Chego no Brasil no sábado logo de manhã e sou recebido pelo César, o meu amigo, ele veio me buscar para me levar até o apartamento, estou louco para conhecer meu novo canto.
— Olha só quem veio embora. — Cesár já vem me abraçando.
— Ah, seu idiota, você sabia que eu viria. — retribuo o abraço.
— Claro, mas quem larga os Estados Unidos para voltar para o Brasil?! Só você mesmo — ele me repreende, revirando os olhos.
— E você sabe muito bem porque voltei, tenho que assumir o lugar do meu pai. Mas, se tudo o que pretendo der certo, em dois ou três anos irei embora novamente.
— Como assim, ir embora em dois anos? Conta essa história direito — Cesár me pede olhando de forma séria.
— Pretendo levar os hotéis para fora do Brasil, já tenho um investidor de olho na rede, então se tudo der certo logo seremos conhecidos mundialmente.
— E você propôs isso para o seu pai?
— Isso será decidido em reuniões com o conselho, mas, duvido que eles não vão amar a idéia. Será mais dinheiro para o nosso bolso.
— Bem, vamos andando que você deve estar cansado.
E assim partimos para o meu novo apartamento. Cheguei, fiz o meu cadastro como acesso único da entrada, sei que logo todos saberão que estou de volta e não quero receber visitas indesejadas. Cadastro minha senha no elevador e também na porta, assim como minha digital. Assim que coloco os pés para dentro, já sou recebido por um hall de entrada, com um banco e um armário, onde posso deixar os sapatos e casacos. Logo mais à frente, entro na sala, que é enorme, um pé direito alto, janelas de vidro por toda parte, um barzinho no canto com alguns bancos e no lado oposto é a minha cozinha. Mais à frente da cozinha tem uma porta que dá para a parte externa do apartamento, onde fica a área da piscina, que tem também algumas espreguiçadeiras e uma área de churrasco, do jeito que eu gosto.
Retorno para dentro e subo as escadas, onde encontro os quartos, no final do corredor é o quarto máster, que tem uma linda vista da cidade, com uma parede inteira de vidros que vai do chão ao teto. Fico impressionado com a beleza do apartamento e muito satisfeito por saber que ele é meu, enfim, o meu canto, onde ninguém irá me atrapalhar.
Viro para meu amigo que me segue com uma cara séria, dou-lhe um tapinha nas costas, um aperto de mão e lhe digo.
— Obrigado, amigo! Muito satisfatório. Você realmente conhece os meus gostos.
— Uffa, achei que não tinha gostado, andou o apartamento todo sério, sem expressão nenhuma.
— Como posso não gostar, o edifício é otimo e seguro. O apartamento é lindo e com a vista que pedi e ainda é próximo ao meu trabalho, não poderia ser melhor e mais perfeito.
— Fico imensamente feliz com suas belas palavras, mas vamos que quero almoçar. Sua geladeira já está cheia, pode preparar um almoço que eu espero da piscina — Cesár fala todo sorridente.
— Espera aí, espertinho, o apartamento é meu e você vem querer mandar, nem pensar — falo de forma séria, no fundo com um toque de humor.
— Eu que o encontrei para venda, do jeitinho que você queria, mobilíado e ainda com a geladeira e barzinho lotado, um almoço é o mínimo para me agradecer — me repreende em tom brincalhão.
— Tá bom, mas só dessa vez. E não se acostume que não vou ficar te convidando para vir pra cá, você tem sua casa.
Termino de falar e meu telefone toca, eu o retiro do bolso e vejo que é meu pai me ligando, aviso ao César que irei atender e retorno para o meu quarto.
— Boa tarde, papai, como está?
— Meu filho, ainda não chegou? Estamos te esperando em casa e sua mãe está preocupada — meu pai me adverte com a voz preocupada.
— Sim, papai, cheguei e vim direto para conhecer o apartamento que comprei, irei para jantar, avise a mamãe por favor.
— Você comprou um apartamento? Mas já estou vendo a casa que irei te dar de presente de casamento — senhor Edgar fala de forma convincente. Sinto que terei problemas com meu velho. Bufo indgnado.
— Papai, mais tarde no jantar conversamos, ok?
—Tudo bem, filho, te esperamos – desligo a ligação.
Aproveito que estou no quarto, abro a mala e pego uma roupa confortável, vou preparar alguns petiscos e depois aproveitar a piscina. Saio do quarto e já encontro o César fuçando na minha geladeira e tirando algumas coisas de dentro.
— O que tem de bom aí? — pergunto sem ele me ver.
— Cara, que susto! — diz com a mão no coração, virando-se rapidamente. —. Estou tirando alguns petiscos para comermos enquanto curtimos a piscina e você aproveita e me conta o que aconteceu. Saiu daqui anos atrás, muito apaixonado e retorna me dizendo que não vai se casar. Conta essa história direito.
Arrumamos uma tábua de frios, pegamos cervejas na geladeira e fomos para o lado de fora. Hoje está um dia gostoso aqui em Atibaia, então iremos aproveitar e curtir a piscina.
Conto para o meu amigo tudo o que aconteceu, nos mínimos detalhes e vejo revolta em seus olhos, afinal, ele nos acompanha desde que somos jovens, nosso início e quando resolvemos estudar juntos fora do Brasil. O resultado, foi uma vida jogada fora. E eu tenho que concordar com ele, o que me conforta é que descobri como ela é antes de me casar. Suspiro mais uma vez, essa história sempre me aborrece.
Passamos uma tarde gostosa, no início da noite ele vai embora e eu sigo para a casa dos meus pais, vamos lá enfrentar a fera.
Paro de frente ao portão de ferro e os seguranças pedem a minha identificação, claro, fui embora há anos e muitos deles não me conhecem. Me indentifico e logo eles autorizam a minha entrada, e no final das escadas está minha mãe, como senti falta dela, desço correndo do carro e ela se j**a em meus braços.
— Ohh, meu filho querido, enfim, de volta em casa. Ah, como esperei por esse momento! — minha mãe fala me abraçando forte e me beijando nas bochechas com os olhos cheio de lágrimas. Sempre são assim nossos encontros.
— Oi, mamãe, também senti saudades. Vamos entrar — digo me desvencilhando de seus braços e entrando em casa.
Encontro meu pai sentado no sofá com um copo de uísque na mão, que logo me oferece e corro até o barzinho para pegar, hoje precisarei de muitos desse para enfrentar a fera.
— Boa noite, papai! — eu o cumprimento indo lhe abraçar.
— Boa noite, meu filho, é muito bom te ter de volta. — Ele devolve meu abraço. — Me conte como foi estudar fora? Apesar de sempre irmos te visitar, íamos correndo e nunca dava tempo de nada — pergunta bebendo de seu uísque.
— Lá, é outro mundo, papai, as faculdades, a pós que fiz, tudo muito maravilhoso, eu aprendi muito e quero em colocar em prática tudo — respondo sério.
— Foi pra isso que te mandei pra lá, precisamos de ideias novas na empresa, estamos parados no tempo com os hotéis, precisamos renovar. Aceitamos transformar o hotel daqui em resort e nossos clientes amaram.
— Eu disse que eles iriam gostar, mas podemos expandir essa ideia o que acha? — pergunto com a expressão neutra.
— Você chegou com sede em melhorias, mas vamos devagar, precisamos que você se familiarize com a empresa, com os fornecedores e os acionistas, não podemos esquecer os nossos colaboradores.
— Claro, papai, me dê quinze dias para colocar tudo em ordem, o senhor ficará satisfeito com meu trabalho — lhe advirto e aguardo sua expressão, mas mamãe entra na sala e nos chama.
— Meus amores, a mesa já está posta, vamos jantar? — Levantamos e caminhamos em direção a ela.
Sentamo-nos na mesa, e hoje foi preparada a comida que mais gosto, massa com molho à bolonhesa e bife de filé com fritas. Minha mãe nunca esquece e de sobremesa tem torta de limão e pavê, o doce que mais amo. Chego a salivar. Quando estamos no final, meu pai me chama até o escritório e já sei qual será a conversa, eu o sigo até lá e fecho a porta atrás de mim.
— Então, filho, me conte o que aconteceu para você começar com a ideia de não querer se casar? Sabe que temos um contrato e não podemos desfazer dele agora — meu velho inicia a conversa tão temida.
— Não irei me casar com ela, papai, minha decisão já está tomada, e se for necessário eu pago do meu bolso a multa de quebra do contrato — respondo sério e decidido. Ninguém me obrigará a casar com aquela mulher por um mero contrato. Tenho meus princípios.
— A questão não é essa, filho, vocês são prometidos desde crianças, ela foi criada para ser sua esposa.
— Mas ela se esqueceu desse detalhe, enquanto gemia embaixo do Alex, nosso melhor amigo. — Bufo irritado.
— Tente relevar, filho, você se entregou ao curso e ao trabalho nos últimos meses, mulher gosta de atenção, deveria ter tratado ela melhor então — meu pai fala, só pode estar louco.
— Espera, deixa eu ver se entendi, a culpa dela me trair é minha, por eu estar estudando e trabalhando? Não pode ser que o senhor pense assim, eu terminei com ela e não volto atrás, cancele esse maldito contrato, não quero olhar na cara dela nunca mais — informo com a voz alterada e muito irritado com a atitude do meu pai, já me levantando.
Saio e bato a porta atrás de mim, como pode o meu próprio pai dizer que fui traído porque eu estava errado. Abandonei minha vida no Brasil para estudar fora, me dediquei para fazer tudo certo e eu ainda sou o culpado. Isso eu não posso aceitar, saio da casa dos meus pais sem dar um beijo em minha mãe e vou direto para o meu apartamento, melhor coisa que fiz foi comprá-lo, meu lar e meu sossego. Sairei daqui só na segunda-feira, quando tiver que ir trabalhar. Troco de roupa e me jogo em minha cama, estou cansado, só quero paz. Caio em um sono profundo, pretendo acordar só amanhã e bem tarde.