alguma dúvida, me procure e eu prometo tentar esclarecer. — Meu irmão desvia os olhos para Amanda e força um sorriso.

— Quero que se sintar em casa, Amanda. — eu digo, voltando-me para a jovem mulher mais à frente.

— Obrigada, seu De...

— Derek. — corto-a. — Me chame de Derek.

Abro um singelo sorriso.

— Sei que são muitas coisas para você processar, mas meu caso também é extremo. Essa criança é muito importante para mim.

— Eu entendo. Obrigada... Derek. — ela sorri.

Depois, ergue-se da cadeira, cumprimenta Damen e deixa o escritório.

Damen me olha de um jeito esquisito. Depois, repete os passos de Amanda. No fim das contas, fico sozinho no escritório. Pensativo e ansioso.

Não consigo dormir durante a noite. Estou inquieto, o sono simplesmente desaparece e eu fico ali, indignado, e muito acordado.

Perco a conta de quantas vezes me remexi na cama, troquei de posição e simplesmente nada adiantou.

Respiro fundo e levanto-me da cama. A insônia me venceu, não há mais como negar.

Coloco meu roupão e decido que preciso de água. Preciso apenas respirar e assimilar tudo que tem que me acontecido nessas últimas vinte e quatro horas.

Não demora para que eu note a presença de Amanda na cozinha. Ela está de costas, sentada em um uma das cadeiras altas.

Arranho a garganta, fazendo sua atenção se direcionar à mim.

— Desculpe, não tinha visto que você estava... — ela começa, meio envergonhada.

Forço um sorriso e nego com a cabeça.

— Está tudo bem. — afirmo. — Eu apenas vou tomar um copo de água.

Ela assente, tímidamente.

Caminho até a geladeira e pego a jarra com água.

Percebo, através de minha visão periférica, os olhos de Amanda cravados em mim.

— Você quer...?

Ela se endireita na cadeira, na medida que eu me viro para encará-la.

— Ah, não. Estou bem, obrigada.

Sorrio e confirmo com a cabeça.

— Certo. — digo, por fim. — Ahm... Você está sem sono ou...?

— Eu só... Me desculpe por estar perâmbulando pela sua casa, seu Derek, é só que... Bem, o quarto em que estou é perfeito, mas... — ela ri sem jeito. — Mas eu não estou acostumada com esse luxo, se é que me entende. Eu... Eu dormia numa beliche, então... Tudo é muito novo para mim.

Abro a boca para dizer algo, mas me faltam as palavras.

— É... — minuciosamente, puxo um dos bancos que está à frente de Amanda. — Primeiro, eu insisto que me chame apenas de Derek. Por favor, apenas Derek, certo? — Ela assente, sorrindo. — Segundo... Eu sinto muito por tudo que já viveu. Não nos conhecemos muito bem, mas, quero que saiba que esta será sua casa pelos próximos meses. Sei que não está acostumada com todos estes privilégios, mas é questão de tempo até se adaptar, tudo bem? Só precisa se esforçar em esquecer as coisas ruins que viveu.

Amanda me olha atentamente, seu olhar exala um brilho diferente. Sinto que ela vai chorar a qualquer momento e tudo que espero é que isso não aconteça.

Nunca fui bom em lidar com pessoas chorando.

— Obrigada, seu... — eu semicerro meu olhos nela, fazendo-a sorrir fraco. — Quero dizer, apenas Derek.

Sorrio, assentindo.

— Ótimo. — eu digo, finjo um tom meio duro. Ela acha graça. — Acho que deveria tentar dormir. Amanhã terá um dia bem cansativo, é bom que esteja descansada.

Ela ergue-se do banco e ajeita o roupão no corpo.

— Mais uma vez... Obrigada. De verdade, Derek.

— Se tem alguém grato, este alguém sou eu.

Ela sorrir sem mostrar seus dentes. É um sorriso belo, tenho que admitir.

— Boa noite. — ela diz, antes de sair andando sem jeito.

— Boa noite. — murmuro baixinho.

Quando volto para o quarto, de alguma maneira, consigo dormir todo o restante da noite sem interrupções alguma.

Deve ter sido um milagre, penso. Ou simplesmente outra coisa.

Ou alguém.

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