12. Sombra do passado
Quando voltei ao meu quarto no hotel, ele parecia menor naquela dia, como se as paredes tivessem se aproximado em silêncio, sufocando qualquer tentativa de ignorar a noite anterior. Eu passava cuidadosamente cada peça de roupa dobrada, tentando manter os gestos metódicos para distrair minha mente.
Mas não adiantava.
Aquela viagem havia acabado e com ela, eu levaria lembranças que jamais poderia esquecer.
Cada vez que meus dedos roçavam no tecido do vestido negro que havia usado no jantar, meu corpo recordava a intensidade do que acontecera depois. A respiração entrecortada, a urgência nos olhos de Kairos, o peso dele sobre mim — tudo ainda estava tão vivo que eu me perguntava como conseguiria voltar a olhar para ele sem corar.
— Como estão as coisas aqui?. — A voz dele cortou o ar, grave e firme enquanto entrava no meu quarto.
Ergui os olhos. Kairos estava diante do espelho, ajeitando a gravata cinza com a mesma precisão quase ritualística que parecia definir cada movimento