Quando chegou ao apartamento, foi recepcionada por um sorriso, mas não conseguiu retribuir. Entrou no elevador e então seu coração começou a bater muito mais rápido que a pouco. Como se fosse sair por sua boca. Seu corpo inteiro tremia, sua respiração estava tão alta que ela imaginava se todo o prédio podia escutar. E tudo piorou quando as portas se abriram, indicando que havia chegado. Adentrou a cobertura que ela conhecia tão bem, e devagar começou a subir as escadas, seguindo em direção ao quarto principal onde escutou vozes.
— Você já vai?
Aquela voz.
Kylie tinha a impressão de já ter escutado antes.
— Estou atrasado.
— Eu posso acompanhá-lo ao banho.
Ele deu uma risada anasalada.
— Se me acompanhar não sairemos daqui hoje, e eu preciso ir.
— Claro, é o dia do casamento.
— Meu casamento. E todos estão a minha espera.
— Sua família sabe que se atrasará.
O estômago dela embrulhava a cada palavra dita por aqueles dois. Não podia acreditar no que seu noivo, o homem que amava havia feito. Ela havia dormido ali tantas vezes; naquela cobertura, naquele quarto. Estavam ambos ali quando disse que o amava, havia sido naquela cama que havia se entregado a ele, havia sido naquela cobertura que havia sido pedida em casamento.
Como ele pode?
Há quanto tempo estavam juntos?
Por quê?
Sentiu seu coração ficar pequenininho quando finalmente conseguiu adentrar mais aquele aposento, finalmente deixando que sua voz soasse.
— Luke.
O rapaz a fitou com os olhos arregalados, e quanto a mulher na cama, ela puxou os lençóis para tampar sua nudez.
— Kylie.
— Como você pode fazer isso comigo? Por quê? – Sua voz quase não foi escutada, mas apesar disso, continuou. – Se não me amava, se não queria se casar, então por que fez o pedido?
— Eu te amo.
Ela deu uma risada anasalada.
— Me ama? É assim que mostra que me ama? Transando com a sua professora da faculdade?
Um silêncio; curto, mas ainda assim houve por tempo demais para a loira.
— Foi... uma despedida.
— Uma despedida? – Repetiu, indignada. – Quer dizer que não foi a primeira vez?
— Samanta, nos deixe a sós.
— Ela fica! – Diz firme, encontrando coragem para ser forte mesmo que não estivesse se sentindo nenhum pouco forte naquele momento. – O que tenho para dizer é rápido. – Fitou um e depois o outro. – Vocês dois não prestam. Você, uma vadia por se envolver com um homem comprometido. E você... – Sentiu os olhos lacrimejarem, mas proibiu a si mesma de deixar uma lágrima sequer descesse por seu rosto. – É a maior decepção da minha vida. Eu... me arrependo e me arrependerei pelo resto da vida por ter confiado em você. Por ter me relacionado com você. Por ter me entregado a você. – Retirou o anel de noivado do dedo e jogou contra ele, ouvindo o som da peça ao tocar o chão.
— Kylie.
— Vai pro inferno.
E então se virou para sair, encontrando suas três melhores amigas — Sarah, Stella e Catherine — atrás de si, mas nem por isso deixou de seguir as pressas para fora daquele lugar que começava a ser claustrofóbico para si. Era como se mal pudesse respirar ali dentro. Sentia o ar se esvair de seus pulmões e por isso se apressou mais para sumir dali.
Não sabia como havia tido forças para dizer o que disse, para continuar ali depois do que viu e escutou. Sua mente girava, sentia que a qualquer momento podia desmaiar, mas ainda assim se manteve firme em chegar até o carro. Adentrou o automóvel escutando os gritos de suas amigas; elas chamavam por si, desesperadas; e podia imaginar o quão preocupadas estavam, mas mesmo assim decidiu dar a partida e acelerar para bem longe daquele lugar.
Sua mente traidora a levava para aquele momento; o que acabou encontrando seu noivo com outra na cobertura onde morariam depois de casados, e por isso apertou as mãos contra o volante, acelerando mais a velocidade do carro. De repente começou a se lembrar de tudo que passou ao lado dele; as brincadeiras quando mais novos, o primeiro beijo, a primeira vez, o pedido de casamento. Tudo. E enquanto se lembrava, as lágrimas finalmente desciam por seu rosto. Sentia uma dor dilacerante em seu peito. A traição e a decepção que sentia era tão grande, que mal cabia dentro de si, e por isso sentia aquela dor que mal a deixava respirar.
Seu coração batia de forma desenfreada, sua respiração provavelmente podia ser escutada a quilômetros de distância e suas mãos apertavam o volante em meio ao choro baixinho e sofrido. Ela não queria chorar, ela não queria estar sofrendo como estava sofrendo naquele momento, mas infelizmente estava acontecendo. Infelizmente era como se um pedaço dela tivesse sido quebrado dentro dela. E a culpa era de todos aqueles sentimentos ruins — incluindo os de humilhação e de que ela não era o suficiente — que sentia.
E foi por estar tão mal e com os pensamentos irritantes sobre aquele pior momento de sua vida que ela acabou percebendo um pouco tarde demais a garotinha há alguns metros de seu carro, o que fez com que pisasse no freio de forma desesperada, quase perdendo o ar pelo momento angustiante. Voltou a respirar por ter conseguido parar antes de bater contra a pequena e então desligou o automóvel antes de — rapidamente e em desespero — tirar o cinto e sair de dentro do carro afim de chegar até a criança.
— Você está bem? Está bem? – Tocou seus braços, se abaixando diante dela. – Perdão, querida, perdão. Eu não vi você, eu estava... – Tocou seu rosto. – Está assustada?
A menina apenas balançou a cabeça, fitando a mulher a sua frente com os olhos brilhando; para ela, era como se estivesse vendo uma princesa em sua frente.
— Eu sinto muito, de verdade, eu...
— Alice!
Kylie se virou, encontrando um rapaz de cabelos negros e olhos azuis tão escuros, que poderia dizer que eram pretos se não fosse o brilho azulado, vestindo-se apenas com uma bermuda verde-escura.
— Filha! – A puxou para seus braços. – Você está bem, querida?
— Sim, papa. – Respondeu, baixinho, toda meiga.
— Por que você atravessou a rua? Por que saiu de minhas vistas?
— Eu sinto muito.
Finalmente o moreno fitou a moça vestida de noiva, o que muito o deixou impressionado e um tanto curioso.
— Eu quase... – Seus olhos lacrimejaram. – Eu não devia ter pegado o carro, não devia estar dirigindo, eu não estou em meu melhor dia e...
O rapaz percebeu que a mulher estava completamente descontrolada e se comoveu, percebendo que alguma coisa havia a deixado daquela forma. Se fosse em outra circunstância acabaria sendo grosseiro, sem se controlar, mas o desespero da mulher a sua frente fez seu sangue esfriar completamente.
— Ela está bem.
Seus olhos se encontraram novamente.
— Podia ter acontecido o pior e a culpa seria minha. O que eu estou fazendo? – Levou as mãos ao rosto, chorando mais do que já chorava a pouco.
— Papa?
Ele beijou os cabelos da filha e então se aproximou da mulher de cabelos loiros, tocando suas mãos, retirando-as do rosto, fazendo com que mais uma vez encontrasse os olhos verdes brilhando em lágrimas.
— Venha comigo.
Ela não conseguiu se mexer.
— Parece que você precisa de uma água.