As respostas para os currículos que enviei começaram a chegar.

Entre todas, a que mais me agradou foi de uma grande empresa farmacêutica vinculada a Alcateia do Fogo, que ficava nos arredores de Cidade Mussulo.

Eu marquei a entrevista imediatamente.

Na vida passada, eu sonhei inúmeras vezes em ter um emprego bem remunerado, mas nunca consegui uma oportunidade de verdade.

Desta vez, eu estava ao mesmo tempo nervosa e animada. Enquanto pensava em como organizar meus próximos passos, meu celular tocou.

Era ele.

Eu hesitei por alguns segundos antes de atender.

A voz de Ethan, fria como sempre, soou do outro lado:

— Onde você está?

Meu bom humor desapareceu no mesmo instante:

— O que foi agora?

O tom dele ficou ainda mais duro:

— Meus pais voltaram. Eles querem que você jante conosco.

O céu já começava a escurecer quando eu retornei à mansão da Alcateia Bravo.

Ao redor da mesa de jantar estavam quatro pessoas: o Alfa, a Luna, Ethan e Kira.

O ambiente estava estranho, com uma tensão no ar, e cada rosto parecia carregado por uma sombra invisível. Eu me sentei com tranquilidade, sem demonstrar emoções.

Ethan me olhou por um breve momento antes de se levantar subitamente e sair da sala.

Kira o seguiu imediatamente, com uma expressão de triunfo evidente.

Eu permaneci imóvel, apenas me virei para o Alfa e lhe dei um sorriso educado.

Na vida passada, nos dias em que Ethan me torturava emocionalmente, o Alfa e a Luna foram as poucas pessoas que falaram em minha defesa. Mas naquela época, Ethan já havia assumido o papel de líder da Alcateia Bravo, e nem eles conseguiam detê-lo.

Eu nunca os culpei. A única culpada foi a minha própria tolice por ter despertado tarde demais.

Respirei fundo e, com um tom calmo, comecei:

— Alfa, eu pensei muito sobre isso. Eu não sou a pessoa certa para ser a próxima Luna da Alcateia, e ele me odeia. Eu estou exausta. Se continuarmos presos um ao outro, isso só vai nos destruir. É melhor que cada um siga seu caminho. Ter um Companheiro Destinado não significa que devemos ficar juntos a qualquer custo.

Os olhos da Luna se encheram de lágrimas:

— Luana... Você não quer reconsiderar?

Eu balancei a cabeça, firme:

— Não, Luna. Esta é a decisão mais clara que tomei desde que voltei à vida.

Depois do jantar, voltei ao meu quarto para pegar os pertences pessoais que havia deixado para trás. No corredor, ao virar uma esquina, encontrei Kira me esperando.

Ela tinha os olhos vermelhos, como se estivesse chorando, e sua voz saiu em um tom suplicante:

— Luana, por favor, devolva o Ethan para mim. Eu estou grávida dele. Nosso filhote precisa de um pai.

Por um breve instante, o canto de sua boca se curvou em um sorriso quase imperceptível, mas cheio de malícia.

Instintivamente, eu recuei um passo.

No momento seguinte, Kira agarrou minha mão e a pressionou com força contra o próprio ombro. Então, ela se jogou para trás, em direção à escada.

— Luana! Ah! Dói tanto! Meu filhote! — Ela gritou enquanto rolava escada abaixo, e logo seu vestido ficou manchado de sangue.

O grito dela cortou o ar como uma lâmina.

Ethan saiu correndo do escritório ao ouvir a confusão. Quando ele viu Kira caída no chão, sangrando, seus olhos ficaram vermelhos de fúria.

Sem pensar duas vezes, ele veio direto na minha direção e me deu um tapa com toda a força.

— Você enlouqueceu? Como teve coragem de machucá-la? Nem o nosso filhote que ainda nem nasceu você poupa! Você é uma mulher cruel!

O Alfa e a Luna chegaram apressados, atraídos pelos gritos. Kira chorava de forma desesperadora, como se estivesse à beira do colapso.

Ethan, tomado pela raiva, apontou o dedo para mim e gritou:

— Pai! Mãe! Olhem para ela! Ela não merece ser a próxima Luna da Alcateia!

Eu encarei Ethan, vendo apenas ódio em seus olhos. Com calma, apontei para a câmera de segurança instalada no corredor:

— Quem é inocente não precisa temer. E não se preocupe, Ethan. A partir de agora, eu não sou mais sua futura Luna.

Eu respirei fundo e continuei, com firmeza:

— Eu, Luana, aceito e reconheço a sua rejeição, Ethan.