Olha, meu dia estava indo super bem até Samantha aparecer. Tá, talvez “super bem” seja exagero porque, né, último ano do ensino médio com bolsa não é exatamente sinônimo de paraíso. Mas, enfim, eu estava no meu quarto, de boa, revisando química e pensando no quanto eu odeio química (sem ofensas, cientistas do mundo), quando minha porta praticamente explode com a chegada da minha melhor amiga.
— Liah, SOCORRO! — ela grita, entrando no meu quarto como um furacão, mochila voando para um lado e casaco para o outro.
— Que foi? Tá pegando fogo? Você perdeu o celular? Ou pior... — eu me interrompo, arregalando os olhos. — Acabou o estoque de coxinha na cantina?
— É sério! — Samantha rebate, me olhando como se eu tivesse insultado sua existência. — Meu pai vai casar.
Agora, deixa eu contextualizar: o pai dela é o Bryan O’Connor, dono de empresas super ricas e... bem, ele é tipo um Ken humano, só que mais alto, mais sério e com menos plástico. O cara é incrível, mas o ponto é: ele tem três filhas, e a Samantha é a mais velha. Isso quer dizer que, tecnicamente, o problema do casamento não deveria ser dela. Só que claro que é.
— Tá, calma — digo, fechando meu livro e me virando pra ela. — Como assim, “vai casar”?
Ela j**a as mãos pro alto, dramaticamente.
— Meu avô surtou! Disse que o papai tem que se casar de novo e ter um filho homem, porque, você sabe, "a tradição da família". E agora o advogado dele tá entrevistando um monte de mulheres horríveis pra serem minha madrasta! Você tinha que ver, Liah. Uma delas disse que achava crianças “meio irritantes”. Ela nem disfarçou!
— Cruzes. — Faço uma careta. — E você quer que eu faça o quê?
— Me ajuda a pensar em algo! — Samantha responde, como se fosse óbvio.
A gente passa horas falando, pensando em planos e descartando todos. "Sequestrar o advogado" parecia extremo demais. "Fugir pra outro país" era caro. E então, no meio do silêncio, eu solto:
— E se eu me casasse com ele?
Pronto. A frase sai da minha boca antes que meu cérebro possa censurá-la. Samantha me olha como se eu tivesse três cabeças.
— Você tá falando sério?
— Acho que sim? — digo, porque nem eu sei. Mas, olha, faz sentido, tá? Eu gosto das irmãs dela, sou a pessoa mais confiável que ela conhece e, sejamos realistas, melhor eu do que uma mulher que acha crianças "irritantes".
A coisa é tão absurda que funciona. Samantha nem pensa duas vezes antes de pegar o celular e inscrever meu nome na tal entrevista com o advogado.
— Pronto! — ela diz, sorrindo como se tivesse acabado de salvar o mundo. — Agora você só precisa passar.
Ótimo. O que poderia dar errado?
Alguns Dias Depois
Spoiler: muita coisa pode dar errado.
Chego na tal entrevista e, honestamente, parecia mais uma seleção de elenco do que qualquer outra coisa. O advogado é um homem sério, de cabelo branco e cara de poucos amigos. Ele faz perguntas genéricas, pega meus documentos e diz algo como:
— Ótimo, você parece adequada. Vamos registrar os papéis.
"Adequada"? É isso que eu sou agora? Uma pessoa adequada? Enfim. Passo na entrevista. Sim, é isso. Tô oficialmente casada com Bryan O'Connor. Tipo, no papel, claro. Ele nem sabe que eu existo ainda, o que é ótimo porque... né, como você explica isso pra alguém?
Tudo parece tranquilo até que, num dia qualquer, o universo decide bagunçar minha vida (de novo). Estou saindo do colégio quando recebo uma ligação frenética da Samantha.
— Liah, Stacie caiu no parquinho e tá sangrando! Eu tô presa aqui na escola, e ela vai de ambulância pro hospital!
— CALMA! — digo, já correndo. — Eu tô indo!
Chego no parquinho e vejo a Stacie chorando, segurando o joelhinho cheio de sangue. Meu coração derrete, porque, sério, como alguém pode machucar uma criaturinha tão fofa? Sem pensar muito, pego ela no colo e subo na ambulância.
— Você é a mãe? — pergunta o paramédico.
— Madrasta — respondo, antes que minha boca perceba o que está falando.
A coisa é meio surreal, mas funciona. No hospital, todo mundo compra a história, e eu assino uns papéis como “Sra. O'Connor”. Stacie leva uns pontos e, tirando o susto, está tudo bem.
Mas é claro que isso não pode acabar assim.
Na saída do hospital, enquanto espero o táxi que Samantha jurou que chamou, um carro gigantesco e chiquérrimo para bem na minha frente. Estou prestes a abrir a porta pra, sei lá, pegar uma carona misteriosa, quando a porta se abre sozinha.
E quem desce? Bryan O’Connor.
Sim. O próprio.
Ele me olha, depois olha pra Stacie no meu colo, e dá aquela levantada de sobrancelha que diz “Alguém me explica o que tá acontecendo?”.
— O que você tá fazendo com a minha filha? — ele pergunta, sério.
— Eu... hã... — começo, mas antes que consiga me enforcar nas próprias palavras, uma enfermeira aparece correndo.
— Sra. O'Connor, só um instante! Esqueci de entregar esse papel.
Bryan vira a cabeça pra mim, chocado.
— Sra. O'Connor?
A enfermeira aponta pra mim, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Sim, ela.
Eu queria desaparecer. Tipo, evaporar ali mesmo. Mas não, estou ali, parada, com Stacie no colo, enquanto Bryan O’Connor me olha como se eu fosse algum tipo de alienígena.
E sabe o que é pior? Isso é só o começo.