Capitulo 09

Sammy

Entrei em casa uma hora e meia depois com os pés acabados de tanto correr. Eu corri por um bom tempo e quando cansei, peguei um táxi. Eu estava com o rosto inchado de tanto chorar e quis me bater. Meu pai estava sentado na poltrona quando eu entrei e levantou os olhos pra me observar.

— Você contou. — ele disse sorrindo de leve, se levantou vindo pro meu lado e me abraçando.

— Contei... — sussurrei contra seu peito. — E não dei tempo para ele falar. Eu fiquei assustada e saí correndo. Fui uma idiota, pai.

— Tudo bem, querida. É normal. — ele disse acariciando meu cabelo. — Vai ficar tudo bem.

Fiquei um tempo abraçada com ele, desejando apenas o calor de seus braços e me acalmei. Conversamos por um bom tempo antes de eu decidir que estava na hora de dormir. Tomei banho e vesti meu pijama azul claro com meias rosas. Me deitei na cama e pela primeira vez desde que entrei em casa, peguei meu celular.  Haviam três ligações e duas mensagens de Marcus. Respirei fundo e abri as mensagens hesitante.

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Marcus:

Onde você se meteu?

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Marcus:

Temos que conversar, Samantha.

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Mordi o lábio e amarrei os cabelos em um rabo de cavalo. Digitei uma mensagem, mas acabei não enviando e mandei outra em seu lugar.

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Sammy:

Suponho que sim.

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Desliguei o abajur ao lado da cama e fui pra debaixo das cobertas. As noites em Manassas eram um pouco frias, mas em Chicago era quase congelante. Um minuto depois meu celular tremeu e eu li a mensagem.

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Marcus:

Você “supõe ”?? Sério? Você diz que está grávida e depois sai correndo. Que tipo de pessoa maluca faz isso? Onde você está? Eu estou indo até você.

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Sammy:

Em casa.

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Marcus não mandou mensagem de volta e eu bufei irritada. Ele estava com raiva, isso era certo. Me levantei da cama e pensei em trocar de roupa, mas desisti e desci as escadas. A casa já estava escura e eu ascendia as luzes de baixo. Era uma boa coisa estarem todos dormindo. Coloquei água pra mim e bebi tudo. Eu estava tremendo levente e precisava me acalmar. Abri a geladeira e passei uns instantes olhando pra ela pensando no que pegar. Sorri de lado para a tigela de sorvete caseiro e a peguei. Me sentei no sofá com uma colher na mão e a tigela de porcelana azul no colo. Quase trinta colheradas cheias de sorvete depois, ouvi um carro estacionando e uma porta batendo com força. Engoli o sorvete rapidamente e pulei pra fora do sofá. Eu estava parecendo uma coisa horrível de pijama largo e uma tigela nas mãos, sentia minha boca suja e sabia que tinha sorteve no meu queixo. Marcus bateu com força na porta e eu corri pra abrir com a tigela na mão.

Eu abri e olhei pra ele. Marcus estava vermelho e me olhava com os olhos azuis brilhando. Ele me olhava do alto e me senti como uma criança que acabara de fazer uma coisa bem ruim. Virei as costas e fui pra cozinha. Coloquei a tigela no balcão e me sentei no banco. Marcus entrou devagar na casa e fechou a porta atrás de si. Ele ficou encarando a porta por um tempo, colocou as mãos nos bolsos e respirou fundo várias e várias vezes antes de me seguir calado pra cozinha. Ele se sentou no banco à minha frente e ficou de braços cruzados me vendo comer o sorvete. Eu não conseguia parar de comer, estava nervosa com o olhar dele sobre mim e comer estava me ajudando.

— Você está grávida? — ele me perguntou.

Afirmei com a cabeça e peguei um guardanapo pra limpar a boca.

— Eu descobri há uns dias atrás. — disse. — Esse foi um dos motivos da nossa mudança pra Chicago.

Marcus fechou os olhos e respirou fundo.

— Samantha...

— Eu vou ter o bebê. — disse apressada. — Minha mãe cogitou o aborto assim que descobrimos e eu mandei ela se danar por isso. Não cogite, Mar.

Pedi a ele quase sussurrando e ele abriu os olhos para me olhar. Eu não tinha ideia do que se passava nos olhos dele, só podia ver confusão clara neles.

— E não vou. Mas o que vamos fazer, Samantha?

— Não sei, mas se você não... — eu olhei pra baixo enquanto falava. — Se não quiser se envolver, tudo bem. Ele vai ser feliz comigo e com minha família. Não vai faltar nada.

— É meu filho, minha responsabilidade. Eu não vou fugir como um adolescente idiota. — ele disse insultado e eu dei um suspiro de alívio que disfarcei com um bocejo. — Está com sono?

— Talvez.

