Capítulo 5°

Salvatore tinha um brilho no olhar que assustou a filha.

— Papá, não está pensando…

Salvatore a interrompeu:

— Não estou pensando em nada Nina! Me deixe, han!

Giulia correu para ajudar o genro a se levantar.

— Melhor ir descansar no seu quarto Salvatore! Precisa pensar na sua saúde em primeiro lugar.— ela falava olhando para a neta, enquanto amparava o genro.

Nina cruzou os braços, pensativa, enquanto Giulia e Salvatore subiam as escadas.

Ela nem percebeu quando a avó voltou e assustou-se ao ouvi-la falar:

— Nina, o que passa, hein? Tu parece estar com a cabeça nas nuvens!

Diante do silêncio da neta, ela se aproximou e percebeu que a neta estava cabisbaixa e pensativa, começou a falar andando em círculo ao redor dela:

— Ma o que passa Nina! Tuo ficou deste jeito desde que tuo padre ficou irritado com esse maledito deste Valentim, ma tuo pode pensar que me engana má tuo no me enganar, capisce?

Nina suspirou e voltou a ficar de costas para a avó.

— Nonna, ele vai matar o Valentim! Eu não posso deixar!— ela disse com o olhar perdido.

Giulia deu a volta procurando os olhos da neta. Ela assustou-se ao constatar que Nina amava o inimigo do próprio pai.

— Mio Dio!— ela exclamou cobrindo a boca com as mãos.

Nina deixou as lágrimas caírem e não disse nada. Nem precisava, Giulia a abraçou, lhe confortando enquanto dizia:

— Madonna mia! Mio Dio! Enton é ele! Má é ele o dito cujo, han! Io non vou aguentar isto Nina! Mia bambina, apaixonada pelo o moço da tela! Ma isso é castigo, han!

Nina se afastou com os olhos triste e disse a sua nonna:

— Eu o amo nonna, sempre amei!

Giulia olhou perplexa para a neta e disse aflita:

— Ma ele é um maledito, Nina! Ele quer destruir o tuo papá!

Nina secou as lágrimas, depois começou a falar gesticulando muito:

— Eu não posso deixar ele matar o Valentim. Eu vou morrer junto, nonna! Eu não vou permitir que ninguém o machuque! Nem um fio de cabelo dele será tocado.

Nina se virou com o seu olhar frio e foi até a grande janela que dava para o jardim.

Giulia se aproximou falando assustada:

— Ma io non estou te reconhecendo, Nina! Este Valentim quer destruir o tuo padre! Tuo non se importa com ele? Quase infartou hoje!

Nina se virou para a avó e Giulia viu nos olhos da neta tanto sentimento que não conhecia quando ela começou a falar impaciente:

— Eu o amo, nonna! Eu não vou deixar ninguém matá-lo, nem mesmo o meu papá! Eu sou capaz de qualquer coisa por ele. Eu mato e morro por ele!

Giulia deu um passo para trás assustada.

— Ma até matar o tuo padre?— ela quis saber.

— Não!— Nina respondeu rápido e alterada.

Giulia começou a andar pela sala procurando digerir o que acabava de ouvir e então parou para dizer olhando para a neta, preocupada:

— Ma tuo padre não é de brincadeira e esse ragazzo já passou dos limites! Que pensa fazer, hein Nina?

Nina engoliu em seco e olhou para os lados nervosa antes de responder:

— Não sei nonna!

Giulia viu a neta suspirar e percebeu o seu sofrimento, então abriu os braços e disse:

— Mas tuo só precisa mesmo é de um abraço da tua nonna! Vem Nina, vem para tua nonna, vem!

Nina correu para o abraço caloroso da sua avó, como se fosse a única porta de saída que encontrasse naquele momento.

As duas ficaram abraçadas por um tempo, depois subiram as escadas, seguidas pelos olhares curiosos das criadas.

Enquanto isso, na redação da emissora de televisão, Valentim, como sempre, era muito elogiado.

— Nossa Valentim, você viu a audiência? Subimos muito! Você estava demais hoje!— Era o elogio do chefe. O homem estava excitado gesticulando muito.

Valentim não parecia impressionado com os elogios, escutava a tudo com o olhar perdido.

O homem saiu da sala sorridente e uma colega de trabalho se aproximou falando:

— Não tem medo desse mafioso, Valentim? Não está exagerando um pouco? Deixe a polícia investigá-lo!

Valentim se servia de um café numa cafeteira expressa e virou-se segurando a sua xícara enquanto respondia:

— Você não tem noção do quão má é este Salvatore Bergamaschi!

Susan franziu a testa e se encolheu curiosa.

— Nossa, parece pessoal!— ela exclamou.

Valentim andou nervoso e se sentou numa cadeira para tomar o seu café.

Susan o acompanhou com o olhar.

— É pessoal?— ela quis saber.

Valentim bebeu todo o seu café e se retirou. Foi até um camarim e pegou o seu casaco. Um colega estava sendo preparado para entrar no ar e enquanto arrumavam o seu cabelo, ele comentou:

— Arrasou, hein Valentim! A audiência pipocou!

Valentim voltou-se para o colega, com o seu casaco na mão, pensou em dizer algo, mas desistiu e foi embora.

No estacionamento, encontrou Susan próxima ao seu carro.

— Não quer conversar? — ela disse preocupada. Falava com voz suplicante.

Valentim sentia-se sufocado. Ficou um tempo olhando a colega e disse angustiado:

— Hoje não Susan!

A moça ficou parada enquanto Valentim entrava no seu carro e dava partida. Ela ainda inclinou-se para que ele abaixasse o vidro.

Ele o fez e a encarou com os seus olhos cansados.

— Podemos conversar, fora do trabalho, qualquer dia desses?— ela insistiu num fio de voz.

Valentim tentou sorrir. Parecia estar vendo a colega pela primeira vez. Susan era tão bonita e inteligente. Os colegas falavam que ela era apaixonada por ele, mas nunca percebeu qualquer insinuação da sua parte.

Ela sorriu e aceitou o seu silêncio como um sim e saiu em direção ao seu carro.

Valentim tinha a cabeça apoiada no encosto do seu banco e ficou acompanhando os passos da colega. Susan parecia desfilar naquele vestido preto, colado no corpo, os cabelos longos e pretos.

Ele a viu parar e lhe sorrir antes de entrar no seu carro e ele lhe sorriu de volta. Os olhos castanhos escuros da moça, brilhavam sob a maquiagem discreta e os lábios finos e delicados lhe chamaram a atenção pela primeira vez.

Valentim também era um homem muito atraente. Alto, esbelto e porte elegante. Os cabelos negros, assim como os olhos e um rosto bem definido. Andava sempre em trajes sociais por causa do seu trabalho como jornalista e apresentador.

Chegou ao seu apartamento, seu ninho. Não era muito grande, mas estava localizado num bairro nobre da cidade e tinha vista para o mar.

Ele suspirou olhando a imensidão daquelas águas e o seu pensamento foi muito longe. Tinha quinze anos apenas quando se lembrava de ouvir o choro da sua mãe. A dor dela era tão grande que não conseguia falar.

Valentim, atencioso, queria ajudá-la de alguma forma, mas ela chorava copiosamente. Só depois de muito tempo ela conseguiu desabafar a sua dor:

— Mia famiglia, filho! Toda mia família destruída, de uma só vez! Un massacro, uma chacina!

Valentim se lembrava que sentiu um ódio tão grande quando a sua mãe falou o nome de Salvatore Bergamaschi pela primeira vez.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo