Capítulo 6°

Francesca falava cheia de ódio:

— Ma eu sei de tuto! A mia irmã se apaixonou pelo motorista mafioso. Aquele Salvatore maledeto! Má eu disse para ela non querer ele, hein? O mio irmão já havia falado com ele e ele jurou que non ia deixá-la. Ma ele já era casado, aquele rato!

Valentim fechou o punho com ódio e esmurrou a parede.

— Maldito Salvatore! Ele e toda a sua família!

A mãe de Valentin, nasceu na Itália e veio para o Brasil por causa do seu marido que também era italiano mas depois de uma viagem de férias, se apaixonou pelo Rio de Janeiro. Valentim nasceu aqui no Brasil e sabia pouco sobre máfia até que houve a chacina com a família da mãe. Francesa, estava viúva nesse tempo, seu marido faleceu de uma pneumonia e ela ficou cuidando sozinha da quitanda, da onde vinha o seu sustento e do filho pequeno, e depois desse episódio, decidiu viver no anonimato. Evitava falar a sua língua de origem e pediu ao filho para usar um sobrenome fantasia. Dourado é o sobrenome que ela criou e para que o filho entendesse, ela disse que um dia ele poderia ser um galã da televisão e poderia usar o nome que quisesse. Ele achava engraçado, mas não era bobo, sabia que a mãe tinha medo deles serem descoberto e fossem alvo de vingança pela Máfia inimiga. Difícil para ele, era entender porque a família simples da mãe teve aquele fim trágico, se Salvatore não era tão importante na sua organização. Dissipar uma família inteira só porque ele se envolveu com uma moça. Ainda havia lacunas naquela história. A resposta podia estar na conduta do irmão mais velho da mãe. Ele apresentou Salvatore para a tia. De onde ele o conhecia, se não era mafioso? Ou se era e ninguém sabia, porque a máfia a que Salvatore fazia parte iria querer destruir a família dele? E se o tio traiu a máfia de Salvatore e por isso o próprio quis se vingar ? Mas porque mataria a sua tia com quem tinha um relacionamento? E porque Salvatore também teve a família perseguida? Ou não, ele era perseguido pela polícia?

Valentim esmurrou a parede mais uma vez, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

O telefone tocou e lhe trouxe de volta a realidade

Ele atendeu e teve que ouvir o sermão da mãe:

— Ma io já te falei que non quero que tuo fale no nome di quello rato, hein Valentim? Ma per que Tui tinha que afrontar quel maledetto!

Valentim suspirou impaciente.

— A senhora prometeu não falar mais em italiano e já faz mais de vinte anos!— ele disse revirando os olhos.

Houve um silêncio e Valentim riu baixinho. Ele sabia que a mãe estava preparando o discurso em português, mas quando ficava nervosa, isso era quase impossível.

Valentim ouviu a mãe suspirar e afastou o telefone do ouvido, sabia que vinha chumbo grosso.

— Valentim! Você sabe que esse Salvatore Bergamaschi é perigoso! Você está brincando com fogo! Se o seu pai estivesse vivo, te daria umas boas palmadas!

Valentim virou o rosto para o lado, afastando ainda mais o aparelho de celular.

Francesca não parava mais de falar:

— Ele vai te perseguir, como fez com a nossa família! Se ele descobre o teu verdadeiro sobrenome, sabe que ele nos mata, capisce?

Valentim riu ao ouvir a mãe terminar o sermão com uma palavra em Italiano.

— Compreendeste Valentim?— ela insistiu

— Sim mãe, claro!— ele disse se esforçando para ficar sério.

Francesca ficou em silêncio, depois suspirou longamente e disse com tristeza:

— Se algo de ruim acontecer contigo filho, eu morro! Eu sei que não vou aguentar viver com isto. Já perdi toda a minha família e você foi tudo o que me restou nesta vida!

Valentim baixou a cabeça sentindo-se culpado e apenas disse:

— Desculpa mãe! Eu não queria deixá-la assim.

— Va bene!— Francesca disse suspirando conformada.

— Eu te amo mãe!— Valentim disse emocionado.

Francesca parecia sorrir satisfeita quando disse:

— Spero che Dio mandi un angelo per proteggerti figlio mio!

— Mãe…— Valentim reprovou a mãe.

— Va bene, filho! Espero que Deus mande um anjo para te proteger, é isto!

Valentim sorriu brincalhão quando a mãe desligou.

Ele se voltou para a janela e olhou o mar pensativo:

" Deve ter um anjo que me protege"

E tinha mesmo. Um anjo capaz de tudo para protegê-lo. Um anjo em forma de mulher.

— O quê? Você quer proteger o maledetto? Porque Nina?— Luca falava desesperado sem acreditar.

