Capítulo 04 - Raquel

Merda. Merda. Saio do banho correndo, nem deu tempo de secar o cabelo. Merda de novo. Calma, Raquel. Respira fundo, vai dar tempo. Não estou tão atrasada assim. Aproximo-me da minha escrivaninha, ligo a tela do celular para ver a hora. Faltam dez minutos, merda! Merda!

Jogo o celular na cama, vou para o meu closet para ver logo essa roupa. Bora, Raquel! Não vai ficar indecisa agora, né? Coloco uma calça social preta, pego uma blusa de cetim rosa claro colocando dentro da calça para parecer séria – tentar ao menos –, agora está faltando o sapato, acho que scarpin cairia bem, mas cadê esse sapato?

Droga. Esse quarto está uma bagunça, quando chegar do trabalho vou dar uma geral, parece aqueles quartos daqueles solteirões que a gente assiste nos filmes. Procuro embaixo da cama e nada. Cadê esses benditos sapatos? Então paro no meio do quarto e tento lembrar onde eu deixei pela última vez? É isso.

Corro pra sala, vou para estante do lado esquerdo... Achei! Ufa, que bom. Depois eu penso como eles foram parar ali? Neste momento tenho que voltar para o quarto e terminar de me arrumar. Cinco minutos depois já estou pronta e maquiada, saio do apartamento e vou até o elevador. Não sei o porquê tenho a impressão que estou me esquecendo de alguma coisa.

Ignoro isso, por sorte acaba de subir o elevador, não vou chegar atrasada. Também estão duas senhorinhas com um cachorrinho esperando o elevador. Assim que me aproximo, dou uma olhada para os meus pés.

Sabia que estava esquecendo alguma coisa. Esqueci de colocar a porra dos sapatos. Caralho! Caralho!

Começo a gritar de raiva. Nesse momento as duas velhinhas e o cachorrinho me olham com desaprovação. Volto para o apartamento e ignoro aquelas senhoras, vou para o quarto e coloco os benditos sapatos, dessa vez estavam perto da cama. Pronto.

Dou mais uma olhada para ver se não estou esquecendo de mais nada. Ufa... Está tudo ok. Saio do apartamento, vou pro elevador, já dentro da caixa metálica aperto o botão para ir ao estacionamento, nesse período olho a hora no celular.

São nove horas? Merda! Estou atrasada. Inferno! Saio do elevador, vou correndo para o meu carro, já dentro dou uma respirada, coloco o cinto e ligo o carro. Tento me acalmar. Imprevistos acontecem. Vai que o trânsito esteja bom, posso chegar rapidinho. Isso, pensamento positivo.

***

Droga. Não estou com sorte. Pego um baita engarrafamento só para piorar a minha vida. Bato no volante do carro de raiva, meu celular começa a tocar, o trânsito está parado mesmo, não vai ser problema falar no telefone. É a Patrícia. Estava querendo desabafar mesmo.

— Oi, Patrícia, estava pensando em você — Encosto no banco do carro, olhando para o trânsito. — Você não vai acreditar o que aconteceu comigo?

— O que foi? — pergunta, dá para ouvi-la roendo as unhas. — Fala logo. O Fabrício não deixou você ir pro trabalho?

— Pelo contrário, amiga, ele me deu apoio por ter conseguido o trabalho. — De repente a linha fica muda, olho pra tela para ver se não caiu, mas ela continua na linha. — Patrícia? Patrícia?

— Oi, estou aqui. Desculpa. Fiquei sem ação depois dessa atitude dele, tenho que dizer que seu namorado subiu no meu conceito. Espera aí, são nove e dez, você não devia estar no trabalho? — Noto que o engarrafamento se dissipou. Essa é a minha chance. Pego no volante, engato a marcha e em seguida piso no acelerador. Acho que dará tempo. Escuto alguém chamando, lembro que estava no telefone com a Patrícia. 

— Desculpe, amiga, estava um trânsito horrível agora melhorou. E sim, estou atrasada. Está dando tudo errado pra mim hoje, ontem foi o Fabrício... Hoje é esse trânsito infernal... — Choramingo, igual uma criança de cinco anos.

— Calma, Raquel. Vai dar tudo certo, tá? Respira fundo e depois solta o ar. — Faço que ela disse e aos poucos me acalmo. — O que o Fabrício fez? Achei que ele te deu apoio? Que aceitou você trabalhar? Estou confusa? — questiona.

— Sim, ele deu apoio, que estava feliz por ter conseguido o trabalho. Mas ele começou a falar que merecia algo melhor... — digo, prestando atenção na estrada. 

— Isso é verdade. — Ela me corta.

— Como estava dizendo. — Ignoro seu comentário. — Continuando, ele disse que merecia aquela oportunidade, pelas noites em claro estudando, quando estava fazendo a minha graduação.

— Isso tenho que concordar... Só um instante, fui eu que disse isso! — ela comenta, solto o ar concordando, não quero discutir quem "disse isso primeiro". Sem enrolação, explico o que o meu namorado fez comigo. Bom, a mancada que ele deu.

— Não acredito! Ele não fez isso? É sério? — exclama, não acreditando no que o meu namorado fez. — E ainda teve a cara de pau de pedir dinheiro? Puts, que vacilo. Parece até um garoto de programa.

— Patrícia! — Chamo a sua atenção. — Também não exagera, o Fabrício não é um garoto de programa. — Estou chegando à empresa, viro à esquerda e sigo em frente.

— Claro que não, o garoto de programa termina o trabalho! — Patrícia caçoa.

— Nossa, que engraçado. — Escuto-a rindo no fundo da linha.

Finalmente cheguei. Afasto o celular do ouvido para falar com o porteiro. Apresento-me como a nova secretária executiva da Montenegro Advocacia, e liberam a minha entrada. Volto a colocar o celular no ouvido.

— Foi mal, não resisti. Tudo bem, ele ter perdido o trabalho, mas agora não conseguir fazer um sexo oral decente? Amiga, termina com esse cara. Nem vale a pena continuar com um cara assim! — Tudo bem, que ele vacilou comigo, mas não preciso terminar, não é?

— Por favor, não fala assim. Isso acontece, você sabia? — Estou dando a segunda volta no estacionamento... E acho uma vaga, na primeira fileira à esquerda, atrás de um carro preto que acabou de estacionar.

— Essas coisas acontecem? Fala sério? Você tem que conhecer um gostosão e dar uma boa foda para esquecer esse seu namorado! — brinca com malícia, fecho os olhos cansada dessa conversa.

Sem perceber acelero e acabo batendo na traseira do carro preto. Abro os olhos e vejo a burrada que fiz. Merda! Merda!

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