Melinda
— O quê? Como assim? A senhora não pode fazer isso comigo! — olhei para a minha mãe indignada. — Você não consegue parar em emprego algum! Não vou mais te sustentar, Melinda! Já é maior de idade, então se vire! Na minha casa você não fica mais, não mesmo! — Praticamente jogou a grande mala com os meus pertences aos meus pés. — A culpa não é minha! Ah, quer saber? Eu que não vou implorar para ficar. Você só liga para aquele seu namorado nojento que te trai! E eu vou rir muito quando ele te passar a perna, Pam! Ele é um baita de um cretino que só está com você por dinheiro, mesmo você recebendo uma mixaria que você chama de salário! — falei o que estava entalado na cara dela. Pam arregalou os olhos e abriu a boca, pasma. — Dobre a língua quando for falar do Jean, ele... — ELE DÁ EM CIMA DE MIM, MÃE! E CEGA COMO VOCÊ É, NUNCA PERCEBEU! — gritei irritada, apanhei minha mala vermelha e lhe dei as costas. — MELINDA, VOLTE AQUI! — Esbravejou, a ignorei e fui embora sem olhar para trás. Minha própria mãe tinha me expulsado de casa, só porque eu estava desempregada e não podia ajudá-la com as despesas. Mas juro que a culpa não era minha, tentei até o último segundo me manter firme naquele emprego, mas realmente não deu... Infelizmente não deu. Não podia ficar a vida toda servindo como garçonete, sendo assediada pelos clientes pervertidos, e tendo que aturar desaforos, e reclamações do meu chefe... Que ser humano aguenta tantas humilhações? Por isso dei um basta naquilo, pedindo demissão. E claro, Pam não aceitou muito bem. Ficou com raiva e começou a pegar no meu pé dia e noite, me impondo pressão e eu tentei, porém, não estava conseguindo arranjar nenhum emprego... De jeito nenhum. E naquela noite, fui bater no apartamento de Carly, minha melhor amiga. Era inconveniente da minha parte, e infelizmente eu não tinha mais para onde correr. Somente Carly poderia me ajudar e me acolher. E foi o que a amiga fez. Carly morava com o namorado, Gabriel. Era um cara legal, de um coração enorme, e fui recebida tão bem por eles. Mas eu tinha que sair de lá, não poderia passar o resto da vida morando com eles, certo? Eles tinham que ter a privacidade deles e tudo mais, e eu não poderia abusar da gentileza de ambos, vivendo sob o teto deles sem fazer nada para ajudá-los com as despesas, e de jeito algum eu queria ser um fardo para a minha amiga e seu namorado carregarem. Comecei a sair pela cidade, todos os dias à procura de um emprego. Poderia ser qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Estava desesperada para arrumar um serviço e sair do apartamento de Carly. Já era maior de idade, e aos 23 anos, eu tinha que tomar rumo na vida e me estabilizar. Era o certo a se fazer. Por quê era tão difícil arrumar um emprego? Carly e Gabriel sairam numa sexta-feira para algum programa em casal, e eu fiquei em casa, sempre ajudava nas tarefas domésticas e claro, cozinhava para todos nós. Minha amiga trabalhava num salão de beleza e seu namorado era gerente numa loja de auto-peças. Peguei o notebook dela e entrei num site à procura de alguma vaga. Acessei em uma Agência online e cadastrei meus dados, e enviei meu CV. E duas horas depois, recebi uma notificação no meu E-mail. Havia uma vaga. Uma bendita vaga. Respondi a notificação toda esperançosa, havia um pedido de dados básicos e um link com o endereço e o horário da entrevista. 'Vaga para babá: Confirme seus dados e sua resposta novamente.' Confirmei tudo e pronto... Já tinha uma entrevista de emprego para babá, era melhor que nada. Anotei o endereço da casa direitinho no bloco de notas do meu celular e coloquei o aparelho para despertar às 06h. Tinha que estar lá às 07h. E como eu não era a pessoa mais pontual do mundo, era melhor me precaver e acordar cedo. Saí do site e fechei o notebook da Carly. Era uma oportunidade e eu tinha que conseguir aquela bendita vaga. Se eu tinha alguma experiência com crianças? Claro que não. Nenhuma. Porém, o desespero e a necessidade me fizeram tomar aquela atitude, e de acordo com os dados daquela vaga, o tal de Sr. Benson não tinha nenhuma exigência... O pobre homem só poderia estar desesperado por uma babá e aquela era a minha chance. No dia seguinte... Atrasada! Acordei atrasada para a minha entrevista de emprego. Como pude esquecer de colocar o bendito despertador para tocar uns 20 minutos adiantados? Pulei para fora e corri para o banheiro. Tomei uma ducha fria para despertar por completo. Me enrolei na toalha