Nina estava nervosa e impaciente. Falava olhando fixamente para o homem:

— Isso mesmo! Não quero que nada aconteça a Valentim! Você vai me deixar a par dos planos do seu patrão!

Luca se alterou:

— Don Salvatore nunca iria me perdoar!

Nina rebateu:

— Ele nunca vai saber Luca! Anda, descobre logo, antes que seja tarde!

O homem engoliu em seco e se dirigiu ao escritório do patrão.

— Don Salvatore! Precisa de alguma coisa! O que temos para hoje?— Luca disse olhando em volta procurando parecer tranquilo e indiferente.

Don Salvatore inclinou-se para frente apoiando as mãos na mesa e declarou:

— Vamos pegar o rato hoje Luca! Vamos acabar com ele! Vamos esperá-lo na saída do trabalho. Deixei uns homens esperando por ele. Vigiando até ele sair.

Luca arregalou os olhos curioso e argumentou:

— Não é muito arriscado Don Salvatore, todos vão desconfiar do senhor, pois o maledetto lhe acusou por esses dias!

Salvatore se encostou na cadeira trazendo o corpo de volta, dizendo sorrindo malicioso:

— Ma nem na Itália conseguiam me incriminar! Imagina aqui no Brasile!

Luca olhou pensativo para o patrão, lembrando-se das palavras de Nina.

— Quantos homens tem lá?— ele quis saber.

Salvatore deu de ombros e respondeu enquanto manuseava coisas na sua mesa:

— Só dois, mas fortemente armados. Vai ser fácil! Vão seguí-lo e jogar o carro dele numa ribanceira!

Luca sorriu sem graça, fingiu estar à vontade com aquela situação e depois retirou-se.

Nina o esperava na sala.

— E aí Luca?— ela falava ansiosa.

O homem olhou para trás, para se certificar de que o patrão não os escutava e fez sinal para que Nina o acompanhasse até o Jardim.

Ela o seguiu, até que ele parou num determinado lugar seguro.

— Ele deixou dois homens na porta do trabalho do rato!— Luca disse em voz baixa.

Nina arregalou os olhos e já se precipitou a sair correndo.

— Calma Nina! — Luca disse segurando o seu braço.

Nina suspirou impaciente.

— Vou matá-los!— ela disse fria.

— Vão seguí-lo depois do trabalho e jogar o carro dele pra fora da estrada. — Luca contou gesticulando calmamente.

Nina apenas assentiu com a cabeça e saiu andando em direção a casa.

Luca a seguia falando:

— Vou com você! Não vou deixá-la sozinha, está agindo com o coração! O maledetto nem te conhece.

Nina parou nervosa.

— Não precisa! Dou cabo dos dois!— ela disse seca.

Luca insistiu:

— Ma io vai de qualquer jeito!

Nina suspirou vencida e sorriu. Ela sabia que Luca não iria desistir. Se começava a misturar os idiomas, não tinha jeito, era tempo perdido para discutir.

Inocente, Valentim terminava mais um dia de trabalho.

Susan o acompanhou até o carro.

— Não deveríamos ter saído para conversar um pouco? Está fugindo de mim?— ela falava sorrindo balançando a chave do carro.

Valentim entrou no seu carro sorrindo enquanto respondia:

— Outra hora Susan! Hoje estou cansado!

Ele saiu com o carro e Sasan foi atrás. Pararam na frente do prédio ainda se falando.

— Tem certeza, não quer mesmo tomar um café?— Susan insistiu.

Valentim apenas meneou a cabeça sorrindo.

Os dois homens os observava com binóculos, encostados no carro e Nina que já os tinha reconhecido, falava para Luca:

— Quem é aquela mulher, Luca? Porque está se derretendo pra ele?— ela indagou curiosa.

Valentim subiu o vidro, deu partida no seu carro e Susan seguiu por outra direção.

Nina observava bufando de ciúmes.

— Vamos logo Luca!— ela disse entrando no carro.

Os dois homens à mando de Salvatore, já seguiam atrás de Valentim.

Num certo momento, o rapaz se deu conta de que estava sendo seguido e começou a acelerar.

Valentim entrou e saiu por ruas estreitas tentando se desviar da perseguição, mas eles encostavam cada vez mais.

— Vamos surpreendê-los, Luca!— Nina disse virando o volante do carro bruscamente.

— Essa brincadeira de gato e rato já foi muito longe!— ela disse entrando num beco onde estacionou o carro. Os dois saíram com armas em punho e esperaram. Quando Valentim passou, eles dispararam contra o carro dos dois homens, que acabaram por bater num poste.

Valentim seguiu e Nina foi com Luca averiguar se os homens estavam mortos.

— Estão mortos Nina!— Luca disse depois de examinar os corpos.

Nina apenas olhou procurando por Valentim. O olhar perdido e o coração aliviado por ter salvo a vida do seu amado.

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