Capítulo 2

Diga Rômulo.

— Quando resolveu essa palhaçada toda? — O seu amigo lhe pergunta com voz de riso.

— Hoje. Ideias do Lu.

— É sério isso, Will. Isso é ridículo! Tem certeza de que essa exigência é real? Será que não é invenção do Luciano?

— Não creio. Analisei os papéis que ele me deu e, de fato, dos funcionários aos parceiros todos são casados. E por favor, não me venha me chamar de Will há essa hora. Já estou com a cabeça cheia demais para me aborrecer com essa lembrança.

— Faz cinco anos que você levou aquele fora e aquele tapa épico. Ainda guarda mágoa disso? — Rômulo sorri.

— Guardo sim. Como você disse, foi épico! Enfim, resolva todas as questões necessárias, mas avise a Carolina que eu quero essa festa para o fim de semana que vem. No sábado. E... Bom, deixe claro no contrato que eu posso beijar a minha noiva ou ir para a cama com ela se eu quiser. Deixe isso bem claro. — Ele ri antes de terminar. — Já que é para fingir um casamento, ao menos que isso seja divertido.

Rômulo ri alto da "cláusula" do amigo. — Pode deixar. Duvido que isso seja motivo de algum problema. Tenho certeza de que todas, exceto aquela moça, fará questão de ser beijada pelo noivo. — Ele volta a citar o incidente do passado.

— Vá à merda Rômulo! — William sorri. — Providencie essa papelada para sexta-feira. Já quero divulgar o tal concurso neste dia.

 William sorri de sua missão surreal, pensando na loucura que vai fazer apenas para fechar um contrato bilionário, diga-se de passagem. Ele vai gastar alguns de seus milhões para comprar toda a rede do senhor Ching, que vai lhe render o triplo do seu investimento, em um ano. Fora a quantidade de pessoas que ele vai poder empregar quando a construção do resort seis estrelas for construído na Ilha das Rosas. Além do hospital. Será um marco para a Firenze. Se seu bisavô pudesse imaginar aonde essa empresa chegaria estaria muito mais orgulhoso de sua descoberta.

Um marco!

Ele mal podia conter-se tamanha a ansiedade que essa possibilidade lhe causava. Em contrapartida tinha essa exigência.

Um casamento por contrato. Onde já se viu? ele pensa.

Ele ri lembrando-se da cara de Carolina e da reação de Luciano ao ver que ele aprovou o plano mirabolante dele. Isso no mínimo será divertido, refletiu outra vez.

Seus pensamentos são cortados assim que Helena entra em sua sala, anunciando que Antônio quer falar com ele.

— Helena, Antônio é meu primo. Não precisa anunciá-lo quando eu estiver sozinho em minha sala. — ele diz, rispidamente.

Ela assente, e sai com todo aquele seu mau-humor habitual, contrariada por ter que facilitar as coisas para Antônio. Ela não o suporta.

Eles são primos. Helena é sobrinha de Luiz, pai de Antônio. Luiz é casado com a tia de William, irmã de sua falecida mãe.

Helena sempre fez de tudo para se aproximar de William de maneira romântica, sem sucesso. já chegou a pedir a ajuda do primo, que sempre negava.

Antônio passa pela prima sorrindo de forma debochada. Adentra a sala de William e fecha a porta atrás de si com o pé.

— Bom dia! Qual será o nome do reality show? — Antônio ironiza, sorrindo e se sentando de forma largada na cadeira.

Antônio é o diretor de recursos humanos.

— Isso será responsabilidade de Carolina. — Willian diz e sorri.

— é até difícil de acreditar nessa maluquice sendo aprovada, apoiada e idealizada por você. — Ele cruza os dedos na frente do corpo.

— Não foi minha ideia, e sim do Luciano, eu só fiz concordar. É uma exigência do Ching, não quero perder a oportunidade do século. Tem ideia dos números que entrarão em nossa conta, caso fechemos o contrato? E tem mais, somos a opção número um dele. Para estar no papo eu só preciso me casar.

— Não pensou em conhecer alguém e fazer isso de uma forma normal? — Antônio pergunta.

— Não tenho tempo para isso Antônio, você sabe. Preciso fechar esse negócio o quanto antes. Tem muita gente de olho nesse patrimônio. Ching não teve herdeiros, por isso quer garantir que a pessoa que assuma o que construiu seja merecedor de tal coisa. Ele não está exatamente vendendo, pelo preço que está pedindo é como se ele estivesse doando seus bens de herança para alguém.

— Compreendi. Acho interessante isso tudo. Só espero que você deixe esse contrato bastante claro, o suficiente para que essa moça que se casar com você não se apegue e sofra com isso tudo. É preciso pensar no sentimento alheio. — William encara o amigo.