às pressas e fui revirar a cômoda onde estavam as minhas coisas, eu também tinha esquecido de separar uma muda de roupa na noite anterior. Me sequei, borrifei um pouco de desodorante e tentei ao máximo secar meu cabelo com a toalha. Vesti um conjunto de lingerie qualquer e peguei uma blusa de mangas compridas, nada de decotes. Me arrumei numa velocidade absurda, pondo o meu jeans melhorzinho e por fim, calcei minhas sapatilhas simples após domar meus cachos com algumas escovadas, eles teriam que secar naturalmente até eu chegar lá, se eu fosse prendê-los, o meu cabelo ficaria ainda mais embaraçado. Blusa branca. Calça jeans de lavagem escura. Sapatilhas básicas. Maquiagem leve? Tudo okay... Apenas passei lápis de olho e um pouco de brilho labial, o que não ia durar muito nos meus lábios... Por quê era tão docinho e saboroso? Enfiei minha carteira na bolsinha preta com alças longas metalizadas e peguei minha pasta com os documentos necessários, incluindo o meu CV. Saí correndo, torcendo para chegar na casa do tal de Sr. Benson, se fosse preciso, eu iria me ajoelhar e pedir perdão pelo atraso. Oh, não, eu não poderia perder aquela preciosa oportunidade. Parecia até castigo... Acabei esquecendo meu casaco e eu sequer tinha um guarda-chuva. Fiquei pulando e sinalizando feito louca para algum táxi parar para mim. Um infeliz passou em alta velocidade fazendo a água espirrar e me dar um banho além da chuva que estava começando a engrossar. Bufei de raiva, nem adiantava xingar ou chorar. Sem outra alternativa, corri para o ponto de ônibus mais próximo. [...] Quando enfim cheguei no endereço anotado no meu celular, a chuva havia cessado e eu estava tremendo de frio, com a roupa ainda molhada e eu devia estar nada apresentável. Por quê nada era tão simples para mim? Desistir? Jamais! Não mesmo. Era um bairro bonito, com casas com varandas, jardins bem cuidados e cercas pintadas, todas elas no mesmo estilo, típicas casas para famílias com boa renda e do tipo tradicional. O portão baixo estava sem cadeado, olhei para a garagem após passar por ali e atravessar o gramado, seguindo por um caminho bonitinho até a varanda enfeitada com vasos e arranjos de flores pendurados. A casa era grande, de dois andares. Toquei a campainha. Toquei de novo e de novo. E finalmente a porta foi aberta, uma menina quem me atendeu. Devia ter uns 7 anos. Tinha cabelos lisos e castanhos medianos, e olhos castanhos num tom de avelã, pareceu surpresa quando me viu. — PAI! — seu grito soou tão alto que até me assustou. E não demorou muito, um homem surgiu com um bebê nos braços abrindo um berreiro. Logo atrás um garotinho parecido com a menina veio pedalando numa bicicletinha azul com rodinhas. — Ah, graças a Deus! Entre, entre! — pediu apressado. Sem jeito e dando um sorrisinho, entrei murmurando um 'Com licença' e a menina bateu a porta. — Essa daí não vai durar nem dois dias. — A pestinha passou por mim. O bebê em seu colo era uma menininha que não parava de se esgoelar. Uau! O choro dela era potente. — Perdão pelo atraso, acabei tendo alguns imprevistos. — me desculpei envergonhada. — Sem problemas. Isso acontece. — Sorriu dando tapinhas nas costas da bebê que agitava os bracinhos. — Prazer, sou Douglas Benson, e você deve ser a Srta. Paxton, certo? — perguntou ainda tentando acalmar a criturinha escandalosa. — Prazer em conhecê-lo, Sr. Benson. Certo, sou eu mesma! — nem tinha como cumprimentá-lo com um aperto de mãos. — Pode ficar à vontade. — Reparei que ele era um homem bonito, estatura mediana, cabelos e olhos escuros, com barba por fazer. — Ally! — chamou em voz alta. A menina que atendeu a porta apareceu correndo. — O que é? — Ui, ela era atrevida, ele lançou um olhar repreendedor. — Sim, senhor. O que o senhor quer, papai? — parecia entediada. — Traga uma toalha limpa para a Srta. Paxton. — pediu. Ela assentiu meio contrariada e correu para ir buscar a toalha. O menino que era menor estava parado sobre a bicicleta me olhando curioso. — Alyson é a mais velha, tem 7 anos. E esse é o Noah, tem 4 anos e essa pequena chorona no meu colo é a Hannah, tem apenas 9 meses. — sorriu para a filha. — Seus filhos são lindos. — elogiei. — Obrigado! — agradeceu. — O que ela tem? — apontei para a bebê que continuava chorando. — Não sei... — Ele estava sem jeito, agoniado e sem saber o que fazer para acalmar a pequena. Que tipo de pai era aquele que não sabia o que a filha tinha? E onde estava a mãe das crianças? Observei ele deitar ela.