POV: ELLEN BENEDITT — Nossa dormi as quatro horas de viagem? Perguntei espantada.— Sim. Victor coçou a cabeça, ele ficou envergonhado achando que foi pelo fato de ter me mantido acordada a noite quase toda, sorri e dei um beijo em sua bochecha quente.— Não dormi por esse fato amor, tive um encontro com minha avô e uma das Encantadas no plano astral.Ele me olhou com as sobrancelhas franzidas.— Como assim?— Assim que entrei no carro, senti o cheiro da minha avó Flora a mãe da minha mãe, sabia que era um chamado ao véu, já estive lá algumas vezes e sei como funciona, tanto eu como mamãe já fomos lá para aprendizado sobre as Encantadas, sobre como aprender a usar alguns poderes, lá é um lugar entre o linear do céu e a terra, um espaço astral onde com permissão celeste podemos falar com entes que já desencarnaram assim como minha avó.Falei e ele murmurou algumas palavras desconexas enquanto eu ria de sua atuação engraçada.— Lá você não está em perigo está?Sorri.— Não amor, não es
POV: ELLEN BENEDITT A música ecoava suave pelas paredes douradas do Grande Salão, uma melodia etérea tocada por instrumentos de prata e vozes encantadas. Luzes mágicas flutuavam no ar, lançando reflexos dourados nas centenas de máscaras cintilantes que cobriam os rostos dos convidados. O baile era uma celebração pela vitória — ou assim eles queriam acreditar.Mas eu sabia melhor.A vitória fora incompleta. O Tecelão das Sombras não desaparecia tão facilmente. Ele era um mestre da sobrevivência, da dissimulação. Sentia isso na minha pele, como uma coceira incômoda que não podia ser ignorada.Atravessei o salão, o vestido de seda azul deslizando atrás de mim, a máscara prateada escondendo metade do meu rosto. Mesmo assim, era impossível me misturar completamente. Os olhos — azuis, brilhantes, carregados da herança encantada — me denunciavam. Eu sentia olhares em minha direção. Respeito, curiosidade... e medo.Victor, de pé perto da entrada principal, me lançou um olhar atento. Ele tamb
POV:ELLEN BENEDITT Rolei para o lado instintivamente, e um chicote de sombra rasgou o ar onde eu estivera. Ele nos esperava. Queria nos separar.— Cuidado! gritei para Victor.Sem perder tempo, murmurei outra palavra de poder. Minhas mãos se iluminaram, e uma corrente de vento cortante explodiu na direção da figura.O manto se rasgou.O que vi me fez congelar.A forma humana que o Tecelão usava era de um jovem — belo, quase angelical — mas seus olhos... aqueles olhos eram fendas de trevas líquidas. Não havia bondade, nem redenção ali. Só fome e maldade antiga.Ele sorriu.E o mundo tremeu.A parede ao nosso redor estremeceu, pedras caindo, o chão rachando sob nossos pés.Ele estava tentando desabar o túnel.— Rápido! Victor agarrou meu braço e me puxou para trás. Corremos, saltando sobre pedras soltas, escapando por pouco de uma laje que caiu esmagadora.Do outro lado da passagem, vimos o Tecelão sumir por uma fenda estreita, rindo — uma risada seca, sem vida.Parei, arfando, o peito
POV: VICTOR CROWLEY Sempre confiei nos meus instintos.Eles me mantiveram vivo em campos de batalha, em florestas amaldiçoadas, nos corredores traiçoeiros da corte real.Mas naquela noite... naquela maldita noite... eu ignorei o que sentia.E pagamos o preço.Samal era um dos meus homens mais antigos. Um lobo de sangue puro, criado nas montanhas geladas do norte, endurecido pela vida e forjado pela guerra. Lutamos lado a lado em batalhas que poucos ousavam sequer lembrar. Eu conhecia seus modos, seu cheiro, o peso do seu olhar.Ou achava que conhecia.Agora, olhando para o amuleto partido em sua cela — o mesmo que todos nós carregávamos para proteção contra encantamentos — eu soube.O verdadeiro Samal havia caído meses atrás.E ninguém, nem mesmo eu, percebera.O conselho da guarda estava reunido, rostos sombrios sob as tochas tremeluzentes. Ellen estava ali também, pálida e furiosa, seu poder azul ainda vibrando sob a pele como relâmpagos contidos.— Ele usou Samal como uma porta,