— Você tem razão. — O primo sorri.

— Então trate de dar um acompanhamento psicológico após a separação, e uma boa indenização. Mas... Mudando de assunto, Luciano veio falar comigo sobre a contratação de uma intérprete e assistente pessoal? Desde quando precisa de uma assistente pessoal?

— Isso foi uma exigência dele, que eu empregasse a intérprete na empresa. Não só durante a negociação com os japoneses. Tony, você não acreditaria se eu te contasse a maneira como ele veio defender esse emprego dessa garota. Se eu não tivesse plena ciência de sua opção sexual, diria que ele era apaixonado pela Vilense. Ele quase chorou quando não permiti que comprasse roupas para ela.

— Foi justamente essa exigência dele que me trouxe a sua sala. Ele foi lá saber qual seria o valor do salário que íamos pagar a essa fulana para ver se era vantajoso para a garota, como se fosse advogado dela. E ainda me exigiu acompanhá-lo até o encontro dessa moça na vila para conversarmos com ela juntos. Parece até que é uma coisa extremamente rara o que ela faz. Tive vontade de rir quando ele me exigiu um cartão corporativo para comprar as roupas. — Ambos sorriem. — Estou curioso para conhecer a tal poliglota da Vila, agora.

— Aquele crápula não me disse onde uma garota tão humilde como ele diz, aprendeu a falar tantos idiomas. — William sorri outra vez.

— Fiz essa mesma pergunta a ele, que me deu a seguinte resposta: assistindo filmes via internet. Você acredita nisso? Essa garota passou a lábia nele, só pode. — William gargalha.

— Então a jovem é poliglota e autodidata? Por favor! — Willian se espreguiça. — Mas de todo modo darei a ela esse emprego, ao menos foi útil ao ajudá-lo de graça com as averiguações.

— Não sei mais se acredito ter sido de graça, não depois de ele exigir tanto para contratá-la.

— Bom, na verdade foi uma sugestão minha. Ele nem mesmo ia-me dizer como conseguiu tais informações sem saber falar japonês. — Willian volta a apoiar as mãos sobre a mesa. — Só depois que eu disse que convidasse essa garota para trabalhar conosco, inicialmente de forma temporária, foi que ele começou a brigar pelos direitos trabalhistas. Ele garantiu que eu vou amá-la.

— Só há uma pessoa naquela vila que você poderia amar. A mulher mascarada. — Antônio ri.

— Por favor, Tony... Engraçado que é a segunda vez que esse assunto vem à tona, somente hoje. E aquilo tudo foi culpa sua e de Rômulo, seu sacana! Eu nunca tinha pisado meus pés naquela porra de Vila. Muito menos no Baile. E aí vocês me infernizam para ir e vejam só no que deu? A porra de uma garota de 15 anos, moradora da Vila, me deu um tapa e um fora.

— Se ela soubesse que era você, duvido que tenha feito aquilo. — William sorri. — Nunca pensou em procurá-la? Sei lá, você a levou em casa, nunca teve curiosidade de saber como é o rosto dela, ou como ela está agora com 20 anos? Ou se ainda vive na Vila?

— Não. Não tenho o menor interesse. Você por acaso não estaria interessado em saber, para reencontrar a amiga dela, não é? A que tirou a virgindade da sua boca? — Ele cai na gargalhada e Antônio atira um pedaço de papel no primo.

— Idiota! — Tony se levanta da cadeira sorrindo e retorna para sua sala. Quando ele fecha a porta, William fica se sentindo culpado por ter mentido para o primo e melhor amigo. A verdade é que sabendo do segredo de Iza — de que ela ia todos os dias admirar as estrelas à meia noite — ele fazia o mesmo de sua mansão. De lá de cima, em um local privilegiado, ele pegava um binóculo extremamente potente em alcance e a vigiava de lá até a hora em que ela entrava para dormir. Ele via o seu rosto e admirava como era linda.

Isso se tornou uma obsessão. Quando ele precisou fazer uma viagem longa — a cerca de um ano atrás — decidiu pôr câmeras com acesso via satélite escondidas no muro, de forma que ele pudesse ver Iza todas as noites, mesmo não estando na mansão.

Ele ainda se lembrava do sabor de seu beijo, o cheiro de seu perfume e da maciez de seus longos cabelos lisos, longos e retos. Iza não havia mudado nada ao longo desse tempo.

Mesmo ela tendo feito o que fez, mesmo ele a odiando por isso, ele a amava e não conseguia não contemplar a sua imagem. E não rir quando ela dançava e parecia cantarolar para o céu sobre o banco de cerâmica.

Só de lembrar-se dela fazendo isso, ele sorri agora mesmo.

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