Mundo de ficçãoIniciar sessãoEle se virou lentamente para me olhar, apoiando-se no parapeito da janela:
— Você já se desculpou o suficiente, Oliver. Mais que suficiente.
— Mas é que... meus pais são... — Parei abruptamente, não sabendo como explicar sem soar ainda mais patético.
— Difíceis — ele terminou por mim, sua voz neutra. — Eu percebi. Claramente.
Ficamos em silêncio por um momento carregado.
— Eles sempre foram assim com você? — perguntou Sebastian, sua voz mais suave agora, quase gentil. — Sempre te trataram dessa forma?
— Não é nada demais — eu disse rápido demais, defensivo, desviando o olhar para minhas mãos. — Eles só... têm expectativas diferentes para mim e para o Chris. Sempre tiveram.
— Oliver. — Havia algo em sua voz que me fez olhar para ele novamente contra minha vontade. — Você não precisa mentir para mim. Não depois de tudo que aconteceu hoje. Não faz sentido.
Senti minha garganta apertar dolorosamente.
— Eles não são pessoas ruins — sussurrei, defendendo-os automaticamente como sempre fazia. — Só... nunca souberam lidar comigo sendo... diferente. Errado.
Sebastian se aproximou lentamente e se sentou na cadeira da escrivaninha, virando-a para ficar de frente para mim, joelhos quase se tocando:
— E você acha que é culpa sua? Que você é o problema?
A pergunta me pegou completamente desprevenido, como um soco.
— Eu... não é culpa de ninguém — murmurei fracamente.
— Isso não foi o que eu perguntei.
Olhei fixamente para minhas mãos, incapaz de encontrar seus olhos:
— Às vezes sinto que se eu fosse mais como Chris, se tivesse feito escolhas diferentes, melhores... se eu não fosse gay... eles poderiam realmente me amar.
Me aceitar.
— Oliver. — Sua voz era firme agora, quase severa. — Olhe para mim.
Relutantemente, forçando-me, levantei os olhos.
— Não há nada de errado com você. Absolutamente nada.
As palavras foram ditas com uma convicção tão absoluta, tão inabalável que senti meu peito se apertar de uma maneira estranha e dolorosa.
— Eu precisei mentir para eles sobre ter um namorado — sussurrei, minha voz quebrando. — Que tipo de filho adulto precisa mentir sobre algo tão básico?
— O tipo que tem pais que o fazem se sentir inadequado por ser exatamente quem é — ele respondeu sem hesitar, sem piscar.
— Pais que deveriam te amar incondicionalmente mas escolhem não fazer isso.
Ficamos nos encarando por um momento longo e intenso, e senti como se ele estivesse vendo muito mais de mim do que eu jamais gostaria de mostrar a alguém.
Vendo todas as minhas feridas.
Todas as minhas cicatrizes invisíveis.
— Bem — ele disse finalmente, se levantando e pegando o paletó das costas da cadeira —, amanhã você pode tirar a manhã livre para arrumar suas coisas.
Vamos precisar manter as aparências convincentemente, então... você vai ter que se mudar para meu apartamento.
Realidade.
Ali estava ela novamente, fria e inescapável.
— Sebastian — eu comecei hesitante —, sobre isso tudo... as regras, as expectativas, os limites...
— Conversamos sobre isso amanhã com calma — ele me interrompeu gentilmente mas com firmeza. — Foi um dia longo demais para nós dois.
Ele caminhou até a porta, mão na maçaneta, então parou e se virou para mim uma última vez.
— E Oliver? — Seus olhos encontraram os meus. — Pare de se desculpar constantemente.
Nós dois nos metemos nessa situação. Agora precisamos descobrir como sair dela... ou como torná-la funcional. Juntos.
Depois que ele saiu, fechando a porta suavemente atrás de si, fiquei sentado completamente sozinho no meu quarto pequeno e sufocante, olhando fixamente para a aliança de ouro branco reluzente no meu dedo.
Pesada.
Real.
Permanente.
Em menos de vinte e quatro horas insanas, minha vida inteira havia mudado irrevogavelmente.
E a única coisa que eu sabia com absoluta certeza era que Sebastian Blackwood era ainda mais complicado, mais misterioso, mais impossível de entender do que eu jamais havia imaginado.
E agora eu estava legalmente casado com ele.
Deus, o que eu fiz?







