4: A nova realidade
POV OLIVER
Três dias.
Foram necessários apenas três dias para que eu arrumasse toda a minha vida em duas malas e algumas caixas.
Vinte e sete anos de existência cabiam surpreendentemente em muito pouco espaço.
Talvez isso dissesse algo sobre mim que eu preferia não analisar muito profundamente.
O apartamento de Sebastian ficava no Upper East Side, em um dos prédios mais exclusivos de Manhattan.
Quando o porteiro me cumprimentou pelo nome — Sebastian já havia me cadastrado como "residente" — senti um frio no estômago.
Aquilo estava se tornando real demais, rápido demais.
O elevador privativo subiu silenciosamente até o último andar.
Quando as portas se abriram diretamente na sala de estar do apartamento, tive que segurar a respiração.
Era... deslumbrante.
Janelas do chão ao teto ofereciam uma vista panorâmica da cidade, móveis de design que provavelmente custavam mais que meu salário anual, e uma decoração em tons de cinza e branco que gritava sofisticação.
Tudo impecavelmente organizado, tudo caro, tudo muito... Sebastian.
— Conseguiu se instalar bem?
Me virei. Sebastian estava saindo de um dos corredores, vestindo uma camiseta branca simples e calças de moletom cinza.
Era a primeira vez que eu o via sem terno, e por um momento esqueci como respirar.
Ele parecia mais jovem assim, mais... acessível.
— Sim — consegui responder. — Obrigado por... por tudo isso.
Ele acenou com a cabeça, caminhando até a cozinha americana.
— Café?
— Por favor.
Observei-o preparar duas xícaras com movimentos precisos e eficientes.
Até fazendo café ele era elegante.
— Precisamos conversar sobre algumas coisas — disse ele, me entregando uma xícara de porcelana fina. — Sobre como isso vai funcionar.
Meu estômago se contraiu.
— Claro.
Nos sentamos no sofá — ele em uma extremidade, eu na outra, mantendo uma distância respeitosa.
— Primeiro — começou Sebastian, segurando a xícara com as duas mãos —, este apartamento tem três quartos. O master é meu. O segundo quarto é seu agora — já coloquei algumas coisas básicas lá. O terceiro é um escritório.
Eu assenti, tentando não demonstrar o alívio que senti.
Quartos separados. Obviamente.
— Segundo, em público, manteremos as aparências necessárias. Em casa...
Ele fez uma pausa.
— Somos dois adultos dividindo um espaço. Civilizadamente.
— Entendi.
— Terceiro, e mais importante — seus olhos escuros me fixaram com intensidade —, no escritório, eu sou seu chefe e você é meu secretário. Nada mais, nada menos. Não pode haver confusão entre nossa vida... pessoal e profissional.
A palavra "pessoal" soou estranha vinda dele, como se ele não tivesse certeza de como classificar nossa situação.
— Sebastian, eu nunca...
— Sei que não — ele me interrompeu gentilmente. — Mas é importante estabelecer isso desde o início. Esta... situação não pode afetar nosso trabalho.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, bebendo nossos cafés.
A tensão no ar era quase palpável.
— Quanto tempo? — perguntei finalmente.
— Como assim?
— Quanto tempo vamos manter isso? O casamento, eu digo. Sebastian colocou a xícara na mesa de centro, pensativo.
— Tempo suficiente para que não pareça suspeito quando nos separarmos. Um ano, talvez dois.
Um ano. Ou dois.
Vivendo essa farsa, fingindo ser algo que não éramos.
— Certo — murmurei.
A manhã seguinte foi... estranha.
Acordei cedo, como sempre, mas o apartamento era silencioso de uma forma diferente da casa dos meus pais.
Aqui, o silêncio era caro, isolado do mundo por vidros duplos e paredes grossas.
Quando cheguei à cozinha, Sebastian já estava lá, impecável em seu terno azul marinho, lendo algo no tablet enquanto bebia café.
— Bom dia — disse ele sem levantar os olhos.
— Bom dia.
Preparei minha própria xícara de café, consciente de cada movimento. Tudo parecia amplificado — o barulho da colher mexendo o açúcar, o som da geladeira quando peguei o leite, minha própria respiração.
— Vamos sair em quinze minutos — Sebastian anunciou, ainda focado na tela.
— Claro.
Tomamos o café em silêncio.
Eu tentava ler as expressões do seu rosto, mas ele mantinha aquela máscara profissional que eu conhecia tão bem.
Era como se os últimos dias não tivessem acontecido, como se nada tivesse mudado.
Mas tudo havia mudado.
A viagem de carro até o escritório foi igualmente silenciosa. Sebastian dirigia com a mesma precisão com que fazia tudo — focado, controlado.
Eu ficava olhando pela janela, tentando processar o fato de que agora íamos e voltávamos do trabalho juntos.
Como um casal de verdade.
Quando chegamos ao prédio da Blackwood Industries, senti meu estômago se revirar.
Como as pessoas iam reagir? O que elas iam pensar?
— Lembra-se do que conversamos — Sebastian disse baixinho quando entramos no elevador. — Profissionalismo.
Assenti, mas já podia sentir os olhares curiosos dos outros funcionários que dividiram o elevador conosco.
Sussurros discretos, olhadas de esguelha.
Meu coração começou a acelerar.