Fui infectada com corrosão por poeira de prata depois de cair em uma mina de prata há dez dias. O curandeiro insistiu para que eu recebesse tratamento na enfermaria.
No entanto, quando cheguei lá, me informaram que todos os curandeiros haviam sido enviados para a linha de frente — a alcateia estava em guerra com clãs vizinhos.
Sem outra opção, recorri aos meus pais em busca de ajuda.
Depois que meu pedido de ligação mental foi ignorado pela vigésima vez, agarrei meu relatório de corrosão e fui até o Conselho dos Lobisomens.
— Olá. Gostaria de solicitar a remoção de todos os meus registros pessoais do banco de dados da Alcateia... com antecedência.
A conselheira me lançou um olhar cheio de compaixão e perguntou suavemente:
— Pobrezinha... você não tem nenhum membro da família para ficar ao seu lado?
Assim que ela terminou de falar, meus pais entraram furiosos — logo atrás deles vinha Elsa.
Meu pai não hesitou nem por um segundo.
No instante em que me viu, explodiu —
Sem hesitação.
Sem perguntas.
Sem chance de explicação.
Apontou o dedo na minha cara e rugiu:
— Você armou essa palhaçada só pra ofuscar a Elsa e chamar nossa atenção?
Sua voz tremia de raiva.
— Você tem ideia de quantos guerreiros foram retirados da linha de frente por causa do seu egoísmo?
— Você é uma vergonha — uma desgraça! — Cuspiu ele.
— Pra filha de um Beta, você não tem um pingo de vergonha!
Fiquei parada ali, atordoada — completamente congelada.
Minha loba tremia com o choque da explosão repentina dele.
Demorei alguns segundos pra lembrar que dia era.
Claro.
Era a primeira transformação de Elsa. O chamado ritual de “maioridade”.
Meu pai tinha tirado dois dias inteiros de folga — só pra comemorar com ela.
E eu? Sua filha de sangue — quase morta por corrosão de poeira de prata — tinha tentado se comunicar com ele vinte vezes através do elo mental, apenas implorando por um curandeiro.
Mas em vez de ajuda, fui condenada por desperdiçar os recursos da Alcateia. Uma vergonha. Um fardo pra Alcateia.
Porque pra ele, eu não era filha. Eu era peso morto. Um estorvo.
As lágrimas brotaram nos meus olhos assim que ouvi aquelas palavras.
Toquei minha bochecha ardendo e tentei me explicar:
— Pai, eu não...
— Ainda tá se defendendo? — Ele gritou.
Minha mãe arrancou o relatório da minha mão e deu uma olhada rápida. Seu desprezo foi mais frio que a poeira de prata corroendo meu corpo.
— Você forjou isso só pra chamar nossa atenção? Parabéns, conseguiu! O grande dia da Elsa foi totalmente arruinado — por sua culpa!
— Você mente desde que era uma lobinha. Por que diabos acreditaríamos em você agora?
A raiva dela transbordou. Quando levantou a mão pra me bater, Elsa correu pra impedir.
Lágrimas brilhavam nos olhos de Elsa enquanto ela implorava, a voz frágil e suave.
— Me desculpa, Jennifer… Eu não queria te machucar com o ritual de transformação. Por favor, não minta mais pros nossos pais, tá bem? Eles já estão tão cansados de tudo que você fez. Se você parar de mentir, eu juro — faço tudo que você quiser.
Minha mãe a puxou para um abraço e gentilmente enxugou suas lágrimas — lágrimas que deveriam ser minhas.
Ver aquele carinho entre elas foi como levar uma faca no peito.
Fiquei ali, paralisada, a mente girando, enquanto o sangue quente escorria do meu nariz. Enxuguei com as costas da mão e me virei novamente para a conselheira.
— Já faz muito tempo que eu não tenho uma família. — Disse com a voz rouca. — Por favor, removam todas as minhas informações do registro da Alcateia. Meu funeral está marcado para daqui a três dias.
Meu pai caiu na gargalhada no mesmo instante em que ouviu isso, os olhos brilhando com um sarcasmo cruel.
— Que piada! Você realmente envolveu o conselho nesse circo — só pra estragar o ritual da Elsa? Inacreditável!
— Você vai pagar por isso, Jennifer! E não ouse dizer a ninguém que é minha filha!
Dito isso, ele se virou e foi embora sem olhar para trás. Minha mãe o seguiu, com Elsa atrás deles como a filha querida que era.
Depois de terminar a papelada sozinha, voltei para nossa toca — sozinha.
Me restavam três dias de vida.
Enquanto eu lutava sozinha contra a corrosão da poeira de prata, apagando minha existência dos registros da Alcateia, meus pais erguiam taças em homenagem à gloriosa transformação da filha adotiva.