“Não é fraqueza precisar de abrigo. É coragem procurar por ele.”
O campo de treino da unidade Alfa estava iluminado apenas pela luz de postes altos e o brilho pálido da lua. Era o primeiro treino com a nova formação — e Sophia Scoot se sentia como uma peça que caiu do quebra-cabeça errado.
Luna “Bee” Green liderava a parte física.
— Nada pesado hoje — explicou com um sorriso. — Só quero observar. Estímulo, reflexo e controle de impulso.
— Ou seja, a gente tenta não matar ninguém — completou Joker, girando a faca entre os dedos com uma naturalidade desconcertante.
— Principalmente você mesmo — murmurou Hawk, recebendo um tapa no ombro de Mike em resposta.
Sophia ficou em silêncio. Usava a roupa de treino padrão: camiseta, calça, coturno. Os cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. As mãos tremiam, mas ela as manteve escondidas nos bolsos.
— Scoot, você começa com a Luna — disse Viktor, surgindo do lado oposto do campo, com os braços cruzados. — Só movimentos básicos. Confiança primeiro, força depois.
— Sim, senhor.
A voz dela saiu mansa. Quase doce.
Luna sorriu, abaixando-se em postura defensiva.
— Vem, pequena. Sem medo.
E Sophia foi.
Os movimentos eram hesitantes, mas precisos. Luna guiava com paciência, corrigia com toques leves.
Aquele gesto. Aquela mão. O tom de voz masculino. As palavras cruéis.
Ela se afastou de súbito, o peito arfando.
— Sophia? — Luna perguntou.
Mas a garota já corria.
Helena abriu a porta com expressão preocupada.
— Eu… — a voz dela falhou. — Desculpa aparecer assim. Eu só…
Helena a puxou para dentro antes mesmo que ela terminasse.
— Você nunca vai precisar pedir desculpas pra vir aqui, Sophia.
Ela a conduziu para o sofá, enrolou a menina numa manta e sentou-se ao lado, como se fizesse isso há anos.
— Foi o treino? — perguntou baixinho.
Sophia assentiu, os olhos ainda fixos no chão.
— Não me bateram. Não gritaram. Mas… meu corpo pensou que ia acontecer. E eu me vi de novo naquele alojamento. Com ele. As lembranças voltaram com força e eu só consegui fugir.
Helena pegou sua mão.
— Você é forte. Mas força não significa não sentir. Significa continuar mesmo sentindo.
Sophia mordeu o lábio com força.
— Eu tô tentando. Mas… às vezes parece que meu passado é uma coleira. Eu quero correr… mas ainda ouço o estalo da corrente.
Helena encostou a testa na dela com ternura.
— Então a gente vai quebrar essa corrente, um elo por vez.
Viktor observava as câmeras internas, onde Sophia aparecia dormindo no sofá da casa de seus pais.
A imagem dela, pequena e enrolada na manta, apertou algo em seu peito.
James apareceu ao lado.
— Ela é forte, mas... é como uma porcelana que já foi colada muitas vezes, né?
— É — disse Viktor, ainda olhando para a tela. — Mas até porcelana pode cortar, se for quebrada do jeito errado.
James cruzou os braços.
— Acha que ela vai aguentar o time Alfa?
— Não.
Ela vai superar o time Alfa.