POV: ELLEN BENEDITT O Refúgio das Encantadas respirava.Eu podia sentir.Cada pedra, cada grão de poeira, cada eco antigo parecia reconhecer meu sangue, meu nome, minha alma.Era como voltar para um lar que eu nunca vira, mas que sempre vivera dentro de mim.Atravessar aqueles corredores cobertos de musgo e luz azulada era como ser acolhida por mãos invisíveis — suaves, fortes, eternas.Meu coração batia pesado no peito, não de medo, mas de uma reverência que beirava a adoração.E atrás de mim, como sempre, Victor.Meu companheiro.Meu porto seguro.Olhei brevemente por cima do ombro e encontrei seu olhar.Ele me observava de um jeito que fazia minha pele formigar — não com desejo carnal, embora eu soubesse que ele me desejava, mas com algo ainda mais raro.Admiração.Orgulho.Amor.Um amor que não pedia nada em troca. Que apenas existia, silencioso e imenso.Meu peito apertou de emoção.Saber que Victor via quem eu era — toda a luz, toda a escuridão, toda a tempestade dentro de mim
POV: ELLEN BENEDITT A viagem de volta a Ralpysen foi mais silenciosa do que eu gostaria.A comitiva real, que antes falava com a leveza dos dias de paz, agora caminhava com a tensão de um exército prestes a enfrentar uma batalha que não escolhera. O medo do Tecelão das Sombras ainda pairava sobre nós como uma nuvem escura, e a jovem princesa Sofia, com sua vulnerabilidade a flor da pele, estava cada vez mais protegida, mas também cada vez mais consciente da responsabilidade que carregava.As estradas estavam calmas, mas minha mente estava distante, voltando a cada instante ao Refúgio das Encantadas, onde o vento ainda sussurrava palavras que não consegui interpretar completamente.O que eu sabia era que o Tecelão não desistiria. Ele voltaria. E em breve, eu teria que enfrentar a verdade sobre meu próprio poder e o legado de minha linhagem.Ao chegarmos a Ralpysen, o som das portas de prata se abrindo para o palácio foi a única coisa que me trouxe de volta à realidade.O rei Mayson no
POV: ELLEN BENEDITT Os Alfas Rael e Ravi, meus irmãos, estavam mais próximos de mim. Mesmo sendo idênticos em aparência, cada um possuía um brilho próprio. Rael, com seu sorriso fácil e energia impetuosa, contrastava com Ravi, que sempre fora mais sério, mas igualmente protetor.E, finalmente, meus avós, Caius e Amall, estavam presentes. Caius, com seu semblante grave e olhar perspicaz, sempre foi o guardião da tradição, o que mantinha os antigos rituais vivos. Amall, minha avó, uma loba branca lunar, exalava uma aura de tranquilidade e poder. Seus olhos, como a lua cheia em uma noite clara, eram capazes de enxergar mais longe do que qualquer ser humano poderia compreender.— Você chegou, minha neta, disse Amall, sua voz suave como o vento nas montanhas. — O momento que tanto aguardamos.Eu me aproximei, sentindo a energia ancestral da matilha pulsar em meus ossos. Mas ainda havia algo que eu precisava entender, uma pergunta não respondida.— Eu vim porque preciso saber, avó, falei,
POV: ELLEN BENEDITT Rael foi o primeiro a entrar, seguido de Ravi, com os olhos atentos ao redor. Maeve, com uma mão no ventre, deu um passo à frente, e então eu fui, com Victor logo atrás de mim. A entrada era estreita, e a escuridão parecia envolver nossos corpos, tornando o espaço mais apertado à medida que avançávamos.Por fim, chegamos a uma grande câmara, onde o som da água corrente ecoava pelas paredes rochosas. E ali, no centro da caverna, estava a pedra — a Pedra da Lua. Ela brilhava com uma luz suave, como uma lua cheia em um céu sem nuvens, e seu brilho parecia penetrar até as profundezas de minha alma.Eu me aproximei da pedra com cautela, sentindo o poder dela em minha pele. Mas, antes que pudesse tocá-la, algo a impediu.Um som baixo, uma presença. O Tecelão estava lá, observando, esperando. Ele não desistiria tão facilmente.Mas eu também não.A escuridão da caverna parecia se espalhar ao nosso redor como uma onda invisível, suprimindo até mesmo a luz da Pedra da Lua.