Capítulo 7°

Valentim entrou no seu apartamento e suspirou aliviado. Sentia-se tenso, sem conseguir digerir tudo o que havia lhe acontecido nos últimos minutos. Vinham muitas perguntas na sua mente :" Quem o estava seguindo? E porque? E o que aconteceu com aquele carro preto que o seguia? ,"

Ele nem parou para tentar entender tudo o que se passava, queria se livrar da perseguição. Era nítido que queriam apagá-lo.

" Querem calar a minha voz! Com certeza é coisa de Don Salvatore! Não vai conseguir nunca! "— eram pensamentos que vinham enquanto Valentim batia na mesa de vidro com a força das mãos.

— Não vai me calar maldito!— ele gritou.

Suspirou nervoso e continuou com voz cansada:

— Valentim Paganini não se calará!

Salvatore estava deitado ao lado da esposa. Gioconda estava preocupada:

— Está sem sono amore?— ela quis saber.

Salvatore suspirou olhando para o teto e disse:

— Eu era apenas um motorista, não era um mafioso, querida!

Gioconda se virou abraçando o marido e disse encostanda a cabeça no seu peito:

— Eu sei querido. Eu era apenas uma garota boba. Gostava de acreditar que um mafioso se apaixonaria por mim. No fundo eu sabia.

Salvatore se virou para a esposa lembrando-se que não foi apenas ela que ele enganou.

— Ma toda moça gostava de ter um mafioso come namorado!— ele disse pensativo.

Gioconda franziu a testa. Misturar os idiomas era sinal de nervosismo.

— Teve outra ragazza Salvatore? Me traiu naquele tempo?— ela quis saber.

Salvatore engoliu em seco. Como esquecer Graziella Paganini. Uma mulher faceira que virou a sua cabeça. Estava para largar a família e assumir aquela paixão, quando veio a chacina e matou a sua amada. O pior era pensar que era a sua culpa. Achava que o irmão de Graziella que vivia metido com Don Paolo Vicenzo, traiu a organização passando informações a máfia inimiga. Aquele maledetto atraiu o ódio dos Sorrentinos e a culpa caiu sobre ele, mas a polícia italiana ligou o seu envolvimento com Graziella àquela tragédia e passou a lhe perseguir. Tentavam encontrar provas que o incriminasse enquanto a máfia inimiga exterminava a sua família aos poucos. Quando Gioconda engravidou, ele passou a se preocupar mais com o futuro do que restou da sua família, mas ainda esperou Nina completar dois anos para decidir ir embora do seu país.

— Amore!— a voz de Gioconda lhe trouxe para a realidade.

Salvatore piscou algumas vezes tentando afastar a imagem de Graziela que vinha a sua mente com insistência.

— Eu não tive culpa!— ele disse emocionado como se estivesse diante da mulher amada de outrora.

— Ma io sei Salvatore! Tente esquecer o passado amargo!— Gioconda disse tentando acalmá-lo quando ela mesma não o perdoava pelas suas perdas.

— Eu fiquei amigo de um rapaz daquela família, Gioconda. — Salvatore confessou.

Gioconda olhou surpresa para o marido, mas esperou ele continuar:

— Ele traiu a organização que eu estava. Ma io tenho certeza disso!

Gioconda ficou pensativa e assentiu com a cabeça apenas. Se recordava de que aquela amizade do marido lhe fez perder toda a família mais próxima na Itália. Foi um tempo muito difícil. Chegou a se culpar por ter levado Salvatore para a sua família

— Vamos dormir amore! Vamos esquecer essas coisas tristes!— ela disse se virando de costas e deixando as lágrimas escorrerem livremente.

Salvatore pensava em Valentim. Esse jovem jornalista, idealista, estava fora do seu caminho. Era a única pedra no seu sapato.

Ele suspirou e adormeceu com a certeza de que se livrou do seu pior inimigo.

Enquanto isso, Nina voltava para o seu quarto e se deixava cair sobre o seu leito, exausta.

— Meu amor, eu consegui te salvar!— ela sussurrou sorrindo.

Aos poucos o seu sorriso foi se esvaindo ao se lembrar de Susan. Aquela mulher parecia apaixonada pelo seu Valentim. Ela era mulher e podia ver nos olhos da outra que havia um interesse, algo além de amizade. Mas e ele? Estaria também interessado nela?

Nina rolou na cama e demorou a dormir pensando na possibilidade de Valentim ter alguém.

Não sabia, mas precisava aparecer para ele. De preferência sem ligar o seu rosto ao nome do pai.

Estava decidida a se aproximar do seu amado antes que outra o fizesse.

No dia seguinte, as notícias já estavam fervendo logo cedo.

No café da manhã, Salvatore lia os jornais e estava transtornado.

— O que foi amore? Aconteceu alguma coisa?— Gioconda indagou curiosa.

Salvatore largou o jornal na mesa, esfregou as mãos sobre os olhos e disse contrariado:

— O infeliz não morreu!

Gioconda arregalou os olhos surpresa e indagou:

— Mandaste matar o maledetto? Non acredito nisso, han Salvatore!

Nina comia tranquilamente mas dava pra se ver seu contentamento.

Giulia observava a neta com olhar severo para que ela se controlasse diante do genro.

Gioconda começou a falar alterada:

— Ma ficou louco, Salvatore? Que cabeça há? Quer destruir o que sobrou de nostra famíglia!

Salvatore ficou a observar a esposa largar o guardanapo na mesa com violência e se levantar nervosa.

Gioconda subiu as escadas chorando.

— Viu papá, deixou a mamma nervosa por uma vingança à toa.

Salvatore suspirou e olhou para a sogra angustiado e disse num fio de voz:

— Ma io non tô na Itália! Non tô enfrentando nenhuma organizzazione, há? É só um rato, capisce?

Nina revirou os olhos e subiu atrás da mãe, Giulia fez o mesmo.

Salvatore ficou confuso.

— Ma que droga de Valentim! Per que non mataram esse maledetto de uma vez?— ele desabafou.

Luca chegou agitado e Salvatore nem o deixou falar, foi falando aos berros:

— Ma io já sei Luca! Os homens que mandei matar o rato estão mortos!

— Si Don Salvatore!— Luca fingia surpresa.

Salvatore suspirou e disse:

— Vá benne! O máximo que pode acontecer é aquele rato me acusar de tentativa de homicídio, mas isso io aguento han!

Luca assentiu com a cabeça e Salvatore continuou a falar:

— Ma agora, Luca, devo organizzare un matrimonio per mia figlia!

Luca ergueu os olhos assustado.

Nina descia as escadas nesse momento e parou boquiaberta.

Salvatore virou-se para olhar para a filha e sorriu.

— Ao menos tenho uma boa notícia para você filha! Tuo padre vai arrumar un bellissimo matrimonio per te.

Nina suspirou ao descer as escadas. Gostaria de falar todos os palavrões que aprendeu com o seu pai, tipicamente italianos.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo