Capítulo 5

Quando chegamos ao nosso andar — o último, onde ficavam os escritórios executivos — as coisas pioraram.

Sarah, a recepcionista, me cumprimentou com um sorriso que não chegou aos olhos:

— Bom dia, Sr. Miller. Ou devo dizer... Sr. Blackwood agora? Senti meu rosto esquentar.

— Miller está ótimo.

Sebastian passou direto por nós rumo ao seu escritório, como fazia todas as manhãs.

Nenhum reconhecimento especial, nenhum olhar carinhoso. Profissionalismo total.

Sentei-me na minha mesa, tentando focar nas tarefas do dia. Mas era impossível ignorar os sussurros que vinham de outras mesas.

"...casou com o chefe..."

"...sempre soube que ele era interesseiro..."

"...obviamente está atrás do dinheiro..."

"...que coincidência, né? O secretário se casando com o CEO..."

Minha respiração começou a ficar mais curta, o peito apertado.

As mãos tremiam levemente enquanto eu tentava digitar um e-mail.

Interesseiro. Oportunista. Gold digger.

Era isso que eles pensavam de mim.

O telefone tocou, me fazendo pular.

— Escritório do Sr. Blackwood — atendi, tentando manter a voz firme.

— Miller — era a voz de Sebastian pelo interfone —, preciso que você venha aqui.

Levantei-me com pernas bambas e caminhei até o escritório dele.

Quando fechei a porta atrás de mim, Sebastian estava de pé perto da janela, de costas para mim.

— Sente-se — disse ele sem se virar.

Obedeci, sentando-me numa das cadeiras em frente à mesa.

Ele se virou e me estudou com aqueles olhos penetrantes.

— Você está bem?

— Estou.

— Oliver.

Havia algo no tom da sua voz que me fez olhar para ele diretamente.

— Estou bem, Sebastian. Por quê?

— Porque você parece estar prestes a ter um ataque de pânico.

A observação me pegou desprevenido.

Será que era tão óbvio assim?

— Eu... estou só um pouco cansado.

— Está sendo difícil? Os comentários?

Então ele havia ouvido também. Claro que havia ouvido.

— Não é nada que eu não possa lidar — menti.

Sebastian suspirou e se aproximou, se apoiando na beirada da mesa.

— Oliver, você precisa entender uma coisa. As pessoas sempre vão falar. Sempre vão especular. Faz parte de estar em uma posição como a minha... nossa.

— Eu sei.

— Não — ele balançou a cabeça. — Não acho que você sabe. E tudo bem — você não deveria ter que saber. Mas agora precisa aprender.

Senti minha garganta apertar.

— Estou tentando.

— Sei que está. Mas você precisa separar as coisas. Aqui dentro deste escritório, quando estivermos trabalhando, você é meu secretário.

Ponto final. As pessoas podem pensar o que quiserem sobre nossa vida pessoal, mas isso não pode afetar seu trabalho.

Ele estava certo, é claro. Sempre estava.

— Você consegue fazer isso? — perguntou ele, sua voz mais gentil agora.

— Consigo — respondi, tentando soar mais confiante do que me sentia.

— Bem.

Sebastian voltou para trás da mesa.

— Preciso que você remarque minha reunião das três para as quatro. E que peça para o pessoal do financeiro enviar os relatórios trimestrais até o fim do dia.

— Claro.

Levantei-me para sair, mas sua voz me parou na porta.

— Oliver?

— Sim?

— Isso vai ficar mais fácil. Com o tempo.

Não tive certeza se ele estava falando sobre o trabalho ou sobre nossa situação como um todo.

Mas assenti mesmo assim.

O resto do dia passou numa névoa de telefonemas, e-mails e tentativas de ignorar os olhares curiosos.

O resto do dia passou numa névoa de telefonemas, e-mails e tentativas de ignorar os olhares curiosos.

Levei café para Sebastian na hora certa, organizei seus compromissos, atendi suas ligações.

Por fora, estava funcionando perfeitamente.

Por dentro, sentia como se estivesse se despedaçando lentamente.

Quando Sebastian saiu para sua última reunião do dia, finalmente permiti que minha fachada caísse um pouco.

Apoiei o rosto nas mãos e tentei respirar fundo.

— Com licença?

Levantei a cabeça.

Emma, uma das secretárias do departamento de marketing, estava de pé ao lado da minha mesa com um sorriso falso.

— Oi, Emma.

— Então... é verdade? Você e o Sr. Blackwood?

Meu estômago se revirou.

— É verdade o quê?

— Vocês se casaram mesmo? Ou é só mais um rumor?

Senti o ar ficando mais pesado ao meu redor.

— Emma, eu...

— Porque, sabe — ela continuou, se inclinando mais perto —, algumas pessoas estão dizendo que é meio suspeito. Um secretário se casando com o CEO assim... do nada.

— Não foi do nada — consegui dizer, minha voz saindo mais fraca do que eu gostaria.

— Claro que não — ela sorriu, mas havia malícia em seus olhos. — Tenho certeza de que vocês se amam muito.

A ironia em sua voz era inegável.

Senti meu peito apertar, a respiração ficando irregular.

As palavras começaram a se embaralhar na minha mente.

— Eu... preciso...

— Emma.

A voz fria de Sebastian cortou o ar como uma lâmina.

Ela se endireitou imediatamente, o sorriso falso desaparecendo do rosto.

— Sr. Blackwood. Eu estava apenas...

— Conversando com meu secretário quando ele claramente tem trabalho a fazer — ele terminou por ela.

— Sugiro que você volte para sua própria mesa.

Emma saiu rapidamente, murmurando desculpas.

Sebastian me olhou por um longo momento.

— Meu escritório. Agora.

Levantei-me com pernas trêmulas e o segui.

Quando ele fechou a porta, senti como se o ar tivesse sido sugado da sala.

— Sente-se — disse ele gentilmente

Desabei na cadeira, tentando controlar a respiração que estava ficando cada vez mais rápida e superficial.

— Oliver, olhe para mim.

Levantei os olhos com dificuldade.

— Respire comigo. Devagar. Inspire... expire...

Seguindo suas instruções, lentamente consegui regularizar a respiração.

A sensação de sufocamento diminuiu, mas o tremor nas mãos permaneceu.

— Melhor?

Assenti, incapaz de confiar na minha voz.

Sebastian se ajoelhou ao lado da cadeira, ficando na minha altura.

— Isso vai parar. Os comentários, as provocações. As pessoas vão se acostumar e encontrar outra coisa para fofocar.

— E se não pararem? — sussurrei.

— Então eu me certificarei de que parem — ele disse, e havia uma dureza em sua voz que me fez acreditar que ele realmente faria isso.

Ficamos em silêncio por alguns minutos.

Lentamente, senti meu corpo relaxar.

— Vamos para casa — Sebastian disse finalmente, se levantando. — Você já fez o suficiente por hoje.

Casa.

A palavra soou estranha vinda dele, mas também... reconfortante. Enquanto ele desligava o computador e organizava alguns papéis, tentei me recompor.

Profissionalismo. Era isso que ele queria, era isso que eu tinha que dar. Mas enquanto saíamos do escritório juntos, uma coisa ficou clara: fingir ser casado com Sebastian Blackwood estava cobrando um preço muito mais alto do que eu havia imaginado.

E nós ainda estávamos apenas no começo.

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