Mundo de ficçãoIniciar sessãoEssa era uma das perguntas que eu mais temia, que me mantinha acordado à noite ensaiando respostas.
Sebastian, no entanto, não hesitou nem por um segundo:
— Oliver começou a trabalhar como meu secretário há dois anos. Devo admitir que no início eu era... excessivamente exigente. Impossível, até.
— Ele fez uma pausa, um sorriso tocando seus lábios. — Mas ele sempre mantinha a calma, mesmo quando eu estava sendo completamente impossível de lidar.
Ele me olhou então, virando-se ligeiramente, e havia algo no seu olhar que fez meu coração pular.
— Acho que me apaixonei pela sua paciência infinita primeiro. Pela forma como ele nunca desistia, não importa o quanto eu testasse seus limites.
Mentira linda, perfeitamente construída, contada com uma naturalidade tão impressionante que até eu quase acreditei por um momento.
Quase deixei meu coração idiota acreditar.
— Que romântico — suspirou Catherine dramaticamente, levando a mão ao peito, os olhos brilhando. — Richard também era meu chefe quando nos conhecemos, não é querido? Então eu entendo completamente.
Richard riu baixo, um som genuinamente afetuoso:
— A diferença é que Catherine era muito, muito mais esperta que eu desde o primeiro dia. Me mantinha na linha. — Ele olhou para mim com gentileza. — Oliver, você deve ter muita paciência mesmo para aguentar este aqui.
Eu estava prestes a responder algo — qualquer coisa para preencher o silêncio — quando minha mãe interrompeu com aquela voz afiada que eu conhecia tão bem:
— Oliver sempre foi... dedicado ao trabalho. Não é como Christopher, que sempre soube exatamente o que queria da vida desde pequeno.
O comentário caiu como uma pedra pesada no meio da mesa, quebrando o clima leve.
Destruindo o momento.
— Mãe — Chris disse baixo, com tom claro de aviso.
— O que foi? É verdade. — Ela se virou para Catherine com um sorriso forçado que não alcançava os olhos. — Christopher é nosso filho mais velho.
Médico cirurgião respeitado, casado com uma modelo internacional. Sempre foi o orgulho da família Miller.
Victoria pareceu visivelmente desconfortável, mexendo nervosamente no guardanapo de linho sobre o colo.
Chris segurou a mão dela firmemente e me olhou com uma expressão carregada de desculpas silenciosas.
Senti meu rosto esquentar violentamente de vergonha pura.
Ali estava ela novamente — minha mãe fazendo o que fazia de melhor.
Diminuindo-me. Humilhando-me. Na frente de pessoas importantes.
— Bem — disse Sebastian, e havia uma frieza cortante em sua voz que eu nunca havia ouvido antes, perigosa como gelo quebrando — acho que Oliver é bastante excepcional. Extraordinário, na verdade.
Ele fez uma pausa deliberada, seus olhos fixos na minha mãe.
— Não conheço muitos secretários que conseguiriam gerenciar uma empresa do tamanho e complexidade da Blackwood Industries com tanta eficiência impecável. Ele é indispensável.
Meus pais pareceram genuinamente surpresos com a defesa direta, os olhos arregalando.
— Claro, claro — meu pai se apressou em concordar, claramente desconfortável. — Nós somos muito orgulhosos do Oliver também. É só que... bem, Christopher sempre foi mais...
— Tradicional? — Sebastian sugeriu com ironia cortante, erguendo uma sobrancelha.
O silêncio constrangedor que se seguiu foi tenso, pesado, até Richard diplomaticamente mudar de assunto para negócios seguros, e a conversa finalmente fluiu mais naturalmente depois disso.
Mas eu notei — percebi claramente — como Sebastian observava tudo com aqueles olhos escuros atentos e analíticos.
Cada comentário sutil e venenoso dos meus pais.
Cada vez que eles elogiavam Chris enquanto me ignoravam completamente.
Cada momento em que eu encolhia um pouco mais na cadeira, tentando desaparecer.
Ele via tudo.
E estava arquivando cada detalhe na mente.
Horas depois — horas que pareceram dias — estávamos no meu quarto na casa dos meus pais.
Era constrangedoramente pequeno comparado ao que Sebastian provavelmente estava acostumado — cama de solteiro apertada, escrivaninha simples cheia de arranhões, algumas prateleiras cambaleantes de livros.
Basicamente o quarto congelado no tempo de um adolescente, não de um homem de vinte e sete anos.
Sebastian estava de pé perto da janela que dava para o jardim dos fundos, ainda de terno, mas havia tirado o paletó e afrouxado a gravata, os primeiros botões da camisa abertos.
Parecia cansado. Exausto, até.
Humano.
— Sinto muito — eu disse pela terceira — quarta? — vez naquele dia interminável, sentado rigidamente na borda da cama com as mãos entrelaçadas. — Por tudo isso. Por ter te arrastado para dentro dessa bagunça. Por ter te colocado nessa situação impossível.







