22. Vozes na Madrugada
Kairos se moveu com calma, como se tivesse tomado uma decisão silenciosa. Levantou-se do sofá e, sem esforço, estendeu a mão para mim. Havia firmeza no gesto, mas também uma delicadeza contida, como se não quisesse me pressionar.
— Venha comigo — disse, baixo, como se a noite tivesse de guardar segredo das próprias palavras.
Hesitei apenas por um instante antes de aceitar. A palma dele era quente, segura, e o contato breve me deu a estranha impressão de que cruzávamos uma fronteira invisível. Caminhamos até o corredor lateral, e logo ele abriu uma porta ampla, revelando o quarto.
A primeira coisa que me chamou a atenção foram os tons neutros. Cinza claro predominava nas paredes, em contraste com o cinza escuro da cabeceira estofada, enquanto detalhes em bege suavizavam a atmosfera. Nada ali parecia improvisado: cada detalhe transmitia ordem, controle e, ao mesmo tempo, sobriedade.
No canto esquerdo, uma parede de vidro se estendia do chão ao teto, revelando a cidade iluminada. As