Olho para o avião pousando em Mystic Falls. A cidade havia crescido bastante em um ano.
— Alfa, os carros estão prontos.
Olho para Condor, meu Delta e braço esquerdo.
Assim que a porta do avião se abre, sinto o cheiro do ar. Estávamos entrando em meados do outono, então ventava um vento norte, de onde vinha o frio em breve.
Saio do avião e desço as escadas. Alguns tripulantes me olham; as mulheres esticam o pescoço para me ver e enlouquecem com minha beleza. Reviro os olhos para elas.
QUEM SOU?
Me chamo Alfa Alexander Beneditt. Tenho trezentos anos.
Sou líder da matilha Moonwalker, a maior e mais importante matilha do norte desse planeta.
Sozinho, gerencio novecentas submatilhas espalhadas por minha alcateia.
Sou CEO da metade das empresas de grande porte do país — e por isso estou aqui hoje.
Uma das minhas empresas estará passando a gestão para novos diretores e, a cada um ano, eu venho acompanhar de perto como está.
Entro no carro, junto com mais seis membros da matilha, e partimos para o condado de Withevallen.
Vejo as ruas se transformarem em florestas em questão de segundos e puxo o ar.
O cheiro de cedro e flor de cerejeira invade minhas narinas super apuradas.
— Então, senhor, o nome da nossa nova diretora é Izobelle Cunis. Ela se formou em Stanford e trouxe à AB jovialidade e tecnologia — Condor fala, me entregando o iPad com as informações dela.
Uma mulher muito bonita. Seus olhos castanhos, seus cabelos, sua boca... é incrivelmente bonita.
Suas curvas são perfeitas.
Balanço a cabeça para afastar esse tipo de pensamento da minha mente.
"O que deu em mim?"
— O conselho a vê com bons olhos após sua apresentação. Ela conseguiu fechar as terras do sul do país, nos ajudando a entrar naquela região.
Condor continua falando, e olho para sua foto.
Ela estava de uniforme, cabelo preso. Parecia uma pessoa comum.
Mas eu realmente não entendo por que seus olhos me hipnotizam.
Deixo o iPad de lado e olho para fora.
Há tantos anos eu não me sinto assim... estranho.
Há séculos, na verdade.
Suspiro, lembrando de Aurora — minha companheira prometida.
Seu sorriso, seus carinhos, sua risada...
Algo que ficou marcado em mim após sua morte.
Minha alma gêmea foi arrancada de mim assim que entrei para o reinado.
Era conde e estávamos felizes.
Foi quando tudo aconteceu.
A maldita guerra veio, matando inúmeros membros...
E ela morreu nos meus braços.
Uma dor tão grande que nunca pensei ser possível sentir.
Depois disso: o vazio.
A deusa deve ter me castigado.
Porque, em trezentos anos, nunca mais senti nada por ninguém.
Claro que tenho minhas amantes.
Claro que tenho mulheres que esquentam minha cama durante o inverno.
Mas nenhuma fez meu coração bater como Aurora.
— Meu Alfa — Condor me chama, me tirando dos devaneios.
O carro já havia parado em minha casa, em Withevallen — e nem percebi.
Saio do carro e entro na casa.
— Seja bem-vindo, meu senhor — Janka, uma habitante local, me saúda.
Ela trabalha para nós desde jovem e sabe sobre os metamorfos.
Após a guerra em 1700, muita coisa mudou.
Nós, os metamorfos, assumimos a escuridão.
Nos escondemos dos humanos.
Naquela época, foi um massacre para nossa raça.
O rei lycan decidiu que passaríamos a trabalhar escondidos, para que não morrêssemos todos com a prata e a verbena — armas que eles usaram contra nós.
Durante milhares de anos, ficamos ocultos em nossas alcateias, trabalhando e crescendo.
Não somos como os humanos, então não envelhecemos tão rápido.
Nossas células se regeneram, e com isso podemos viver até novecentos anos com aparência de noventa.
— Obrigado — passo por ela e subo para meu quarto.
— Tem duas reuniões amanhã. E, para comemorar seu aniversário, senhor, há uma recepção na boate Tagous — Condor fala, e eu suspiro.
— Não gosto de comemorar aniversário.
Ele sorri.
— Beta Jay disse que apostava vinte mil que o senhor não iria.
Gargalho com isso. Jay sempre Jay.
— Pode ir, Condor.
Ele sai, fechando a porta, e caio na cama de madeira feita sob medida para minha altura.
Tenho dois metros e quinze de altura, cento e vinte quilos de puro músculo.
Tem que ser algo forte para me aguentar.
O cansaço da viagem me faz adormecer rapidamente.
Para meu azar, sonho com Aurora.
Ela estava, mais uma vez, na clareira próxima à nossa casa.
Era lindo, cheio de flores de madressilva.
Ela reluzia com a luz solar.
Pisco, e ela está nos meus braços.
A cena se transforma.
Estamos no castelo real, em um dos vários bailes de máscara em que fomos.
Ela dançava lindamente, sorria e cantava.
— Eu te amo, Rory — falo.
Ela sorri.
Retiro sua máscara...
E me assusto ao ver o rosto de Aurora se transformar no rosto de Izobelle.
Dou um pulo da cama e olho para o quarto escuro e silencioso.
— Por que, deusa... não me mataste no mesmo dia? Me deixou aqui pra sofrer por séculos.
Bato na parede na direção do banheiro.
Lavo o rosto e olho no espelho.
Vejo meus olhos mudarem de cinza para violetas.
"Um dia, a deusa nos dará nossa companheira de segunda chance, Alex."
Sorrio com a voz do meu lobo.
— Trezentos anos depois, Dário — falo.
Ele se encolhe na minha mente.
Saio do banheiro na direção do guarda-roupa, pego uma roupa.
O jantar está quase pronto.
Assim que desço, vejo que temos novas funcionárias — ômegas da vila próxima.
Elas abaixam a cabeça, se curvando.
Olho para elas e depois me sento.
"Já viajamos o mundo diversas vezes e nunca achamos nossa segunda chance. Duvido que acharemos. A deusa nos deixou na terra pra morrer sozinhos, Dário."
Falo, e ele geme.
A morte de Aurora foi sentida por nós dois.
Eu e ele perdemos sua alma.
Nossa outra metade.
Somos incompletos.
— Boa noite, meu senhor — Janka e Condor entram na sala.
Condor se senta ao meu lado e ela começa a servir o jantar.
— Fala pro Jay fazer o cheque. Quero os meus vinte mil na minha conta amanhã.
Condor sorri. Jay Macalister é meu beta, amigo e confidente.
Alguém que me conhece desde que nasci.
Sabe tudo sobre minha vida.
Quando saio, ele fica na casa da matilha cuidando dos assuntos.
Por isso ele sempre me atormenta para “aproveitar a vida”.
Jay encontrou sua companheira trinta anos atrás, em uma missão para o rei.
Desde então, ele vive dizendo que minha companheira está por aí.
Que só preciso sair mais para encontrar ela.