Marcus tirou a colher de mim, a enfiou na tigela e pegou uma colher gorda de sorvete. Levou até a boca e comeu. Lambi os lábios sem ter ideia do que fazia e fuzilava os lábios dele. Marcus limpou a garganta atraindo minha atenção para longe de seus lábios.

— Gostoso. — disse sobre o sorvete.

Você é mais, disse mentalmente.

— Sorvete caseiro. — respondi engolindo em seco. — Sean e eu adoramos fazer.

Ele concordou e passamos um tempo em silêncio olhando pra tigela de sorvete. Olhei para o relógio no meu celular e estava marcando dez e quarenta da noite. Marcus se levantou.

— Tenho que ir. — disse me olhando como se esperasse que eu disse algo.

— Okay. — disse e devolvi a tigela a geladeira.

A paguei as luzes da cozinha e o acompanhei até a porta. Marcus se virou pra mim quando estava lá fora.

— Você quer que eu venha amanhã? Pra conversarmos?

— Amanhã eu tenho aula e depois vou pra casa da Branna. — respondi querendo dizer sim imediatamente. — Talvez terça?

— Claro. — ele sorriu minimamente e foi pro carro.

Fechei a porta e desliguei a luz quando ele se foi. Não dormi bem, como era de se esperar. Eu não tirava da cabeça os olhos dele, os lábios, o corpo sob o meu enquanto ele fazia movimentos pra dentro e fora de mim. Acordei respirando com dificuldade e suada. Me sentei na cama e ouvi meu celular apitando. Marcus havia me mandando uma mensagem vinte minutos atrás.

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Marcus:

Não consigo dormir.

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Sorri um pouco. Somos dois, grandão.

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Sammy:

Também não.

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Marcus:

Qual o seu motivo?

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Sammy:

Tesão e você?

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Eu ri baixinho no escuro com minha brincadeira 99% verdadeira e quase dois minutos depois ele me respondeu.

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Marcus:

Não pode me dizer essas coisas, Samantha. Por favor, não diga.

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Meu sorriso morreu nos lábios e engoli minha raiva ao ler sua mensagem. 

— É assim que vai ser não é, seu filho da mãe escroto? — falei pro celular e o desliguei. — Então vá se danar!

Me forcei a dormir, mas eu estava tão cheia de sentimentos idiotas que passei a noite toda me virando de um lado pro outro na cama até o dia amanhecer.

* * *   * * *

Branna e eu estavamos jogadas no chão da casa com Snow no nosso meio. Nos comiamos uma salada de frutas que Matilde nos fez enquanto conversavamos sobre meu primeiro dia de aula. Não foi dos melhores já que a puta da Elizabeth apareceu para nos encher e perguntar sobre o garoto Dane. Rosie e Lexie eram um amor, Thomas era ainda melhor. Mas eu quase bati a cabeça dele na calçada várias vezes por ficar se humilhando por uma faísca de carinho da parte de Rosie. Ele passava minutos inteiros olhando pra ela de queixo caído e a garota nem se importava. Branna me disse que com o tempo eu iria me acostumar com eles, mas eu duvidei.

John e Dean estavam na cozinha com Matilde e Tiago. Catarina estava fora fazendo alguma coisa que segundo Branna era idiotice, e Daphne estava dormindo no quarto. A casa estava silenciosa e era preenchida pelos nossos risos e brincadeiras. Snow estava enorme e linda, muito hiperativa e inteligente.

— Então... — Branna disse se sentando no chão. — Você e o Marcus vão ficar juntos?

Eu revirei os olhos e me sentei.

— Não. Só vamos ter um filho juntos e nada mais. Nem conversamos sobre isso ainda. Eu contei pra ele ontem. Ainda deve estar se acostumando.

— É. — ela concordou fazendo carinho na barriga de Snow. — Mas você quer?

— É como perguntar para um viciado se ele quer droga. — ironizei. — Claro que eu quero, mas não quero que ele fique comigo porque vou ter um bebê. Quero que ele fique comigo por me amar. É pedir muito?

— Não. — Branna sorriu. — Você sabia que sua vida ia virar de cabeça pra baixo quando o conheceu não é?

Sorri me lembrando do dia.

— Eu sabia que iria se eu permitisse e quando vi ele no seu aniversário, nunca quis nada na vida como quis ele. — abaixei a cabeça e acariciei o focinho de Snow. — Eu queria ficar com ele pra sempre. E agora estou grávida dele e isso é surreal.

— Nossa vida é tão maluca. — Branna disse sorrindo e perdida nos próprios pensamentos. Ela me olhou e segurou minha mão firmemente. — Eu te amo, Sammy. E estou tão feliz por você estar aqui.

— Também te amo, Branna. — disse e me aproximei para lhe beijar na bochecha com carinho. — E eu também estou feliz. 

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