O rosto de Elsa empalideceu quando ouviu minhas palavras.
Então ela correu até mim e agarrou minhas mãos, implorando com uma voz chorosa e cheia de pena:
— Me desculpa, Jennifer. Eu esqueci de te contar que sou alérgica a nozes.
— Eu caí do telhado quando era filhote, e desde então, minha memória nunca mais foi a mesma. Eu juro que esqueci de verdade!
— Por favor, não fica brava comigo, Jennifer. Você pode fazer outro sabor pra mim, não pode?
Ver aquele sorriso falso e manipulador me deu enjoo.
Eu me lembrava perfeitamente da primeira vez que fiz bolo de nozes pra ela — eu não fazia ideia da alergia.
Fiz aquilo com toda a boa intenção do mundo, querendo criar um laço de amizade.
Só porque ela comentou por acaso que gostava de bolo de nozes, eu insisti em tentar dezenas de vezes, mesmo queimando minhas mãos.
Mas eu não desisti. Aguentei a dor e finalmente consegui assar o bolo perfeito — por ela.
No fim, Elsa desmaiou por causa da alergia.
Quando recobrou a consciência, se jogou nos braços dos nossos pais, chorando:
— Mamãe, papai, por favor, não culpem a Jennifer! Ela se esforçou tanto só pra fazer um bolo pra mim!
— Ela até disse que não teria problema se eu comesse só um pedacinho!
— Por favor, não castiguem ela! A culpa foi minha — eu que fui gulosa demais!
Sob os olhares acusadores dos meus pais, eu fiquei parada ao lado da cama dela, sem saber o que dizer.
— Eu não sabia que a Elsa era alérgica a nozes. — Murmurei. — Ela nunca me contou...
Mas, em vez de compreensão, tudo o que recebi foi a fúria implacável do meu pai — gritos, insultos, e um rosto distorcido pelo ódio.
Seu lobo tinha perdido o controle. Com as garras expostas, ele quase me acertou quando socou a parede ao meu lado.
Minha loba se encolheu, apavorada.
Aquela cena me deixou uma cicatriz mais profunda que qualquer ferida.
Desde aquele dia, minha loba nunca mais se sentiu segura.
Ele me olhou com desprezo escancarado e rugiu:
— Todo mundo nessa casa sabe da alergia da Elsa! Por que só você não sabia?
— Não tenta enganar a gente com essas mentiras patéticas! Eu sei muito bem por que você fez isso — foi inveja porque a gente ama mais ela!
Depois disso, fui trancada no porão. Três dias inteiros de inferno.
Sem comida. Sem água. Sem luz. Sem ar.
Quando me soltaram, minha loba mal respirava.
Meus lábios estavam rachados e sangrando. Eu ouvia minha loba chorando de dor dentro de mim.
Ao lembrar daquele pesadelo, respondi friamente:
— Não tenho tempo pra fazer bolo. Faz você mesma — ou compra numa loja.
Elsa se agarrou ao meu braço com força, a voz trêmula de medo:
— Eu não quero comer de novo, Jennifer. Por favor, não fica brava comigo, tá bom? Você é a melhor irmã mais velha do mundo. Eu não posso te perder!
Mas enquanto ela falava, eu vi — um brilho de ódio em seus olhos.
As garras dela se enterraram mais fundo na minha pele, afundando lenta e deliberadamente. A pressão aumentava a cada palavra.
Uma dor aguda percorreu meu braço, e antes que eu conseguisse me soltar, ela desabou no chão — como se eu a tivesse empurrado.
Meus pais e William entraram em pânico assim que a viram cair.
Minha mãe correu, a levantou do chão e começou a examinar seus ferimentos com desespero.
Parecia que Elsa tinha batido a cabeça. Ela se apoiou mole nos braços da minha mãe, chorando baixinho:
— Mãe... minha cabeça... tá doendo muito. Será que vou perder a memória de novo?
William tocou suavemente o machucado dela e começou a acariciá-lo com cuidado. Então se virou pra mim, com um olhar carregado de decepção e acusação.
— Como você pôde ser tão cruel, Jennifer? Você me decepcionou — completamente.
O lobo do meu pai soltou um rosnado furioso.
Num piscar de olhos, ele avançou — e antes que eu pudesse reagir, fui derrubada pela força da sua raiva descontrolada.
Ele não queria me acertar. Mas acertou.
E naquele instante, percebi algo assustador —
até o lobo do meu pai me via como inimiga.
— Sua loba sem vergonha! — Ele rugiu.
— Se você não tivesse empurrado ela do telhado, ela estaria bem agora!
— A gente nunca teria tido você se soubéssemos que você se tornaria alguém tão cruel!
— Vai pro seu quarto — agora — e reflita sobre o que fez!
Por causa do impacto violento, ouvi minha loba gemer fraco dentro de mim.
A voz dela estava quebrada e quase sem vida quando sussurrou:
— Eu... eu não consigo mais me levantar.
Até os uivos dela perderam a força — como se o espírito dela estivesse se partindo por dentro.
Minha mãe pareceu ouvir a dor no lamento da minha loba. Por um breve segundo, um traço de compaixão passou por seus olhos.
Mas no momento seguinte, os soluços altos de Elsa desviaram sua atenção mais uma vez, e ela se virou sem hesitar para confortar a outra.
Eu me esforcei pra levantar, com as pernas tremendo, apoiando as mãos contra a parede.
Cambaleando, me arrastei de volta pro meu quarto.
Não me sentei pra refletir sobre minha "culpa".
Em vez disso, tirei em silêncio a pequena bolsa que tinha preparado em segredo.
Quando eles me viram sair com o pacote, ficaram chocados — depois zombaram.
— Ah, vai fugir de casa de novo? Vai repetir a palhaçada?
— Jennifer, por que você não entende seus pais? A gente só te castiga porque se importa. A gente só quer que você aprenda com seus erros.
— Se você não consegue admitir que errou, então nem pense em voltar pra essa toca!
As palavras deles me atingiram como vento gelado, mas meu coração já tinha virado pedra.
Fui ferida fundo — vezes demais.
Eles já tinham dito “não volte mais” tantas vezes que eu até perdi a conta.
E dessa vez, eu não ia implorar pra ficar.
Não havia mais nada pra mim naquela casa — nenhum amor, nenhum calor, só dor e lembranças amargas.
Sem olhar pra trás, saí da toca.
Foi então que meu pai pegou uma garrafa e a lançou no chão com toda a força da sua raiva.
O estilhaço estrondoso me paralisou.
Instintivamente virei o rosto — e cacos de vidro voaram direto em mim. Um deles cortou minha testa.
O sangue quente começou a escorrer, lento e constante, embaçando minha visão — me lembrando, mais uma vez, que a dor ainda era muito real.
Mas eu não cedi.
Me virei pra encarar todos eles, com a voz firme, afiada e fria:
— Não tenho mais nada que me prenda a esse lugar. Se pra vocês eu sou só uma vergonha —
então vou cortar todos os laços. Pra sempre.
— Como se atreve! O que você está dizendo?! — Rugiu meu pai.