A expressão do meu irmão era indecifrável, marcada pela insatisfação.

Eu me sentia cada vez mais desconfortável.

Eu fazia exatamente o que ele queria: mostrava paciência e complacência.

Por que ele ainda estava insatisfeito?

O momento mais doloroso foi o jantar com eles.

A mesa estava repleta de comidas deliciosas.

Meu irmão colocava cuidadosamente pedaços escolhidos no prato de Selene, a fazendo sorrir de alegria.

Enquanto isso, eu me sentava em silêncio com os olhos baixos, mastigando um pedaço frio e duro de pão.

— Por que você não está comendo carne, Skye? — Selene perguntou, empurrando um prato de cordeiro em minha direção.

Empurrei o prato de carne sem dizer nada.

— Skye tem algum problema comigo? Nem sequer tocou na comida que fiz especialmente para ela.

O rosto de Selene se contorceu com uma falsa mágoa, e a expressão do meu irmão imediatamente endureceu.

— Skye, coma o que Selene preparou e pare com essa atitude! — Ele repreendeu.

Levantei a cabeça, com o peito apertado por uma dor indescritível.

— Eu não posso comer isso. — Disse, baixinho.

Anos de ingestão forçada de poções com prata no centro de reabilitação fragilizaram meu sistema digestivo.

Muitos alimentos agora eram proibidos para mim.

Antes, nossa mesa de família nunca incluía coisas que eu não pudesse comer.

Agora, quase nada servido era seguro para mim.

Meu irmão parecia não se importar mais.

— O que você quer dizer com 'não pode comer'? Selene preparou isso especialmente para você. Não seja ingrata. Coma a carne.

Sua voz tinha aquele tom perigoso que eu conhecia bem.

— É minha culpa. — Selene interveio com um suspiro teatral. — Eu fiz todos os meus pratos preferidos hoje. É natural que Skye esteja chateada no primeiro dia de volta. Skye, o que você gostaria? Posso preparar outra coisa.

Seus olhos brilhavam com um misto de triunfo e desafio.

Mas essas táticas não conseguiam mais me irritar.

— Ela é uma loba adulta agora, não uma filhote delicada. Se você pode comer, ela também pode. — Meu irmão rosnou. — Skye, pare de deixar todo mundo desconfortável. Seja sensata, só por uma vez.

Seu rosto escureceu, as sobrancelhas franzidas fortemente, um sinal de alerta de que seu temperamento estava se inflamando.

Novamente, como antes, nenhuma chance para explicações.

Na mente dele, sempre era minha culpa.

O centro de reabilitação me ensinou que tudo o que eu tinha dependia do meu irmão.

Eu devia obedecer aos seus comandos ou ser rotulada como uma delinquente merecedora de punição.

"Não deixe o irmão zangado, ou tudo se torna minha culpa."

— Tudo bem. Eu vou comer. — Murmurei, abaixando a cabeça e empurrando grandes pedaços de carne na boca, desesperada para desfazer a tensão.

Ao me ver comer, sua expressão finalmente se suavizou.

Lutando contra uma náusea avassaladora, comi o que Selene me deu.

Mas logo meu estômago começou a se contorcer violentamente.

Minha pele começou a coçar incontrolavelmente, e comecei a vomitar.

Mesmo depois que tudo o que eu havia engolido voltou, continuei a ter ânsias dolorosas.

— Oh, meu Deus! — Exclamou Selene com desgosto, recuando para os braços do meu irmão. Seu primeiro instinto foi segurar ela protetoramente, se afastando de mim como se eu fosse lixo.

Só quando desabei no chão, incapaz de me mover, ele percebeu que algo estava seriamente errado.

— O que está acontecendo com você? — Ele perguntou, finalmente alarmado ao me ver escorregar para a inconsciência.