Assim que cheguei em casa, fui recebida por um Nandinho eufórico correndo até mim, com os braços abertos.— Mamãããããe! — ele gritou, se jogando no meu colo.— Meu amor! — respondi, apertando aquele corpinho gostoso contra o meu.Depois de encher ele de beijos, me joguei no tapete da sala com ele. Pegamos os carrinhos, e montamos a pista maluca de obstáculos. — Mamãe, você é a melhor corredora do mundo! — Nandinho falou, rindo enquanto nossos carrinhos batiam um no outro.— Claro, né? Aprendi com o melhor piloto de todos: você! — brinquei, fazendo cócegas na barriga dele.Ficamos um bom tempo naquela farra até que minha mãe apareceu na porta da sala, sorrindo com carinho.— Vamos dar um tempinho agora, meu amor. A sua mamãe precisa descansar um pouco — ela disse.— Tá bom, vovó — ele respondeu, ainda com o rosto iluminado de felicidade.Nandinho pegou suas coisas para colorir e começou a se concentrar. Subi para o meu quarto, precisava me arrumar para o jantar com Enzo, mas confesso
O clima começou a mudar. O vinho, as risadas, os olhares que demoravam mais do que deveriam. A tensão entre nós era quase palpável, eletrificando o ar. Um calor subiu pelo meu corpo, fazendo meu coração acelerar sem permissão.O jantar, que deveria ser apenas uma conversa amigável, estava ganhando contornos perigosamente sexy. E eu precisava puxar o freio antes que acabasee acordando na cama dele ou em algum quarto de motel. Respirei fundo, decidida. Apoiei a taça na mesa e o encarei com seriedade.— Enzo, tenho algo sério pra te contar — comecei, sentindo minhas mãos suarem.Antes que ele pudesse responder, uma voz fria e cortante atravessou o ambiente, cortando a nossa conexão como uma lâmina afiada.— Que decepção, Enzo.Virei o rosto em direção à voz. E lá estava ela. Heloíse.Parada à beira da nossa mesa como uma estátua de arrogância, impecavelmente vestida, olhando para mim como se eu fosse a sujeira embaixo do sapato dela.— Decepcionada por ver meu filho recusar um jantar co
O som das chaves girando na fechadura ecoou baixinho no corredor do meu apartamento. Entrei tentando fazer o mínimo de barulho possível, mas o coração ainda batia descompassado no peito. Queria apenas um pouco de paz... uma trégua depois da noite catastrófica que tive.Assim que empurrei a porta, fui recebida por uma cena que aqueceu meu peito machucado: Nando, com os olhinhos semicerrados, quase dormindo no sofá, abraçado ao travesseiro pequeno que sempre levava para todos os lados. Quando me viu, os olhinhos brilharam e, num pulo desajeitado, ele correu até mim.— Mamãe! — gritou, sua vozinha carregada de saudade.Ajoelhei-me no chão, abrindo os braços para ele se jogar em mim. O abracei apertado, sentindo seu cheirinho de shampoo infantil e o calorzinho do seu corpinho pequeno contra o meu. — Estava com muita saudade de você, meu amor — murmurei contra seus cabelos macios.— Eu também, mamãe... — ele disse, com a voz embargada de sono, mas cheia de amor.O peguei no colo, sentindo
Enzo AlbuquerqueO som abafado do motor do carro parecia acompanhar o turbilhão dentro da minha cabeça. Minhas mãos apertavam o volante com força enquanto eu dirigia de volta ao restaurante, com o estômago revirando a cada quilômetro percorrido. Não consegui ficar em casa. Muito menos conseguiria dormir com toda a bagunça que havia acontecido naquela noite. Ana foi embora. E junto dela, se foi também a sensação de que ainda tínhamos alguma chance. Estacionei em frente ao restaurante. As luzes ainda estavam acesas, e era claro que minha mãe ainda estava lá, provavelmente regozijando-se pela vitória mesquinha que havia conquistado. Saí do carro, batendo a porta com força, e caminhei decidido até a entrada. O lugar estava vazio, o salão ecoava o som dos meus passos apressados. Encontrei minha mãe sentada em uma das mesas, mexendo no celular com a expressão de quem não tinha feito absolutamente nada de errado. — Espero que esteja satisfeita — falei, sem preâmbulos. Ela levantou
Ana Luiza MartinelliAs horas no trabalho pareciam se arrastar, mas eu não me permitia desviar do foco. Cada tarefa que surgia, cada e-mail pendente, cada documento para revisar, eu resolvia com a mesma dedicação de sempre talvez até mais. Mergulhar no trabalho era a minha fuga, o único jeito de manter minha mente longe da bagunça emocional que havia se instalado depois da última noite.Estava digitando uma planilha de orçamento quando o celular começou a vibrar sobre a mesa. Olhei de relance para o visor e vi o nome de Richard. Respirei fundo antes de atender.— Alô? — atendi, mantendo o tom neutro.— Ana! — a voz animada dele me alcançou do outro lado da linha, carregada daquele entusiasmo típico que sempre me fazia sorrir, mesmo quando eu não queria. — Tudo bem por aí?— Tudo — respondi, embora soubesse que aquela resposta era mais para mim mesma do que para ele.— Estou te ligando porque... — ele começou, e pelo tom percebi que vinha um pedido. — Eu sei que é meio em cima da hora,
Encarei aquela mulher, incrédula. Não acredito que ela está fazendo isso novamente.— Agradeço a oferta, mas não vou pedir demissão só porque você quer. — Ela me encarou de forma gélida.— Para o seu bem, acho melhor aceitar. Você sabe muito bem do que sou capaz.— Eu não sou mais aquela moça ingênua de anos atrás. Saiba que, se me atacar, receberá de volta.Quando ela estava prestes a abrir a boca, meu irmão apareceu. Assim que viu quem estava na minha sala, me encarou.— O que essa mulher está fazendo aqui, Lu? Você está bem?— Estou sim, Gabby. A Eloise já estava de saída.— Te darei uma semana para pensar. E, se quiser, aumento a oferta.Ela se levantou e pisou em algo. Logo vi que era um dos bonecos do Nando. Ela olhou para o brinquedo, e eu olhei para o meu irmão.— Dá pra parar de pisar no meu item de colecionador? — ele disse.— Ah, sim! Desculpe, não sabia que um homem como você brincava de bonecos.— O que eu faço não é da sua conta. Agora, se retire da casa da minha irmã.E
(Anos Atrás)Ana Luiza Martinelli A chuva castigava a cidade naquela noite, mas nada poderia se comparar à tempestade dentro de mim. O barulho das gotas contra o vidro da sala ecoava, abafando o som dos meus próprios pensamentos, mas não era o suficiente para silenciar a dor que se espalhava pelo meu peito.Meus dedos tremiam enquanto seguravam o celular, meus olhos fixos na tela, como se, a qualquer momento, aquela imagem fosse desaparecer. Como se, de alguma forma, eu pudesse acordar desse pesadelo.Mas a foto continuava ali. Ele continuava ali.Enzo.O homem que eu amava. O homem em quem confiei sem hesitar. O homem que, agora, estava estampado na tela do meu celular... com outra mulher.Ela sorria para a câmera, uma expressão de pura satisfação, e ele estava ao lado dela. Perto o suficiente para que qualquer desculpa fosse inútil. Seus braços envolviam sua cintura de um jeito íntimo demais para ser um mal-entendido.Meu coração batia forte, não por amor, mas por raiva, por incred
(Seis Anos Depois)Os corredores de vidro refletiam minha imagem conforme eu avançava, os saltos ecoando em um ritmo preciso, como um lembrete do caminho que trilhei até ali. O passado já não pesava mais sobre meus ombros, e a menina insegura, que uma vez trabalhou como auxiliar de serviços gerais para ajudar a família, agora não existia mais. No lugar dela, havia uma mulher confiante, determinada e, acima de tudo, implacável. Os funcionários desviavam o olhar quando eu passava, alguns cumprimentavam com um aceno respeitoso, outros cochichavam entre si, admirados ou intimidados. Eu sabia o que diziam,sabia o que pensavam. Ana Luíza Martinelli não era apenas a nova diretora-executiva, mas também a mulher que nunca aceitava um "não" como resposta. Meu nome já não estava vinculado à humildade do passado, mas à força que conquistei no presente. Ao entrar na sala de reunião, senti os olhares recaindo sobre mim. Alguns eram de respeito, outros, de inveja. Os diretores masculinos foram r