AUGUSTO
O relógio na parede marcava quase sete da noite, e a noite estava começando a cair sobre a cidade. O som do trânsito, das buzinas e das pessoas nas ruas parecia distante, como se eu estivesse em um outro mundo, onde apenas o que importava era o que eu estava prestes a fazer. Eu tinha uma missão e, para cumprir isso, precisava da ajuda de alguém que fosse capaz de fazer o trabalho de maneira limpa e eficiente. O mecânico de Alexandre era a peça-chave para que tudo saísse conforme o planejado. E eu sabia exatamente como abordá-lo.Estava em frente à oficina, o cheiro de óleo e combustível era forte no ar. Era uma garagem simples, não muito grande, mas bem estruturada. Sabia que o mecânico ali era bom no que fazia, mas também sabia que ele não seria fácil de convencer. Quando se trata de dinheiro, muitos homens têm um preço, mas alguns ainda mantêm certos princípios. Eu ia ver até onde esse cara estava disposto a ir.Entrei na oficina e olhei ao redorAugustoCheguei em casa com a sensação de ter feito algo importante, mas também com uma tensão crescente no peito. Eu sabia que esse passo, negociar com o mecânico, era o que precisávamos para seguir adiante com o plano. Um plano que, de alguma forma, parecia se tornar cada vez mais real. E quando a realidade se aproxima de nós, o peso das consequências fica muito mais claro.Entrei pela porta e fui direto até a sala. Luiza estava sentada no sofá, olhando distraidamente para a televisão. Quando me viu, levantou-se imediatamente, com um sorriso no rosto, e veio me abraçar."Conseguiu?" Ela perguntou, sua voz suave, mas cheia de expectativa."Sim, consegui", respondi, já começando a me sentir um pouco mais leve. "O mecânico aceitou o preço que ofereci. Ele vai alterar o carro de Alexandre durante a próxima revisão. Vai parecer um acidente."Luiza me olhou com um brilho nos olhos. Eu poderia ver que ela estava satisfeita, mas também pod
Alexandre Deixei Lara na casa da avó dela, Cecília, como havíamos combinado. Antes de sair, ela segurou minha mão e sorriu, dizendo para eu tomar cuidado na estrada. Assenti com um beijo rápido e garanti que não demoraria. Afinal, era só uma revisão no carro, algo de rotina.Peguei a estrada rumo à oficina onde sempre fazia a manutenção do carro. Era um lugar confiável, administrado por um mecânico que já conhecia há anos. O trajeto foi tranquilo, e, ao chegar lá, estacionei e desci, cumprimentando os funcionários que trabalhavam em outros veículos.— E aí, Zeca, como estão as coisas? — perguntei ao mecânico principal, que se virou para mim com um sorriso amistoso.— Tudo na mesma, Alexandre. E você, como estão as coisas? Soube que vai ser pai. Parabéns! — Ele limpou as mãos num pano sujo de graxa e me cumprimentou com um aperto de mão firme.Sorri de volta.— Valeu, cara. Estamos muito felizes. Agora é só preparar tudo pra chegada do bebê.— Isso é ótimo. Mas então, veio fazer o che
MecânicoO barulho das ferramentas e o cheiro de óleo queimado sempre fizeram parte da minha rotina. Trabalhar com carros era algo que eu dominava com perfeição. Ninguém naquela cidade conhecia os motores como eu. E foi exatamente por isso que Augusto me procurou. Não sou de me envolver com sujeira, mas o valor que ele me ofereceu... bom, digamos que qualquer um pensaria duas vezes antes de recusar.A oficina estava mais vazia do que o habitual quando Alexandre apareceu. Sempre educado, confiante, daquele tipo de homem que está acostumado a ter tudo aos seus pés. Ele me entregou a chave, trocamos algumas palavras sobre a manutenção, e ele confiou o carro a mim como se fosse um serviço qualquer. Mas não era. Não para mim. Não desta vez.Esperei ele se afastar completamente da oficina antes de pegar meu celular. Me afastei para os fundos, onde a barulheira era menor, e disquei o número de Augusto. Ele atendeu no segundo toque.— Fala.— Ele acabou de deixar o carro. Vou fazer o serviço
AlexandreDepois de resolver algumas pendências no escritório e responder algumas ligações importantes, olhei o relógio e percebi que já estava na hora de buscar o carro na oficina. Zeca havia me garantido que a revisão estaria pronta naquele horário. Peguei o celular e digitei uma mensagem para Lara:"Vou buscar o carro, amor. Já passo aí pra te pegar."Ela demorou alguns minutos para responder. Quando o celular vibrou com a notificação, esperava um coraçãozinho ou um "ok, meu amor", mas o que vi foi totalmente diferente:"Não vai. Por favor. Estou com um pressentimento horrível."Franzi a testa. Liguei na mesma hora.— Lara? O que houve? — perguntei, sentindo o coração acelerar.— Amor, por favor, não vai. Não sei explicar... eu estou me sentindo mal, muito mal. Vem me ver. Eu preciso de você aqui. — A voz dela estava embargada, como se estivesse segurando o choro.— Calma, eu já estou indo. Não vou buscar carro nenhum agora. Me espera.Desliguei o telefone e fui direto para a casa
AlexandreO quarto do hospital estava silencioso, apenas o som do monitor cardíaco marcando o ritmo constante dos batimentos de Lara. Ela dormia, enfim tranquila depois da medicação leve que a médica recomendara para a crise de ansiedade. Eu estava sentado ao lado da cama, segurando sua mão, tentando me manter sereno.Apesar da tranquilidade momentânea, algo dentro de mim estava inquieto. Fazia mais de duas horas desde que mandei o motorista buscar o carro na oficina. Ele disse que era perto e que logo estaria de volta, mas até agora... nada.Peguei o celular e tentei ligar para ele. Primeira chamada: sem resposta. Segunda: direto na caixa postal. Franzi o cenho, sentindo um calafrio estranho na espinha.Respirei fundo, tentando não deixar a ansiedade de Lara me contaminar. Talvez tivesse se atrasado no caminho, talvez estivesse no trânsito, talvez estivesse...O controle remoto da televisão estava sobre a mesinha. Liguei a TV apenas para espairecer um pouco e talvez distrair minha me
AlexandreAinda estava sentado ao lado da cama de Lara, segurando sua mão com força, tentando disfarçar o tremor que insistia em subir pelos meus dedos, quando meu celular tocou. Olhei para a tela e vi um número desconhecido. Atendi imediatamente, esperando qualquer notícia do motorista.— Senhor Alexandre Costa? — disse uma voz masculina, firme e profissional.— Sim, sou eu. Quem fala?— Aqui é o delegado Barreto, da 3ª DP do Rio de Janeiro. Precisamos que o senhor compareça com urgência à delegacia. Trata-se de um assunto relacionado ao acidente envolvendo seu carro.Senti o coração acelerar ainda mais.— O motorista está bem? O que aconteceu?— O senhor será informado de tudo pessoalmente. Mas posso adiantar que há indícios de que o acidente não foi exatamente... um acidente. Precisamos conversar com o senhor com urgência.Meus olhos encontraram os de Lara. Ela estava mais calma, mas ainda assustada. Respirei fundo.— Tudo bem. Estou indo agora.Desliguei e, em seguida, liguei para
AugustoEstava sentado na varanda da nossa casa, com uma taça de vinho na mão, esperando a notícia chegar. A noite estava tranquila, silenciosa, como se o universo finalmente tivesse entendido que era hora de me dar o que eu queria. Alexandre morto. Finalmente fora do meu caminho.Luiza apareceu na porta com o celular na mão, o rosto iluminado pela luz da tela. Sorriu.— Já começaram a noticiar, amor. Acidente na Avenida Atlântica. O carro dele ficou destruído.Dei um longo gole no vinho, sentindo o gosto da vitória. O plano tinha sido perfeito. Simples, direto, e sem rastros. Um acidente de carro. Quem desconfiaria?— Finalmente, Luiza. A empresa vai estar nas nossas mãos em menos de uma semana.Ela se aproximou, sentando-se ao meu lado.— Você foi genial. Cortar os freios... é simples, mas eficaz. E ninguém vai suspeitar.Assenti, satisfeito.O celular vibrou. Era um dos meus homens. Atendi com a calma de quem já sabia a resposta.— Diga.— Chefe... temos um problema.Meu coração de
José Carlos (Zeca)Nunca pensei que fosse chegar nesse ponto. Quando aceitei aquele dinheiro sujo, achei que era apenas mais um serviço como tantos outros. Cortar os freios, ele disse. Rápido, silencioso. Pareceria um acidente. E por uma quantia absurda como aquela, eu não pensei duas vezes.Mas agora, andando apressado pelo saguão do aeroporto, com o suor escorrendo pela minha nuca, tudo parecia diferente. Cada olhar atravessado, cada passo apressado atrás de mim, me fazia sentir como um animal prestes a ser capturado.Eu sabia que tinham descoberto. Ou estavam perto. A notícia sobre o carro do tal Alexandre não ter sido fatal me destruiu. O motorista sobreviveu. E se ele falasse? E se ele lembrasse de algo? E se ligassem os pontos?Tentei apagar os rastros. Queimei os recibos, deletei mensagens, joguei o celular fora. Mas a polícia é esperta, ainda mais quando o sujeito é rico e influente como aquele homem. E agora, eu era a presa.Tudo começou quando eu entrei em um cyber café na z