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Capítulo 4 – Onde o Silêncio Grita

“Não é fraqueza precisar de abrigo. É coragem procurar por ele.”

O campo de treino da unidade Alfa estava iluminado apenas pela luz de postes altos e o brilho pálido da lua. Era o primeiro treino com a nova formação — e Sophia Scoot se sentia como uma peça que caiu do quebra-cabeça errado.

Luna “Bee” Green liderava a parte física.

— Nada pesado hoje — explicou com um sorriso. — Só quero observar. Estímulo, reflexo e controle de impulso.

— Ou seja, a gente tenta não matar ninguém — completou Joker, girando a faca entre os dedos com uma naturalidade desconcertante.

Principalmente você mesmo — murmurou Hawk, recebendo um tapa no ombro de Mike em resposta.

Sophia ficou em silêncio. Usava a roupa de treino padrão: camiseta, calça, coturno. Os cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. As mãos tremiam, mas ela as manteve escondidas nos bolsos.

Era a única sem postura de combate. A única sem cicatrizes visíveis.

Mas era a única que via padrões onde os outros viam bagunça.

— Scoot, você começa com a Luna — disse Viktor, surgindo do lado oposto do campo, com os braços cruzados. — Só movimentos básicos. Confiança primeiro, força depois.

— Sim, senhor.

A voz dela saiu mansa. Quase doce.

Luna sorriu, abaixando-se em postura defensiva.

— Vem, pequena. Sem medo.

E Sophia foi.

Os movimentos eram hesitantes, mas precisos. Luna guiava com paciência, corrigia com toques leves.

Porém, em um giro de demonstração, a mão de Luna passou rápido demais perto do rosto de Sophia — não a tocou, mas a lembrança veio como uma faca.

Aquele gesto. Aquela mão. O tom de voz masculino. As palavras cruéis.

Ela se afastou de súbito, o peito arfando.

— Sophia? — Luna perguntou.

Mas a garota já corria.


20 minutos depois, casa dos Belmont

Helena abriu a porta com expressão preocupada.

Do lado de fora, Sophia tremia, os olhos marejados, os braços cruzados sobre o próprio corpo.

— Eu… — a voz dela falhou. — Desculpa aparecer assim. Eu só…

Helena a puxou para dentro antes mesmo que ela terminasse.

— Você nunca vai precisar pedir desculpas pra vir aqui, Sophia.

Ela a conduziu para o sofá, enrolou a menina numa manta e sentou-se ao lado, como se fizesse isso há anos.

— Foi o treino? — perguntou baixinho.

Sophia assentiu, os olhos ainda fixos no chão.

— Não me bateram. Não gritaram. Mas… meu corpo pensou que ia acontecer. E eu me vi de novo naquele alojamento. Com ele. As lembranças voltaram com força e eu só consegui fugir.

Helena pegou sua mão.

— Você é forte. Mas força não significa não sentir. Significa continuar mesmo sentindo.

Sophia mordeu o lábio com força.

— Eu tô tentando. Mas… às vezes parece que meu passado é uma coleira. Eu quero correr… mas ainda ouço o estalo da corrente.

Helena encostou a testa na dela com ternura.

— Então a gente vai quebrar essa corrente, um elo por vez.

E se alguém tentar te puxar de novo… vai ter que passar por mim.


Sala de Comando, mais tarde

Viktor observava as câmeras internas, onde Sophia aparecia dormindo no sofá da casa de seus pais.
A imagem dela, pequena e enrolada na manta, apertou algo em seu peito.

James apareceu ao lado.

— Ela é forte, mas... é como uma porcelana que já foi colada muitas vezes, né?

— É — disse Viktor, ainda olhando para a tela. — Mas até porcelana pode cortar, se for quebrada do jeito errado.

James cruzou os braços.

— Acha que ela vai aguentar o time Alfa?

— Não.
Ela vai superar o time Alfa.

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